EDITORIAL - Zona cinzenta

quinta-feira, 19 de junho de 2014
por Jornal A Voz da Serra

A COLUNA Massimo, publicada ontem em A VOZ DA SERRA, registrou a intenção de empresário local em restaurar a fonte do Suspiro, seriamente danificada na chuva de 2011 e até hoje sem receber a devida atenção do poder público. Patrimônio friburguense e ponto de destaque na história e no turismo da cidade, a fonte precisa, mesmo, da atenção de todos. Nada contra a intenção, que demonstra o interesse da iniciativa privada em colaborar com o desenvolvimento da cidade.

TUDO contra, porém, quando se percebe a ausência do governo municipal ao descuidar de aspectos importantes na  valorização da autoestima da população, como são a cultura e o turismo. Três anos se passaram da tragédia climática e a Prefeitura continua dando as costas para a recuperação de pontos importantes da cidade, como, por exemplo, em obras de recuperação no Córrego Dantas, conforme denunciamos semana passada, e em programa de revitalização da cultura local, como o abandono do Centro de Arte, de outros pontos e da própria fonte do Suspiro. Sem falar na inexistência de um calendário que atraia — e traga — mais visitantes a Friburgo.

A FALTA de iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura tem permitido que a oposição política tome a frente na discussão de temas de real importância para cidade, como foi a iniciativa do vereador petista Cláudio Damião em realizar recentemente audiência pública para tratar do assunto. E foram muitas as sugestões resultantes daquele encontro. Todas, diga-se de passagem, exortando o poder público a tomar a frente que, pela Constituição, deve ficar a cargo do Estado. Dever do Estado e direito do cidadão, que precisa ser respeitado.

A CULTURA é apenas a ‘ponta do iceberg’ de dificuldades constatadas há muitos anos por conta de governos desinteressados ou comprometidos com outros interesses que não os da população. E por falta de iniciativa, outros tomam a frente, deixando a administração municipal a reboque das decisões. Falta vontade política e, mais ainda, visão para gerir — com uma equipe competente — os desafios apresentados. O município, infelizmente, está regredindo.

POR NÃO se incumbir de suas responsabilidades, o município tem perdido importância no contexto do interior fluminense como polo regional de desenvolvimento, agregando em seu redor dezenas de municípios que dependem de sua influência. A economia capenga, a infraestrutura dependem somente do governo federal e estadual; a educação esbarra em sérios desafios, a saúde não consegue esvaziar corredores e filas de pacientes, o turismo está desarticulado. Salva, contudo, a esperança da população, que sempre "é a última que morre”.  

É HORA de mudar este estado de coisas. Não é mais possível que a Prefeitura continue apenas a fazer o "rame rame” administrativo, sem oferecer novas perspectivas de crescimento para a população. Enquanto municípios avançam com  uso de tecnologia, capacitação e participação popular, nossa cidade se fecha num hermetismo político que nada constrói. Será preciso o socorro de alguns "abnegados” amantes da cidade para que se consiga dar um novo alento a tantas questões, como a simples restauração de uma fonte no Suspiro? Há alguma coisa estranha no ar. Uma zona cinzenta que precisa ser clareada, antes que fique pior.

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