Mais uma vez o povo da pequena cidade de Duas Barras estará na torcida para que nesta quarta-feira, 2, Martinho da Vila, um de seus filhos mais ilustres, seja eleito para a cadeira número 29 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Homem de origem humilde, nascido em Duas Barras em 12 de fevereiro de 1938, Martinho José Ferreira, filho do lavrador, guarda-livros, alfabetizador e mestre de folia Josué Ferreira e de Dona Tereza, que aos quatro anos de idade migrou com sua família para o Rio, onde fixou residência na Serra dos Pretos Forros, atual Boca do Mato, localizada na região do Méier, Lins e Engenho de Dentro, o consagrado poeta, músico, escritor e compositor de renome internacional, se eleito, terá a grande responsabilidade de suceder o bibliófilo José Mindlin, que ocupou a cadeira 29 da ABL até sua morte, em fevereiro deste ano. Além do músico, poeta, escritor e compositor Martinho da Vila, que já possui nove livros publicados entre outras tantas obras musicais, também concorrem à vaga Eros Grau, advogado e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Geraldo Holanda Cavalcanti, diplomata, e Muniz Sodré, ensaísta e diretor da Biblioteca Nacional.
Cumprindo a tradição da Academia Brasileira de Letras, a eleição do novo imortal deverá ser presidida pela secretária geral Ana Maria Machado, que substitui o presidente Vinícios Vilaça, temporariamente afastado por problemas de saúde. De acordo com o estatuto da entidade deverá se considerar eleito o candidato que obtiver a maioria absoluta dos votos, ou seja, metade mais um. No caso da academia, que possui 39 membros, quem obtiver 20 votos durante a eleição já terá sua imortalidade garantida. Como manda o ritual, tão logo sejam apurados os votos a presidente interina deve proclamar o resultado, autorizando em seguida realização da cerimônia de queima de todos os votos utilizados na eleição. Vale lembrar que a cadeira número 29, ocupada anteriormente por Mindlin, hoje tão desejada, teve como primeiro ocupante Artur Azevedo, que escolheu como patrono Martins Pena. A mesma cadeira já foi ocupada por Vicente de Carvalho, Cláudio de Souza e Josué Montello.
Na expectativa pela eleição de Martinho, o prefeito Antônio Carlos foi taxativo: “Em nome do povo de Duas Barras torço para que nosso conterrâneo Martinho da Vila se eleja e se torne mais um imortal de nossa respeitável Academia Brasileira de Letras. Através dele também o nome do nosso querido município de Duas Barras será imortalizado na academia, que ao longo de sua história acolheu importantes nomes, que dignificaram suas cadeiras”.
Martinho da Vila: um pouco mais de história...
Apesar de marcado pelas dificuldades de sua origem humilde e contando com poucos recursos que pudessem lhe garantir uma sobrevivência mais tranquila, Martinho parece receber de Deus uma proteção especial, desenvolvendo desde cedo o dom para a música. Isso fica evidente logo aos 13 anos de idade, quando passa a integrar a ala dos compositores da escola de samba Aprendizes da Boca do Mato. Aos 15 anos já compunha o samba de terreiro ‘Piquenique’ e aos 19 escreveu o primeiro de uma série de sambas-enredos.
Através do Senai concluiu o curso de auxiliar de químico industrial e ingressou para o Exército, onde se tornou sargento burocrata; nessa ocasião cursou a Escola de Instrução Especializada, tornando-se escrevente contador. Para espanto geral de seus familiares e aqueles que acreditavam que seguiria uma tranquila carreira militar, Martinho surpreendeu a todos pedindo baixa do Exército para se tornar cantor profissional, participando logo em seguida do Festival Internacional da Canção, representando o estado de São Paulo, onde defendeu a música ‘Madrugada, Carnaval e Chuva’.
Já reconhecido em nível nacional, em 1969, atendendo a um convite do então prefeito de Duas Barras, Victorino Araújo de Barros, que desejou homenageá-lo por saber de sua origem bibarrense, decidiu comprar a fazenda onde nasceu e onde atualmente está instalado o Instituto Martinho da Vila. A partir deste reencontro com seu povo e suas origens, Duas Barras passou a ser o seu lugar de refúgio onde, além de descansar e recarregar as baterias, também serviu de inspiração, recebendo dele o título de ‘Meu off Rio’.
Continuado a investir sério em sua carreira, teve seu primeiro sucesso reconhecido estourando nas paradas com ‘Casa de Bamba’, seguido de ‘Menina Moça’ por ocasião do 3º Festival da MPB pela TV Record-SP (1967). Nesse mesmo ano, em parceria com Gemeu, escreveu seu primeiro samba-enredo para a escola de samba Vila Isabel, sob o título ‘Carnaval de Ilusões’, que classificou a escola entre as grandes a desfilar na Presidente Vargas. Seu primeiro disco, ‘Martinho da Vila’, é lançado pela RCA (1969), onde também se encontram sucessos como ‘O Pequeno Burguês, Casa de Bamba, Quem é do mar não enjoa, e Pra que dinheiro?’, entre outros.
Além de fazer programas radiofônicos para as rádios Guanabara do Rio e Bandeirantes de São Paulo, escreveu várias crônicas esportivas para o Jornal do Esporte e foi autor de vários sambas da Vila Isabel, entre os quais, ‘Sonho de um Sonho; ‘Pra tudo se acabar na quarta-feira’, e ‘Raízes’. Em 1988 o samba-enredo “Kizomba, a Festa da Raça”, o consagra em definitivo e garante o primeiro lugar para Vila Isabel. Com o sucesso do lançamento do CD “Tá delícia, Tá gostoso”, onde se encontra a música “Mulheres”, o consagra em definitivo sendo o primeiro sambista a ultrapassar a marca de um milhão de CDs vendidos (1995).
Pai de oito filhos e avô de sete netos, Martinho só decidiu mudar seu estado civil na década de 90, quando conheceu e se apaixonou pela jovem Cleidiomar Corrêa Liscano, conhecida carinhosamente por Cléo Ferreira. O casamento aconteceu em Duas Barras no dia 13 de maio de 1993 (civil) e 31 de maio (religioso).
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