“Eles mataram a minha filha”, diz mãe de Laryssa

Secretário de Saúde afirma que morte de adolescente foi fatalidade
quinta-feira, 18 de dezembro de 2014
por Jornal A Voz da Serra
“Eles mataram a minha filha”, diz mãe de Laryssa
“Eles mataram a minha filha”, diz mãe de Laryssa

Um caso gravíssimo no setor da saúde pública abalou Nova Friburgo esta semana. Laryssa Svoboda, uma menina de apenas 16 anos, faleceu na última terça-feira, 16, em decorrência de problemas após o parto, realizado no dia 26 no Hospital Maternidade de Nova Friburgo. Em função das complicações, a jovem foi transferida no último dia 1º para o Hospital Municipal Raul Sertã, onde acabou falecendo. Segundo depoimentos de parentes e amigos, as causas da morte seriam problemas causados por infecções e complicações no parto. Há até suspeita de negligência e erro médico. Apesar dos problemas, o bebê da jovem passa bem, segundo a tia da criança.

Na tarde de ontem, 18, parentes e pessoas próximas à jovem se reuniram para protestar por justiça e pedir esclarecimentos para o caso. A manifestação teve início por volta das 13h30, em frente ao Hospital Maternidade Nova Friburgo, e atraiu a atenção de quem se dirigia à unidade, localizada na Rua Antônio Fernandes Moreira, no Centro. Gritos de "justiça” e também referindo-se à maternidade como "açougue” e "matadouro” eram ouvidos dos manifestantes, assim como demandas por uma declaração do secretário de Saúde. 

Indignado com a falta de uma explicação oficial da direção do hospital para o caso, o grupo seguiu em direção a sede da prefeitura, onde continuou se manifestando através de gritos no caminho e, posteriormente, fechou as duas pistas da Avenida Alberto Braune. Ali ficaram por um longo período de tempo, onde membros da polícia e da guarda de trânsito tentaram argumentar para que liberassem pelo menos meia pista. Os manifestantes só cederam quando o ouvidor da prefeitura, Moisés Pereira, disse à mãe da jovem que eles seriam atendidos pelo prefeito por volta das 17h. Nesse momento, o grupo cedeu, liberando a passagem, porém esperando na porta da prefeitura prometendo voltar, caso a promessa não fosse atendida na hora marcada. Bastante abaladas, a mãe da jovem e a irmã fizeram um emocionado desabafo à equipe de A VOZ DA SERRA. Confira os depoimentos de Rosemery Svoboda (mãe) e de July Rastrelli (irmã):

A mãe:

"Eu enterrei minha filha de 16 anos ontem. Ela chegou aqui rindo, feliz que ia ter o filho, e saiu daqui morta. Eles mataram minha filha. Nem o prontuário a maternidade me deu, o hospital pediu e eu não tinha. A doutora não carimbou o documento. Ela não fez o parto adequado na minha filha. Quando acabou o parto Laryssa estava com uma bolsa de sangue do lado, e eles me alegaram que era anemia. Ela foi transferida para o Raul Sertã e lá abriram ela pela segunda vez, porque ela estava toda infeccionada. Tiveram que realizar uma limpeza. O médico disse que foi um erro da maternidade, que iam só fechar algo que tinham deixado aberto na primeira cirurgia.

Se não houve erro na maternidade, por que iam abrir a barriga da minha filha outra vez? Se fosse uma infecção ela seria medicada e não operada. Eu queria tirar minha filha de lá e levar para um hospital particular, mas eles me disseram que eu não deveria tirar, que poderia acontecer coisa pior a minha filha. 

Eu queria entender o que realmente aconteceu com a minha filha. Ela foi entubada, fizeram hemodiálise nela, fraca daquele jeito e tomando medicamentos fortíssimos. Toda hora a sala onde ela estava ficava cheia de médicos, mas ninguém correu, tomou uma atitude para salvá-la. No cartão de pré-natal está escrito que ela não teve nada. Queria saber por que depois que ela que ela veio ganhar o neném começou a ter complicação?

No hospital me disseram que precisava de um aparelho para confirmar se minha filha havia tido morte cerebral e falaram que só trariam o aparelho se eu autorizasse doar os órgãos dela.

Quero que mudem aquelas pessoas que estão lá e que se dizem profissionais, mas não são nem um pouco. Laryssa me contou que uma enfermeira mandou que ela se calasse, afirmando que sabia o que estava fazendo e que havia estudado para estar ali.

Falou também que minha filha estava ali porque havia feito besteira. E esse pessoal, com todo ‘profissionalismo’, é que calou minha filha para sempre. Porque agora eu nunca mais vou ouvir a voz da Laryssa.

Quando eu estava na capela, velando minha filha, eu liguei para a doutora e contei a história. Ela simplesmente respondeu: ‘Lamento’.”

A irmã:

"Minha irmã teve uma parada respiratória na maternidade e foi encaminhada para o Raul Sertã, no dia 2. Ela estava sendo tratada com infecção de rins e teve a parada. Foi direto para o CTI do hospital. 

Mas ela contraiu a infecção na maternidade. E elas não deram nenhum parecer no local sobre o que ela tinha. Primeiro disseram que era anemia, febre, infecção e foi só aumentando o problema. Quando chegou no hospital a infecção já estava muito grave, deram medicamentos fracos na maternidade, não o ideal. Quando o marido de Laryssa  estava indo vê-la, no Raul Sertã, avisaram a família que Laryssa teve uma parada cardíaca. No sábado, recebemos a notícia de que ela tinha tido morte cerebral. 

Até agora a maternidade não nos deu nenhuma resposta, nenhuma satisfação sobre o caso. A mãe dela está movendo uma ação contra a maternidade e nós estamos fazendo esse protesto porque não queremos que isso se repita com mais ninguém.” 

O que diz o secretário de Saúde

Na tarde de ontem, o secretário Luis Fernando Azevedo concedeu entrevista ao jornal A VOZ DA SERRA. Ao ser perguntado sobre o médico responsável pelo parto, Luis Fernando preferiu dizer que "foram vários médicos que atenderam Laryssa”.  Sobre as reclamações dos familiares, ele disse: "A gente fez de tudo para salvar a Laryssa. Ela foi muito bem atendida no Hospital Municipal Raul Sertã, onde ocorreu o tratamento de pós-parto. Infelizmente ela faleceu. Nós abrimos um processo administrativo para apurar todos os fatos e dar uma resposta à imprensa, logo assim que os fatos estiverem reunidos”, afirmou ele, ressaltando a importância da maternidade: "Queremos lembrar que a maternidade já atua há anos no município e que 90% da população é atendida por ela. O que aconteceu com a Laryssa foi uma fatalidade. A gente tem ótimos profissionais lá dentro, médicos e enfermeiros. Estamos dando todo apoio à mãe, colocando psicólogo à disposição e também ajudando na questão do bebê (filho de Laryssa).Tudo que nós pudermos fazer para ajudar, nós faremos. Hoje mesmo nós atendemos a família.”

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TAGS: Laryssa Svoboda | morte | saúde | Hospital Maternidade | Secretário de Saúde | Luiz Fernando Azevedo
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