NOVA FRIBURGO chora os seus mortos, respira a poeira deixada no rastro da maior catástrofe natural de sua história, dá adeus a uma parte do patrimônio natural que tão bem a caracterizava – as montanhas e matas que hoje expõem as feridas dos deslizamentos, mas prossegue altiva em sua marcha progressista. Friburgo está ferida, mas não morta.
A TRAGÉDIA que se abateu sobre todos nós promoveu comoção mundial, levando muitos a oferecerem auxílio de todas as formas, numa rara demonstração de solidariedade global que comoveu a todos os friburguenses. Porém, mais importante é o trabalho da comunidade, que em meio ao caos uniu-se para salvar seus conterrâneos, expondo-se também ao risco da morte que varria centenas de pessoas naquela trágica madrugada de 12 de janeiro.
RELATOS dramáticos de gente que não apareceu na mídia nacional dão conta do realismo da situação anormal vivida na cidade e as tentativas de se salvar o que puder. A generosidade amiga deu abrigo aos desabrigados, alimentou, agasalhou, acolheu famílias que perderam seus entes queridos e bens materiais. O calor humano friburguense foi posto à prova e mais uma vez revelou a generosidade do povo e a mão amiga das horas difíceis.
O EXCESSIVO volume de chuva que caiu no município e na região serrana superou todas as expectativas, porém, existem razões para tal. Ou pelo menos algumas razões. Em novembro do ano passado, reportagem de A VOZ DA SERRA indagava se o município estava preparado para receber as conhecidas chuvas de verão e todas as suas conseqüências. Não estava, assim como não está o Estado do Rio e nem o Brasil.
MUITAS CIDADES brasileiras não possuem estrutura de defesa civil e as que as têm não estão aparelhadas com recursos humanos nem financeiros. Por conta da despreocupação, má gestão administrativa e falta de planejamento, sem falar no interesse eleitoral, permite-se a construção desordenada de residências em áreas de risco, sem a mínima assistência técnica e sem a adequada segurança para abrigar famílias.
A PRESENÇA da presidenta Dilma Roussef em Nova Friburgo, tão logo aconteceu a tragédia, demonstra a preocupação do governo federal com o crescimento urbano desordenado do país, embora já tenhamos um Estatuto das Cidades. Sua visita pode sinalizar para a criação de uma política de fixação urbana mais rigorosa, exigindo-se dos prefeitos e governadores uma ação mais consistente da fiscalização e, se possível, punitiva para com os que desrespeitam a legislação, inclusive os políticos.
NÃO BASTA apenas ao governo destinar verbas salvadoras para estados e municípios. É preciso estabelecer regras para a reconstrução de estradas, prédios e moradias baseadas em critérios técnicos para não haver uma sangria de recursos públicos em obras que podem cair a qualquer tempo. Por falta de um serviço de geotecnia que poucas cidades possuem, milhões de brasileiros expõem-se ao risco diário de uma construção mal feita e insegura.
AINDA vivemos sob a emoção dos acontecimentos. Contudo, esperamos que a razão prevaleça e que os friburguenses possam continuar a fazer desta terra um lugar de paz, harmonia e fraternidade, com segurança para morar e viver.
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