Educadores e empresariado apontam os desafios atuais do mercado de trabalho

quinta-feira, 02 de maio de 2013
por Jornal A Voz da Serra
Educadores e empresariado apontam os  desafios atuais do mercado de trabalho
Educadores e empresariado apontam os desafios atuais do mercado de trabalho

Márcio Madeira da Cunha
Segundo dados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged) do Ministério do Trabalho, Nova Friburgo perdeu 722 empregos formais no primeiro trimestre de 2013. Numa análise mais específica, o comércio respondeu pela redução de 297 postos de trabalho, a administração pública por outros 236, e a indústria por 185. Um quadro parcialmente explicado pelo fim dos contratos temporários de fim de ano e pelo enxugamento da máquina pública no início de um novo mandato municipal. Os números da indústria, no entanto, parecem esconder um contexto um tanto mais complexo.
“O parâmetro utilizado pelo Ministério do Trabalho do Brasil para medir o nível de empregabilidade de nossa sociedade está atrelado obrigatoriamente à contratação via CLT. Embora não haja dúvidas sobre a sua importância, o tamanho dos encargos trabalhistas acaba desanimando muitos empregadores brasileiros na hora de oficializarem a contratação”, explica Gustavo Faria, diretor da Stam. “Além disso, atualmente não há um setor da economia brasileira que não reclame da falta de qualificação de mão de obra. Há um consenso de que esta é a maior dificuldade encontrada pelas indústrias e é uma característica de todo o Brasil”, diz. Gustavo faz um alerta: “Precisamos tomar muito cuidado com as políticas assistencialistas. Investir em educação é prioridade absoluta.”
A simples falta de qualificação, no entanto, não basta para contextualizar o cenário friburguense, principalmente porque ela não se observa em todos os setores. O setor mecânico, por exemplo, oferece na cidade uma enorme gama de possibilidades de estudo, que vão desde os cursos básicos de aprendiz no Senai até o doutorado em modelagem computacional na Uerj. Importa lembrar ainda que vários desses cursos são ministrados gratuitamente – alguns, inclusive, oferecendo bolsas de auxílio –, e que as duas instituições estão equipadas com o que existe de melhor em termos de maquinário e material de apoio. Na Uerj, inclusive, alguns dos laboratórios de pesquisa são únicos dentro do território nacional.
“Neste exato momento, por exemplo, nós temos seis editais abertos para o preenchimento de 240 vagas para o 2º semestre”, lembrou a pedagoga Catarina Py, chefe do setor de Educação Profissional do Senai de Nova Friburgo. “Nossos cursos aqui têm durações específicas, então estamos sempre começando turmas novas. E se tivéssemos mais espaço físico poderíamos atender a um número ainda maior do que os 1.360 alunos que temos atualmente”, continuou.

Aproveitamento pelo mercado
Como esses alunos têm sido absorvidos pelo mercado? “Cerca de 90% dos estudantes saem daqui com emprego garantido”, afirma Cléber Ismério Queiroz, professor do Senai. O próprio Cléber, aliás, é um exemplo vivo de como a busca por especialização ajuda a abrir portas na medida em que ele fez três cursos no Senai, nos níveis básico e técnico, trabalhou na indústria e recentemente voltou à instituição na condição de professor. “Existe uma grande carência de profissionais de nível técnico no Brasil. E essa é uma boa opção a ser considerada não apenas pela maior facilidade de se conseguir emprego, mas também porque é um caminho que rende frutos de forma muito mais rápida do que a carreira universitária”, afirma Cléber.
Existem, todavia, alguns percalços no caminho entre o estudo e o mercado de trabalho. “Um dos problemas que nós temos aqui é que muitos de nossos alunos acabam se formando antes de completar 18 anos e então precisam esperar pela idade mínima para que possam exercer determinadas funções. Nós mantemos um cadastro desses alunos e os recomendamos sempre que surgem as vagas. Mas, ainda assim, essa acaba sendo uma situação desanimadora para eles”, explica Catarina Py.
 “Com os alunos de mais idade o problema é diferente. Como eles têm maior necessidade de trabalhar, muitas vezes acabam abandonando os cursos diante de alguma oportunidade de emprego que exija tempo integral. Para reduzir essa evasão, que muitas vezes os afasta de suas respectivas áreas de interesse e conhecimento, nós temos flexibilidade de horários e disponibilizamos algumas bolsas de incentivo também”, declara Catarina.

Indústria também investe em formação
Em 1989, quando foi criado o Instituto Politécnico do Rio de Janeiro, o principal objetivo já era reduzir a grande distância existente entre os centros de formação e as necessidades da indústria, sobretudo nas cidades do interior. E não é apenas no lado acadêmico que são observados esforços no sentido de uma maior aproximação. “A indústria da construção brasileira, tão em alta por conta da necessidade de entrega dos estádios de futebol para a Copa 2014, tem tido uma árdua tarefa pela frente. E por esta razão diversas construtoras firmaram parcerias para educar os funcionários das empreiteiras nos pátios das obras. Falando especificamente da Stam, o grande desafio foi tirar o funcionário de sua zona de conforto”, explica Gustavo Faria. “Desde 2006 a Stam proporciona, através do Ceff - Centro Educacional Francisco Faria –, em parceria com o Sesi, o projeto EJA (Educação de Jovens e Adultos) para os níveis fundamental e médio. E quando menciono o desafio de fazer o funcionário sair da zona de conforto, cito como exemplo as velhas desculpas de sempre para não estudar. Em contrapartida, temos exemplos maravilhosos de funcionários que basicamente vivem dentro da empresa, pois cumprem com a jornada normal de trabalho e ainda estudam para conseguir a certificação. O funcionário precisa compreender que a educação gera qualificação e, por consequência, oportunidades”, conclui Gustavo.
Em meio a tantos esforços, tanto por parte dos centros de formação quanto por parte das empresas, resta salientar a importância da iniciativa pessoal na busca por especialização. Exemplos como o do professor Cléber não deixam dúvidas de que, mesmo diante de todas as dificuldades conhecidas, oportunidades ainda existem para quem se esforça e ama aquilo que faz.

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