O SITE jornalístico “Congresso em Foco” vem publicando uma série de reportagens sobre as acusações criminais contra os parlamentares da legislatura iniciada em 1º de fevereiro. Até o dia 19 de agosto, mais de 130 deputados respondiam a inquéritos ou ações penais no Supremo Tribunal Federal, correspondendo a 26% daquela Casa. No Senado o índice já se aproxima de 40%.
DESDE A PROMULGAÇÃO da Constituição em 1988, mais de 500 congressistas foram acusados de atos criminosos, mas somente 16 foram condenados e apenas oito chegaram a cumprir pena. Em muitos casos, os processos simplesmente prescreveram sem que os ministros do STF tivessem julgado o comportamento dos réus.
A DESCRENÇA DOS BRASILEIROS nos seus representantes políticos é histórica, mas estamos atravessando um momento da vida nacional em que esta visão às vezes até um pouco preconceituosa parece se conjugar com uma entressafra de boas lideranças.
COLABORAM PARA O mau momento da política a baixa popularidade da presidente Dilma Rousseff, as suspeitas de envolvimento dos presidentes das duas casas do Congresso Nacional com o escândalo de corrupção na Petrobras e a citação de parlamentares e servidores nas investigações promovidas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. A elite política do país está no banco dos réus e a sociedade, sedenta de ética e decência, tem sido inflexível no seu julgamento sumário.
AGRAVADO PELA crise econômica que corrói ainda mais a confiança dos cidadãos nos seus governantes, fica mais evidente a carência de lideranças capazes de assumir as rédeas do país para conduzi-lo a um futuro mais digno. Tanto é assim, que gente de fora da política, mais especificamente alguns líderes de setores empresariais, sindicais e associativos, vem manifestando a vontade de interferir diretamente na administração pública, com propostas de soluções para os problemas que os políticos não conseguem resolver. É o que podemos assistir por todo o país.
NÃO PODEMOS associar a política à desonestidade, e também parece inquestionável que os detentores de mandatos e os partidos que representam não estão fazendo a lição de casa. Seria bom ouvir de brasileiros uma manifestação como a que foi feita semana passada pelo ex-presidente uruguaio José Mujica, em visita ao Rio de Janeiro, pregando a humildade entre os políticos: “Os políticos têm que viver como a maioria, e não como a minoria privilegiada”.
NA FALTA DE lideranças políticas que deem exemplo de integridade, a população tem dedicado sua atenção e sua admiração a agentes públicos que investigam e julgam os desvios da política — caso de juízes como Sergio Moro e promotores que se destacam no exercício de suas atribuições. O Brasil está carente de líderes éticos e comprometidos com os interesses coletivos.
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