Editorial - Biblioteca viva - 26 de agosto 2011

sexta-feira, 26 de agosto de 2011
por Jornal A Voz da Serra

O PREFEITO Dermeval Neto firmou ontem acordo com a área cultural do governo federal, através da Secretaria Estadual de Cultura, para a implantação do programa Mais Cultura - Agentes Jovens de Leitura, para que estes levem o livro e a leitura para famílias beneficiadas pelo bolsa família. Os agentes receberão capacitação para o desenvolvimento da tarefa, uma bicicleta, um acervo de cerca de 100 livros, uniformes, e bolsa de R$ 350,00 por 20 horas de trabalho semanal.

SEM verbas para reforma, com exigências burocráticas e preenchimentos de cadastros intermináveis, a Secretaria Pró-Leitura do município desenvolve um trabalho paralelo de reconstrução da autoestima da população, fortalecendo a cultura friburguense. Sem dinheiro, mas com determinação e amor ao trabalho, a Biblioteca Municipal foi um braço amigo da população sofrida pela tragédia de janeiro, oferecendo um importante apoio sociocultural aos desabrigados.

A PRIMEIRA secretaria de leitura criada especificamente para esta finalidade hoje ostenta um acervo de 83 mil livros, sendo a maior biblioteca do interior do Rio. Ampliou significativamente a difusão do livro com a criação de salas de leitura na área rural e expandiu a área urbana com uma sala em Olaria e duas outras em fase de montagem em Conselheiro Paulino e no Cônego.

EM TERMOS nacionais, a situação das bibliotecas públicas é péssima e, apesar dos esforços de seus funcionários, cumprem mal a função de garantir à população o acesso gratuito aos livros. Pesquisa realizada pela Secretaria de Política Cultural do Ministério da Cultura identificou cerca de 4 mil bibliotecas públicas em todo o país, em sua esmagadora maioria municipais. Mais de 80% de seu público é formado por estudantes, um indicador indireto da falta de bibliotecas nas escolas. O acervo da grande maioria dessas bibliotecas não é atualizado há vários anos; essencialmente, elas não compram livros, mas sobrevivem com doações—o que significa que estes acervos crescem ao acaso e sem uma política racional de compras voltada para as necessidades de seus frequentadores específicos, os estudantes.

OUTROS dados também preocupam e afetam diretamente a todos, dentre os quais o preço dos livros no Brasil. Nas bienais, os preços médios ficam em R$ 30, pois as baixas tiragens puxam o preço para cima. Além disso, muitos brasileiros simplesmente não querem ler: apenas um em cada três adultos alfabetizados lê livros. O brasileiro médio lê 1,8 livro não acadêmico por ano—menos da metade do que se lê nos Estados Unidos ou na Europa. Em uma pesquisa recente sobre hábitos de leitura estamos no final da fila dentre os 50 países emergentes.

O ESFORÇO da Secretaria Pró-Leitura em ampliar os seus trabalhos mostra que nem sempre o dinheiro pode fazer acontecer as coisas. A falta estimula a criatividade e é isto que acontece com a biblioteca, que se tornou uma casa viva, com recreadores, músicos, contadores de história, rodas de leitura e apresentações teatrais, interagindo com a comunidade. O apoio da prefeitura às suas iniciativas, como visto agora, permitirá que a biblioteca continue atuando em prol de uma outra reconstrução—a do cidadão friburguense.

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