ALEGRIA! ALEGRIA!
Não reconheci o seu rosto, escondido pela máscara de tela. Nem a sua voz em falsete. Se sei quem és? Não. Mas pouco importa.
A Rua Portugal lotada, os tambores, tamborins, apitos e rostos na multidão. O vai e vem de gente alegre, sorrisos rasgados, suor e felicidade. Acenos, cumprimentos rápidos, troca de olhares, alguns correspondidos, mas perdidos rapidamente. A ânsia pelo reencontro e depois, nada. Apenas carros tentando a travessia. Mas que travessia? Como atravessar a contagiante alegria? Não. Não se irrite. Não insista na buzina fora do tom. O samba não pode atravessar.
Prove a batida do Alex Kids. Relaxe. Conheça o Caravelas. Se andar no tempo, revisite o Clube 21 da Mme. Janout.
Se preferir, pare no Bar da Galeria, o café vai refazendo a coragem, a água dessalgando a boca, renovando o hálito e hidratando o corpo para novo embate.
Agora, na Galeria União, ao som dos tamancos e no ritmo da música carnavalesca, confusa, desencontrada, no duelo de foliões sem registro e identidade. Uníssona, apenas a alegria!
E lá vem mais um bloco na contramão da praça! A praça de encontros, desencontros, de famílias inteiras, de crianças livres e adultos disputando bancos para ver a banda passar.
Negas malucas de olhos de todas as cores. O dominó de cetim negro. O Clown - bate-bola das ruas -, os mascarados, o tirolês, a camponesa, o sultão, o sheik, o rei, o pierrot, o mexicano... Os mexicanos! Em sua maioria alunos do Colégio Modelo, vestindo manto e sombreiro nas ruas para brincar o carnaval de forma ordeira e pacífica. Mas as meninas não querem paz!
O Telúrica, o Bar do Gui, o Merci. Merci! Obrigado mesmo! Revisitar esse tempo em que éramos descompromissadamente felizes é como mergulhar num livro de muitos autores, em que a história individual ocupa parágrafos curtos, mas tem desfecho colossal num reinado de vários reis. É o reinado da folia!
Agora a Taberna, depois o Canton...volta! Volta ao Pandulheta! Um chopp mais. Um encontro mais. Depois o Bar Central do Sr. Mário. Sorvete de pistache, chopp da Brahma, bolinho de bacalhau. E o fio de água gelada da espirradeira anônima causando frisson nas costas.
Atravesse a rua. Há uma juventude do outro lado, com suas motos encostadas no meio fio da rua. Há o Bruno’s! Do Manoel, do Wagner e do Dadá. Hambúrguer, cheeseburguer, milkshake... como se a América fosse aqui. Não se intimide. Você faz o seu mundo em qualquer lugar!
Lulu Carne Seca vai passar. A carnavalização humana. Personagem diário de uma cidade que, freneticamente, quer crescer. Mas para que crescer? Crescer para chegar aonde? Alcançar o quê? Nunca entenderam que grande é quem tem história para contar?
Vamos lá. É hora de esperar as escolas de samba, os blocos e os ranchos. Reserve o confete. Lembre-se que a serpentina é como um mensageiro. Mire. Foque. Lance! A sorte pode estar reservada para você. E lá vem o rapaz de saia carregando o estandarte. A moça ruiva de cabelos longos e lisos com seu pareô de chita estampada, floral.
O folião anônimo empurrando o carro alegórico. O diretor de fraque e cartola. Elite por um dia, rasgando com alegria o eixo central da cidade. Somos todos iguais diferentes. Somos todos magia. Espectadores e artistas. Há festa nas janelas para aplaudir amigos. Gente conhecida no palco do samba. Há brancos e negros. Há ricos e pobres.
Vamos? Não. Eu não reconheci o seu rosto, escondido pela máscara de tela. Nem a sua voz em falsete. Quem és? Não sei. Mas podemos nos encontrar no clube. Você tira a sua máscara e eu rasgo a minha fantasia. É carnaval! É alegria!
"Quem é você, diga logo, que eu quero saber o seu jogo...
Que eu quero morrer no seu bloco, que eu quero me arder no seu fogo!”
Deixe o seu comentário