Elas lutam para manter a calma: a realidade das mães dos guerreiros do MMA

sexta-feira, 09 de maio de 2014
por Jornal A Voz da Serra
Elas lutam para  manter a calma:  a realidade das mães  dos guerreiros do MMA
Elas lutam para manter a calma: a realidade das mães dos guerreiros do MMA

Quando um filho nasce, nasce junto uma mãe. Apesar dos anseios e receios de ter um bebê recém-nascido ao colo, a maternidade é capaz de transformar as mulheres e dar a elas um poder de amar inexplicável e um selo único que nos dá a impressão de que elas sabem de tudo — como um instinto animal. Ser mãe é amar em sua forma mais pura, é se emocionar com os primeiros movimentos do bebê e com seu crescimento, é torcer por suas conquistas, é se pegar amando alguém mais do que a si mesmo — e isso sem nenhum peso na consciência. Mas nem tudo são flores no mundo das mamães. Elas sofrem com as dores do parto, ficam noites sem dormir com as cólicas do bebê e se angustiando com os choros inexplicáveis. Quando os filhos crescem, a preocupação cresce junto. Agora a mãe ainda fica acordada, mas o motivo da insônia é a imaginação que vai longe e só se aquieta quando ela ouve o barulho da porta e os passos do filho andando pela casa são e salvo. Mas quando o assunto é ser mãe de lutador, o sofrimento é ainda maior. E disso essas duas mães sabem muito bem. O Caderno Light deste fim de semana faz uma homenagem a essas maravilhosas guerreiras e conta a história de Therezinha Valdomiro Luiz e Leila Marinete da Silva, mães dos vitoriosos friburguenses lutadores de MMA, Marlon Moraes e Edson Barboza. Ambas não assistem às lutas pela tamanha aflição que sentem, mas não deixam de fazer suas orações para que seus pequenos saiam do cage sãos, salvos e — de preferência — campeões.

 

Elas sofrem...

Mães de Edson Barboza e Marlon Moraes revelam angústia nos dias de luta: "Não assistimos”

Quando Edson Barboza e Marlon Moraes sobem ao ringue, uma verdadeira corrente positiva é formada em Nova Friburgo. Os bares lotam, e famílias inteiras se reúnem em frente às telas para acompanhar os combates. Todos torcem, vibram e sofrem. Mas não tanto quanto Therezinha Valdomiro Luiz, 52 anos, e Leila Marinete da Silva, 58, as mães dos lutadores friburguenses.

"Nos dias de luta eu vou para a igreja, e também nunca assisti a nenhuma luta dele, desde os seus oito anos de idade, quando ele começou. Não assisto nem antes e nem depois. Seguro o meu terço e fico na torcida. Quando soltam fogos eu sei que ele ganhou. Desta última vez ele perdeu, mas o importante é ele não se machucar e estar feliz”, conta Leila, mãe de Edson Barboza Junior.

Na casa de Marlon, a situação não é diferente: Therezinha revela jamais ter assistido a uma luta do filho. A auxiliar de serviços gerais recorre à fé para conter o nervosismo. "Eu sempre estive muito preocupada. Sou muito religiosa e nas vésperas das lutas, eu oro com muita fé. O Marlon também. Quando a sogra dele foi aos EUA, eu enviei um Santinho a pedido dele. Ele assiste à novena, toma água benta.”

 

Leila não mediu esforços para que o filho pudesse treinar regularmente


Uma "luta”de anos

O sucesso iminente de Edson e Marlon no UFC e WSOF, as duas principais organizações de MMA do planeta, esconde um histórico de dificuldades e superação. Edson descobriu as artes marciais aos quatro anos, e Leila não mediu esforços para que o filho pudesse treinar regularmente. "O Edson gostava de jogar bola, mas um dia ele foi à Imperatriz de Olaria, viu a luta e como criança ativa que era pediu para levá-lo. Não sobrava dinheiro para pagar a passagem dele todos os dias, então eu deixava o meu vale-transporte para que pudesse treinar. Abri mão de comprar muitas coisas pra casa para que ele pudesse treinar. Ele ia de ônibus e eu voltei a pé do trabalho inúmeras vezes para encontrar com ele”, conta.

