EDITORIAL - Emoção e indignação

segunda-feira, 09 de junho de 2014
por Jornal A Voz da Serra

AGORA SÓ resta torcer. Na véspera da abertura da Copa do Mundo, o que foi feito, foi e o resto, o propalado "legado”, fica para depois e sabe-se lá quando. Desde o anúncio da realização do evento no Brasil, o número de "brascéticos e brasdescrentes” só fez aumentar e chega hoje, a um dia da abertura, a um elevado percentual dos que não creem na eficácia do evento como propagador de mudanças significativas para a população.

O MÊS DE JUNHO está sendo marcado pela emoção dos jogos que irão mexer com o coração dos brasileiros em todos os rincões. Afinal, o futebol ainda é a grande paixão nacional, embora a situação não permita tantas comemorações. Deixadas de lado as preocupações por algum tempo, a época é de torcer pelo sucesso dos nossos jogadores, consumando o desejo nacional de levantar a taça em solo pátrio. Somos os únicos campeões a não comemorar o título em nossos próprios gramados.

TURISTAS de todo o mundo chegam em clima festivo, embalados na tradicional hospitalidade brasileira, e não devem ficar decepcionados com a receptividade. Afinal, brasileiro sabe separar a tristeza da alegria e não deverá misturar as emoções num mesmo caldeirão, contrariando a expectativa de muitos que optam pela filosofia do "quanto pior, melhor”.  O momento é de torcer os dedos e não os narizes.

A POPULAÇÃO que agora torce pelo sucesso dos nossos 23 jogadores é a mesma que, há um ano exatamente, foi às ruas compor o coro dos descontentes, indignada com a falta de estrutura das cidades e as dificuldades enfrentadas para cumprir as mais elementares rotinas de um país com as nossas dimensões. Falta transporte, escola, saúde, trabalho, segurança e moradia. O conjunto de carências fez tremer as estruturas do Palácio do Planalto e reduzir a capacidade de gestão dos nossos políticos a níveis alarmantes de incompetência e impopularidade.

NEM MESMO o ”padrão Fifa” imposto pelos cartolas do futebol mundial ao governo federal foi capaz de reverter o quadro nacional. Importantes obras ficaram pelo caminho, aeroportos não foram reformados a tempo, viadutos não se ergueram, trens não ficaram nos trilhos.  Inclusive o discurso populista da presidente não foi capaz de levantar o ânimo e levar a população a acreditar na luz no fim do túnel. Para reverter a situação, não basta apenas promessas na mídia. É preciso ficar sintonizada com os desejos da sociedade. E trabalhar.

SE CONSEGUIREMOS ou não o cobiçado título de hexacampeões é outra conversa. Não temos bola de cristal, não nos defendemos do acaso nem do destino, não prognosticamos o futuro. Somos tão somente torcedores fiéis à espera da comemoração do gol entalado na garganta, da vitória feita na raça. O resto fica para depois, quando terminar a Copa. Aí será mais um round na luta pelo progresso e pelo desenvolvimento, com as eleições presidenciais de outubro. Conseguiremos outra vitória? Seremos campeões da justiça social? Com a palavra, o torcedor eleitor.

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