Eles deixaram a carteira assinada e viraram donos do próprio negócio

De acordo com pesquisa, de cada 100 brasileiros que começam um negócio, 71 são motivados pela oportunidade
sábado, 29 de abril de 2017
por Karine Knust
Gustavo Coelho, 25, Victor Gomes, 25, e Viviane Botelho, 24, uniram suas habilidades e montaram um negócio de consultoria e produção digital
Gustavo Coelho, 25, Victor Gomes, 25, e Viviane Botelho, 24, uniram suas habilidades e montaram um negócio de consultoria e produção digital

Se na época dos nossos pais sucesso era fazer carreira em uma boa empresa, para a nova geração a eterna busca por bons resultados e felicidade profissional tem ganhado um novo nome: empreendedorismo. De acordo com pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), feita no Brasil pelo Sebrae e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), em dez anos, a taxa total de pessoas que criaram seus próprios negócios no Brasil aumentou de 23%, em 2004, para 34,5% em 2015. Destes, 52% estão na faixa de 18 a 34 anos. Ainda segundo a pesquisa, de cada 100 brasileiros que começam um negócio próprio, 71 são motivados por uma oportunidade. 

Viviane Botelho, de 24 anos, Gustavo Coelho e Victor Gomes, ambos de 25 anos fazem parte deste grupo. A amizade os uniu e o desejo de conquistar a independência financeira os transformou em sócios. Mas, o começo da carreira como empreendedores foi bem diferente. Viviane, por exemplo, é formada em jornalismo e antes de dar início aos seus próprios trabalhos, só tinha tido experiências profissionais em estágios na área. Mesmo sem nunca ter pensado em empreender, a jornalista e editora de imagem deixou diversas oportunidades tentadoras na Cidade Maravilhosa para agarrar o desafio de criar seu próprio negócio. 

Diferente de Viviane, Gustavo começou a perceber que nasceu para o negócio quando ainda era adolescente. Diagnosticado hiperativo com 12 anos, o jovem foi orientado pelo médico a investir em alternativas que ocupassem a sua atenção. Entre o basquete e os trabalhos manuais, Gustavo se encontrou na arte, criou uma marca de bolsas e acessórios que levavam seu nome e com 18 anos montou sua primeira loja. O espaço era tão cool, que gerou o interesse de muitos empresários e Gustavo começou a ser procurado para dar consultorias. A crise e a percepção de um novo e amplo mercado fez com que o empreendedor deixasse o comércio e se transformasse em consultor de marketing e moda. 

Ainda neste grupo, está Victor Gomes. Com vários trabalhos de carteira assinada, o designer e programador percebeu na crise a chance de mudança profissional. A instabilidade financeira fez com que ele se transformasse de funcionário regularizado em freelancer de seu antigo chefe. Quanto mais trabalhava, mais conquistava novos clientes até se tornar um empreendedor. 

O start para unir os amigos também no ambiente profissional foi em 2016, com a criação de um canal no Youtube, o ‘Tia Márcia quer falar’. Atualmente, além de produzirem canais, o grupo se dedica a uma série de ocupações. “Começamos com trabalhos paralelos, todos nós tínhamos os nossos próprios clientes, e continuamos com alguns, mas criamos um combo de serviços juntos e começamos a sentir o mercado se movimentando a nosso favor em novembro de 2016. A gente se completa muito. Eu tenho uma visão para o marketing e moda, a Viviane é editora de imagem e  jornalista e o Victor é design e programador. Somos uma produtora, agência de marketing, visual merchandising com foco em mídias sociais e damos consultoria a empresas físicas e e-commerce”, conta Gustavo. 

Meu escritório é na... casa!

Um bom computador, um smartphone e uma conexão confiável à internet. Grande parte dos trabalhadores modernos não precisa de muito mais do que isso para cumprir as tarefas do dia a dia. E é nessa facilidade que se encontra uma nova modalidade de rotina de trabalho que se tornou preferência para muita gente, principalmente para aqueles que estão empreendendo: o home office. 

É na casa do Gustavo que o grupo se reúne para cumprir parte do trabalho. Além da tranquilidade do ambiente e da flexibilidade de horários, a equipe conta que há ainda muitas vantagens nessa opção. “Estamos percebendo que o mercado está seguindo mais o caminho do home office, da liberdade, da terceirização. E isso é bacana para todo mundo: pra nós, porque conseguimos ter uma gama enorme de clientes e trabalhar para um monte de gente bacana que a gente escolhe, e para o próprio cliente que contrata uma equipe com custo operacional muito menor porque não pagamos funcionários, luz, água, coisas que oneram o valor final”, diz Gustavo.

