O bom velhinho
Eu acredito em Papai Noel. Sempre acreditei. Só quem teve um Papai Noel como eu tive sabe do que falo. E muitos leitores vão acabar acreditando também, porque muito deles tiveram a oportunidade de viver natais visitados por ele, o bom velhinho.
O verdadeiro Papai Noel era uma pessoa de carne e osso. Creiam. São Nicolau Taumaturgo – um arcebispo turco costumava ajudar pessoas pobres da cidade de Mira colocando moedas de ouro nas chaminés de suas casas durante a época de Natal.
Mais tarde, diversos milagres foram atribuídos a São Nicolau, levando-o a se tornar santo. Sua imagem como símbolo natalino teve origem na Alemanha, e de lá se espalhou para o mundo inteiro.
Mas não é dele que falo. Se é que me entendem. Fui criado até os 10 anos num prédio de muitos apartamentos onde se celebrava, permanentemente, os valores da amizade, da generosidade e da família. Parece careta, mas tudo isso me fez uma pessoa do bem. Papai Noel sempre me dizia que eu era um bom garoto e por isso merecia ganhar um abraço e um presente.
O prédio em que fui criado não à toa chama-se Cristo Rei. Famoso como o Edifício dos Bancários. Existe até hoje na Rua José Eugênio Müller, em frente ao Senai, cenário da minha infância e de histórias lindas de revisitar e contar.
Meu Papai Noel não usava as vestes de bispo de São Nicolau, não era um homem rechonchudo, mas era alegre e de barba branca trajando um casaco vermelho, calças vermelhas, cinto e botas de couro preto. E o que mais me impressionava era a grande amizade que o velhinho tinha com os meus pais.
Ele também não parecia vir de longe. Por certo não morava no Extremo Norte, numa terra de neve eterna. Tão pouco nas montanhas de Korvatunturi, na Lapônia, Finlândia.
Papai Noel era íntimo demais. Sorria e abraçava a mim e aos meus irmãos e quando chegava no terceiro andar, onde morávamos, subia as escadas do prédio seguido por uma enorme fila de crianças. Todas amigas.
A mulher do Papai Noel, a Mamãe Noel, tinha um nome que jamais esqueci: Isolda. E que eu imaginava viver entre incontáveis elfos mágicos e oito ou nove renas voadoras, que traziam o nosso bom velhinho na noite de Natal.
Eu ficava matutando como ele poderia saber tanto sobre nós. Em qual colégio estudávamos, que aprendíamos a nadar no Clube dos 50, que passávamos de ano direto, das malcriações, dos castigos e das brigas entre irmãos.
Era uma visita rápida. Sempre saudada com uma dose de uísque ou um cálice de vinho entre ele, o Papai Noel, e meu pai. O carinho, a palavra amiga, o sorriso bondoso e lá ia Papai Noel para outras visitas que por certo varavam a noite.
A magia da sua presença nunca nos fez correr ao pátio ou à portaria do prédio para conferir se as renas e seu trenó estavam de fato estacionadas na calçada. Nem mesmo me lembro de ficar conferindo os presentes e avaliando valores e importância. Era mágico! Mas era real!
Eu acredito em Papai Noel desde sempre. Ao crescer e começar a desbravar a floresta dos humanos, com seus truques, maldades, sentimentos ruins e violência, cada vez mais eu acreditava naquele Papai Noel. Porque além de me fazer bem, a mais feliz das crianças, ele guiava minha alma de bom menino para ser premiado no Natal seguinte.
O nome dele era Luiz Braune. O Sr. Luiz, do Cartório, do Clube dos 50, do Country, da mesa do Galeria Bar, das calçadas em sua caminhada elegante até bem pouco tempo... O Sr. Luiz, pai da Deborah e da Marcelle, que deixava o conforto do seu lar e a companhia da sua família para fazer a nossa alegria e nos fazer melhores cada vez que lembramos do eterno Papai Noel das nossas vidas.
Por isso, nobres leitores, eu ainda acredito em Papai Noel!
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