Em Duas Pedras, o medo das águas que vêm do céu e de baixo da terra

sexta-feira, 04 de novembro de 2011
por Jornal A Voz da Serra
Em Duas Pedras, o medo das águas que vêm do céu e de baixo da terra
Em Duas Pedras, o medo das águas que vêm do céu e de baixo da terra

Henrique Amorim

Os moradores do bairro Duas Pedras, um dos mais afetados pelas chuvas de janeiro, estão assustados com a proximidade dos temporais de verão. Estima-se que quase metade dos moradores tenha abandonado suas casas com medo não só de novos deslizamentos, mas, principalmente, das enchentes do Córrego dos Mosquitos, que corta todo o bairro. É uma corrente de água aparentemente inofensiva e até mesmo canalizada em alguns trechos, mas que tomou proporções assustadoras na tempestade do início do ano e pode—segundo quem mora às margens ou próximo—voltar a causar transtornos em breve, devido ao assoreamento e ao despejo de grandes volumes de água das chuvas que serão captados com a construção de uma nova galeria de águas pluviais. A obra vem sendo executada desde o mês passado pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER-RJ), na Rua Deolinda da Silva, após exigência da Justiça.

A nova galeria subterrânea que substitui a destruída pelas chuvas de 2007 atravessará a RJ-130 (Nova Friburgo-Teresópolis) e receberá toda a vazão das próximas enxurradas oriundas das gigantescas montanhas que dão nome ao bairro, aos fundos do Hospital São Lucas, que se precaveu e construiu galerias de segurança para recebimento das águas com quatro metros de largura em suas dependências. “Toda essa vazão que virá da montanha quando chegar embaixo da rodovia será estrangulada pela nova galeria que o Estado está fazendo com manilhas de um metro de largura. Se for uma tempestade muito forte, essa galeria poderá arrebentar causando um estrago enorme no bairro. Vai arrasar com Duas Pedras. Sem contar que o Córrego dos Mosquitos é muito estreito e não vai suportar tanta vazão. A água vai invadir casas e poderá até derrubá-las”, acredita Dádivo Fragoso, morador do bairro há várias décadas.

Ele observa ainda que por causa do assoreamento do Córrego dos Mosquitos várias casas das ruas Alexandre Risso e São Pedro, que margeiam o curso natural das águas, foram alagadas durante o temporal do último dia 15 de outubro. Estranguladas por lama e terra as redes de esgotos entupiram facilmente com o aumento do leito do Córrego dos Mosquitos e muitas casas foram atingidas pelo retorno do esgoto doméstico, algumas delas construídas sobre os trechos canalizados. “Basta chover mais forte e o córrego subir um pouco, para os vasos sanitários e os ralos começarem a transbordar que nem chafarizes. Imagine só o que iremos passar aqui neste próximo verão”, prevê uma moradora da Rua Alexandre Risso.

Outro antigo morador de Duas Pedras, Jael Saippa, destaca outra apreensão dos moradores: com a tragédia de janeiro, nascentes surgiram junto às encostas do bairro e formaram novos cursos d’água, que invadem terrenos e ruas até desembocarem no Córrego dos Mosquitos. Nos fundos de um terreno, na Rua Alexandre Risso, onde o córrego submerge num trecho canalizado, dois cursos d’água se transformam em rios de forte correnteza durante temporais, invadindo quintais e casas. Na Rua Padre Vicente Próspero a força das águas das chuvas vindas das pistas da RJ-130 já abriu uma enorme cratera na esquina da Rua Alexandre Risso. Com as captações das águas das chuvas, conhecidas como bocas de lobo, encontram-se cobertas por lama e entulhos, já surgem cursos permanentes de água por cima do asfalto da Rua Padre Vicente Próspero.

Reunidos com DER-RJ e Secretaria de Obras, moradores tentam embargar judicialmente a construção da nova galeria

A indignação dos moradores de Duas Pedras com a falta de investimentos para recuperação do bairro e o medo de nova tragédia desencadeou uma reunião na noite da última segunda-feira, 31 de outubro, no ginásio poliesportivo, ao lado da Rodoviária Norte. Se não houvesse uma decisão sobre os pleitos da comunidade, estudava-se até mesmo a realização de um grande manifesto, com direito à interrupção do tráfego na RJ-130. Na ocasião, o engenheiro chefe do DER-RJ em Nova Friburgo, Marcelo Góes Telles de Brito, informou que a construção da galeria na Rua Deolinda da Silva obedece a uma determinação da Justiça, que intimou o órgão a substituir a antiga galeria danificada por uma nova, como vem sendo cumprido.

Os moradores decidiram que recorrerão à Justiça para tentar embargar a obra—que eles temem poder causar danos futuros—e acelerar a realização de um antigo projeto de construção de uma galeria de captação de águas pluviais às margens da pista de sentido Nova Friburgo da RJ-130 que receberia toda a vazão das montanhas e desembocaria diretamente no Rio Bengalas, na altura da Rodoviária Norte, evitando enchentes em Duas Pedras. Não há, contudo, tempo hábil para a realização da obra antes das próximas chuvas.

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