Vinicius Gastin
Às vésperas de voltar ao octógono para tentar recuperar o cinturão do UFC, Edson Junior recebeu uma ingrata notícia. Justin Salas sofreu uma lesão e não vai enfrentar o lutador friburguense no próximo dia 19, em São Paulo. O também brasileiro Lucas Mineiro, da Academia Shooting Boxe, será o adversário de Edson.
“Estou preparado para lutar, independente do adversário. Mudou o plano de jogo, mas o foco continua o mesmo”, garantiu em entrevista ao site Tatame.com.
Enquanto Salas tem como especialidade a wrestling (luta no chão), Mineiro possui um estilo mais parecido com o de Edson. “Eu estive em New Jersey há uma semana e a preparação estava sendo feita em cima do wrestling, que era o forte do Salas, um atleta canhoto e com bom trabalho de pernas. O Mineiro é um striker e tem características parecidas ao do Edson, gosta de lutar em pé. Estávamos treinando para defender as quedas”, revelou o treinador Anderson França.
O lutador de Nova Friburgo se destacou em 2012 e teve o nocaute sobre Terry Etim, no UFC 2, em janeiro, eleito como o melhor do ano por especialistas dos canais ESPN. Após acertar o incrível chute rodado no rosto do adversário, Junior chamou a atenção e atraiu os olhares de todo o mundo. Na luta seguinte, entretanto, não repetiu o bom desempenho e sofreu a primeira derrota, para Jamie Varner. “O Edson está muito bem, louco para lutar. Eu acredito que naquela luta faltou algo. Não sei se foi uma questão psicológica, pois ele estava muito bem treinado. Isso envolve muitas coisas, de bastidores, que as pessoas não têm noção”, garantiu França.
Na visão do treinador, as expectativas após a vitória sobre Etim criaram uma atmosfera ruim para Edson. A pressão para nocautear gerou ansiedade e atrapalhou o rendimento do friburguense. “O Junior é muito assediado pelos fãs e as pessoas diziam que ele iria ganhar facilmente. Talvez ele tenha sentido um pouco essa pressão e ficou um pouco preso. Não lutou 10% do que sabe. Por mais que tenha tentado controlar, não conseguiu”.
Anderson França: “derrota tem o lado bom”
Aceitar uma derrota não é das tarefas mais fáceis. No entanto, pode revelar erros até então imperceptíveis. No caso de Edson Junior, o revés provocou a mudança de cidade para buscar uma melhor estrutura de treinos. “A equipe toda tem que se juntar. Aconteceu com o Junior Cigano, recentemente. O atleta não tem que ser forte apenas na vitória, mas também na derrota. Confio demais no Junior e estaremos sempre juntos. A derrota tem o lado bom, para que aconteçam certas mudanças e uma delas foi a de cidade. Nos mudamos para New Jersey, onde temos uma maior estrutura na parte de sparring, principalmente. Esse treino estava faltando em Júpiter, na Florida, onde estávamos. Agora treinamos três vezes por semana”, revelou Anderson França.
Amigo do lutador, França o acompanha desde os primeiros passos nas artes marciais. O trabalho foi desenvolvido em sua academia, no Paissandu, e o sucesso tornou necessária a busca por novos rumos. “Tudo começou através do meu sogro, Alex Davis, que é o empresário do Edson Junior e do Marlon. A gente tinha feito tudo no Brasil com relação à luta em pé e resolvemos, com nossa equipe, que era hora do Junior seguir novos caminhos. Conseguimos traçá-lo e está dando certo”.
A escolha pelos Estados Unidos se explica. Naquele país existem outras técnicas desenvolvidas com maior facilidade. Mas o motivo principal é o mesmo enfrentado pela maioria que sobrevive do esporte: a falta de patrocínio. “Algumas academias no Brasil possuem uma estrutura muito boa. Mas lá o patrocínio e a ajuda dos empresários são muito mais fáceis. A wrestling é mais trabalhada por lá, são especialistas. Mas o principal é o investimento. Você observa crianças de oito anos praticando as artes marciais nos Estados Unidos. Só numa aula de wrestling eu pude observar 60 crianças nessa faixa de idade treinando”, contou Anderson.
Anderson é contratado pelo adversário de José Aldo
O sucesso de Edson Junior no mundo do UFC é fruto de um trabalho de muitos anos, iniciado nas aulas de Muay Thai, em Nova Friburgo. Após se firmar no cenário nacional das artes marciais, o atleta foi buscar o sucesso no maior evento de MMA do mundo. Durante todo esse período, o professor Anderson França foi o responsável por conduzir os treinamentos de Junior e a parceria perdura até hoje. “Quando o Edson tem uma luta marcada, a gente embarca para os EUA e ajuda no camping [treinamento] dele. Também tem o Marlon Moraes, que está junto. Fiquei 20 dias com eles nos Estados Unidos.”
Nesta última viagem, a equipe de Edson treinou na academia de Renzo Gracie, a mesma do americano Frankie Edgar. “The Answer”, como é conhecido, gostou do trabalho de Anderson França e o contratou para ser o seu treinador. “Acabei dando aula também para o Frankie. Antes que eu pudesse voltar, ele pediu para me contratar. É algo que está evoluindo devagar, estamos começando a ser reconhecidos fora do Brasil.”
O primeiro desafio como técnico não será simples. Edgar vai encarar o brasileiro José Aldo no UFC 145, categoria até 65 kg. A luta está marcada para o dia 2 de fevereiro, em New Jersey. “Não queria que fosse contra um brasileiro, mas temos que ser profissionais. São dois atletas de alto nível e qualquer um pode vencer. O Aldo é um dos melhores do mundo, mas o Edgar também tem o seu valor.”
Confiante, Anderson revela que tanto Edson quanto Frankie trabalham pesado no dia a dia. A rotina inclui treinos em dois períodos, durante seis dias da semana, com temperaturas abaixo de zero. “O pessoal não tem ideia do que um atleta de MMA faz. A gente seguiu a mesma rotina do Frankie Edgar: acordamos de manhã, por volta das 7h, num frio de -4°C e voltamos para casa para almoçar e descansar. À tarde, treinamos de novo. Em média, são dois a três treinos por dia, de segunda a sábado. Domingo é o dia do descanso.”
Empresário, França divide as atenções entre a carreira de treinador e a administração de sua academia. “Os meus alunos são como uma família para mim. Eles me apoiam e sabem que é muito importante a realização desse intercâmbio. Estou gostando bastante, aprendi muita coisa. A gente treina com os melhores do mundo e passa a observar os detalhes. Eles fazem a diferença a partir de certo nível.”
A rotina de viagens é cansativa e exige dedicação. Anderson passa dias longe da família, dos dois filhos e admite sentir saudades. No entanto, à base da superação e compreensão dos familiares, segue firme na luta diária pelo sucesso de seus alunos. “Passei o Natal com minha família e no dia 15 de janeiro vou a São Paulo, onde vou encontrar o Edson. Depois retorno para Nova Friburgo e no dia 20 e estarei embarcando para New Jersey, onde encontrarei o Frankie Edgar para finalizarmos a preparação dele em uma semana. De lá, vamos a Las Vegas para acompanhar a luta contra o Aldo.”
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