EDITORIAL - Visão míope

quarta-feira, 15 de outubro de 2014
por Jornal A Voz da Serra

FOI NO mínimo falta de visão política do prefeito a decisão pela demissão da subsecretária de Cultura do município, Maria Amélia Curvello, no dia 15 de setembro, e publicada no Diário Oficial da Prefeitura anteontem. Agindo nos moldes da ultrapassada política do patrulhamento, o chefe do Executivo não gostou das críticas feitas ao governo e optou pelo caminho mais curto, demitindo-a. 

SEM SE preocupar em avaliar as fundamentadas questões levantadas pela subsecretária quando deu entrevista exclusiva a este jornal no mês passado, em que questionou de forma contundente a gestão cultural do município, o mandatário escolheu retirá-la do cargo em vez de refletir sobre o que foi dito, admitindo, democraticamente, as falhas existentes e buscar melhorar o que foi revelado.

NÃO É novidade para ninguém a falta de estrutura da Secretaria de Cultura e também o histórico desinteresse dos últimos mandatários em dotar aquela pasta de reais condições de funcionamento. Sem verbas para trabalhar e sem um quadro técnico devidamente capacitado, a cultura foi perdendo espaço, sendo colocada em segundo plano nas metas de governo, tornando-se  o "patinho feio” da administração.

É BOM lembrar que a ex-subsecretária, além de companheira política do prefeito durante o governo da prefeita Saudade Braga, teve papel relevante na construção da Cultura friburguense, sendo a primeira secretária e responsável pela criação da Oficina-Escola, da conclusão das obras do Corredor Cultural do Suspiro, do Teatro Municipal e da implantação dos Pontos de Cultura de Olaria e Riograndina. 

FOI NA sua gestão que o município também se estruturou para participar do Plano Nacional de Cultura, instalando o Conselho Municipal de Cultura, permitindo ao município receber verbas específicas do governo federal com a participação efetiva da sociedade. Também na sua administração a classe artística local pôde participar das políticas públicas, como ocorreu através do Fórum Municipal de Cultura, onde foram apresentadas inúmeras sugestões para o desenvolvimento do setor.

O SEU retorno à Secretaria teve a intenção de reforçar o quadro técnico, reestruturar a Oficina-Escola — que vinha sendo objeto de canibalização com a saída de professores e o consequente enfraquecimento de seu corpo docente — e dar um novo fôlego à instituição, que teve suas instalações transferidas para o prédio do antigo Fórum, fugindo ao conteúdo pedagógico da proposta original. E também restaurar os pontos de cultura que estavam praticamente desativados.  

A SAÍDA de Maria Amélia da gestão cultural é um retrocesso que penaliza, em última instância, a própria comunidade. Já capenga por falta de verbas, a cultura friburguense sofre agora a perda de valores que poderiam somar ao governo oferecendo um serviço de qualidade com competência reconhecida por sua atuação passada. Mais uma vez erra o governo em não reconhecer os legítimos valores friburguenses. Uma pena para a cultura, uma perda para Nova Friburgo.

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