Para Viviane, outra vantagem de um ambiente de trabalho flexível é a possibilidade de se adequar a rotina do próprio cliente. “A partir do momento que você tem um espaço físico você se limita. O dono de uma empresa geralmente não tem disponibilidade para reuniões em horário comercial. E aí, quem trabalha com flexibilidade consegue suprir essa questão. Nós vamos até a casa do cliente, nos reunimos em cafeteria e atendemos na hora que ele puder”, conta. 

Visão de mercado, iniciativa e muita força de vontade

Quem passa pela Rua Prefeito José Eugênio Müller durante a tarde certamente já se deparou com um simpático rapaz com roupa social e acompanhado de um carrinho próximo ao Senai. Paulo José de Almeida Junior, 39 anos, começou a empreender quando ainda estava na casa dos 20 e poucos anos. Sem medo de se arriscar, ele já foi montador de móveis, carpinteiro, tecelão e, hoje, se aventura no ramo da panificação. Criado em janeiro deste ano, o food cart Donuts Club já caiu no gosto de muita gente e é difícil parar para bater um papo com Júnior sem ser interrompido por alguém em busca de comprar alguns de seus deliciosos donuts. 

A ideia de vender o doce não foi por acaso. Júnior conta que primeiro foi preciso encontrar algo que ainda fosse escasso no mercado e possível de investir. “Era tecelão e surgiu uma oportunidade de pegar uma lanchonete na Ponte da Saudade. Queria colocar alguma opção diferenciada para vender porque lanchonete tem várias por aí. Já mexia com panificação como curioso e a partir daí eu e minha esposa começamos a pesquisar as possibilidades. Foi aí que concluímos que o donuts poderia ser uma boa opção. É uma coisa diferenciada e difícil de achar na cidade”, diz o empreendedor. 

Apesar dos donuts com receita originalmente americana chamarem a atenção da clientela, Júnior conta que só a iguaria não era capaz de manter a lanchonete de portas abertas. Foi aí que surgiu mais uma ideia: transformar o doce em seu empreendimento principal. “A lanchonete ficou apenas três meses aberta, precisávamos vir para o Centro, mas pagar por uma loja era inviável. Voltamos a pensar no que fazer e chegamos a conclusão de que como estava em alta o estilo pensamos em fazer um food cart. O resultado tem sido ótimo, bem maior do que quando tínhamos lanchonete e isso me surpreendeu”.

Que o negócio tem dado certo, não há dúvidas, mas Júnior e a esposa, Gisele Rodrigues, querem mais. “Já fiz muitas coisas, já trabalhei com carteira assinada e tudo mais. Mas sinto uma vontade muito grande de crescer e inovar. Aqui eu tenho essa possibilidade. O que eu produzo eu vendo e já não estou dando conta. Muita gente até já procura contratar a gente para festas, mas ainda não temos uma produção estruturada para atender a demanda. Agora, a ideia é transformar o negócio em franquia”, almeja ele. 

O segredo

Ainda segundo pesquisa divulgada em 2015, ter o próprio negócio é o terceiro maior sonho do brasileiro, atrás de comprar a casa própria e viajar pelo país. Mas é preciso reconhecer que a tarefa é árdua e demanda profissionalismo, comprometimento e dedicação. Para Gustavo, Viviane e Victor, o segredo também está na confiança e no amor.  

“O que nos liga é a nossa amizade de anos, a confiança que temos um no outro e, principalmente, o fato de que respiramos trabalho, não temos corpo mole”, conta Viviane. “As pessoas se limitam a profissão, só que essa geração percebeu que a gente não é profissão, a gente é habilidade. É preciso fazer de tudo um pouco”, acrescenta Victor. “Se entender é o principal. Olhar para dentro e descobrir o que gosta de fazer, o que faria apaixonado, o que faria de graça. De todos, esse é o grande segredo. Sucesso e dinheiro são consequências de um trabalho bem feito e movimento gera movimento. Quando você começa a fazer as coisas, as pessoas te veem e passam a conhecer o seu trabalho e aí você começa a se descobrir também. Talvez coisas que você nunca pensou em fazer e o que faz de melhor. Saber o que você faria de graça é justamente aquilo que você faria para o resto da sua vida”, conclui Gustavo. 

Foto da galeria
De segunda a sexta, Junior leva o food cart para a calçada e chega a vender cerca de 40 donuts por dia
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TAGS: empreendedorismo | economia
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