Elo perdido

Por Valfredo Melo e Souza (*)
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Uma academia de letras vence tudo pela grandeza do que simboliza e que basta para superar o elevado espírito de humanidade, resignação e criatividade de cada um e seus componentes. Toda academia é uma representação do passado e do presente. Mal compreendida, às vezes, mesmo assim, sua ideia abstrata é grande e imortal. A academia é imortal no repartir seus conhecimentos com a sociedade. Isto é o que a torna indene às maiorias erradas e que a salva dos politiqueiros, dos injustos, dos omissos em fazer o bem, dos que são parciais em proteger seus favoritos.

A Academia Maçônica de Letras do Distrito Federal precisa de um “Petit Trianon”. Está fadada a ficar eternamente sem sede. Peripatética, no espargir conhecimentos. Patética, quando nos comove a alma: a ágora, o sólio, o templo, o sodalício, o sancto sanctorum, a biblioteca, cume da intelectualidade maçônica, o silogeu como um todo. Na Maçonaria simbólica a chave é a busca da palavra perdida. Na nossa instituição paramaçônica é a busca de um elo distante, entre o maçom e o intelectual. Certo é que todos morrem um dia malgrado as academias de letras estarem cumuladas de imortais. Os acadêmicos são o elo que andava desnorteado. O elo somos nós. E nós temos rumo. Não devemos deixar o “projeto acadêmico” se transformar em utopia. A Academia é um pulsar de vida inteligente.

Vejam o exemplo: a Academia Brasileira de Letras ganhou uma nova e definitiva sede no dia 15 de dezembro de 1923: a réplica do neoclássico Petit Trianon, de Versailles, nas imediações de Paris. Um histórica construção do século XVII, por Luis XV, para sua amante Madame de Pampadour que veio a falecer antes da conclusão (1764). A “outra”, Madame du Barry, o inaugurou em 1768. Com a morte de Luis XV, o Petit Trianon passou a ser ocupado por Maria Antonieta, esposa de Luis XVI.

Pois bem. A réplica foi construída aqui no Brasil na Avenida das Nações (atual Presidente Wilson), no coração do Rio de Janeiro, para marcar a participação francesa na Exposição do Centenário da Independência do Brasil, em 1922, tudo por conta do presidente Milerand e seu primeiro-ministro Rayrnond Poincaré. Após o evento a França doou o prédio à Academia Brasileira de Letras. No ato, falou assim o presidente da academia, Afrânio Peixoto, em presença do embaixador da França, Alexandre Conti:

“Não se contentou, porém, a França, em nos ter dado o modelo de uma imortal Academia, para a esperança ambiciosa da nossa. Heroína de ideal em todos os tempos, ela tem sido para nós a mestra de inteligência, de gesto de civilização ... é nesse sentido que compreendo a nossa imortalidade acadêmica e com ela a imortalidade de nosso culto pelo França e pelo seu gênio. Pelo governo, senhor embaixador, e pela Academia, muito obrigado”.

Desde a fundação da Academia Brasileira de Letras, em 1897, até 1904, suas sessões eram feitas nos mais diversos locais da cidade: Colégio Pedro II, Biblioteca Fluminense, Real Gabinete Português de Leitura, Ministério do Interior e daí para o Petit Trianon.

Qualquer semelhança não é mera coincidência. Nossos endereços provisórios, até hoje, foram: Avenida W-5 Norte-SGAN 909, Módulo A (Sede da Grande Loja de Brasília). Avenida W-5 Sul SGAS 913, Conjunto H (Sede do Grande Oriente do Brasil). Ultimamente SQN 415 Bloco A- Área de Templo (Sede do Grande Oriente do Distrito Federal), somente o mobiliário da Secretaria. Falta-nos portanto, a doação de um “Petit Trianon”.

Um mecenas. Quem se habilita?

(*) Escritor e acadêmico da Academia de Letras de Brasília.

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