Todo o esforço trouxe consequências além da estabilidade financeira e profissional. Therezinha lembra a importância da luta para direcionar a vida do filho e afastá-lo de qualquer caminho que pudesse comprometer o seu futuro. "Desde os oito anos, o Marlon vem para a academia. O Anderson França treinava em Conselheiro Paulino e, depois da escola, o Marlon corria para pegar carona com ele. Foi uma coisa muito boa, porque a maioria dos amigos de infância do meu filho nem estão mais vivos. Muitos se envolveram com o tráfico de drogas. O Marlon nunca me deu problemas, é um filho maravilhoso.”

De fato, Therezinha e Leila falam com naturalidade sobre a participação dos filhos nos eventos de MMA. Entretanto, não escondem a preocupação com a integridade física de Marlon e Edson. "Eu pensei que era brincadeira, e continuei levando ele pra lutar. Quando eu soube que era sério, fiquei contente por ser algo que ele gosta, mas muito preocupada. E quando ele disse que ia para os EUA, eu chorei muito. É um lugar onde ele não conhecia ninguém, ficou muito sozinho. A namorada foi um ano depois apenas. Mas era o que ele queria de verdade.”

No caso de Marlon, o pai era quem ficava mais preocupado. Para que o filho pudesse treinar, Leila até mesmo o ajudou a sustentar uma pequena mentira. "Eu sempre dei forças, mas o pai tinha um medo danado. Ele preferia que o Marlon jogasse bola, e o meu filho fingia que ia treinar na Escolinha de Futebol para vir até a academia. Aqui no Brasil eles tiveram pouca ajuda, e precisaram ir para fora do Brasil para ter o que têm. E eles sempre correram atrás de patrocínio.”

A realidade comum a todas as modalidades esportivas do país obrigou a dupla a buscar um novo rumo no exterior. A distância ainda machuca os corações de mãe, mas a torcida pelo sucesso dos filhos supera qualquer dor. "Eu fiquei triste, pois tenho um casal de filhos do primeiro casamento e tenho o Marlon. Ele sempre foi muito agarrado com a família. Eu converso com ele todos os dias pela internet ou telefone. Ano passado, o pai dele teve uma doença, e o Marlon deixou tudo e voltou para me ajudar, mesmo no início da carreira. A gente quer ver o sucesso deles por causa desse esforço. A luta vai muito além do ringue. São meses de preparação, treinos, dieta, viagens, e nós sabemos o que eles passam nos dias da pesagem e da luta. Mas quando a gente sabe que o filho está feliz, a gente fica bem. Na vitória ou na derrota. A primeira coisa que eles fazem quando acaba a luta é ligar pra gente, seja a hora da madrugada que for. Eles dão atenção pra família, e isso é maravilhoso. Somos humildes e sempre fomos muito unidos por isso.”

Leila e Therezinha parecem ter o destino traçado de forma parecida. Há alguns meses, Bruna, a esposa de Edson, engravidou. Recentemente, Izabella também descobriu que terá o primeiro filho de Marlon. As futuras vovós comemoram o momento especial e garantem: se os netos optarem por entrar no mundo da luta, elas vão apoiar. Algo que só mesmo o amor materno é capaz de explicar.

"Se o meu neto quiser lutar como o pai, eu vou apoiar, sem dúvida alguma. É um esporte como outro qualquer, e é bom a pessoa fazer o que ela gosta. A melhor coisa do mundo é trabalhar com o que a gente quer”, garante Therezinha. "Quando quer, não tem jeito. O Junior gosta de lutar desde os quatro anos de idade. A luta traz muito mais benefício. São meninos bons, que não têm vícios. É uma grande vitória pra gente”, completa Leila.

 

Religiosa, Therezinha ora toda vez que o filho luta, mas confessa: não consegue assistir



 


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