EDITORIAL - A falta que eles fazem

domingo, 27 de julho de 2014
por Jornal A Voz da Serra

HÁ MAIS DE uma década, repousa na inércia da administração municipal laudo técnico da Fundação Instituto Oswaldo Cruz acerca do ar ambiente da Biblioteca de Nova Friburgo instalado no primeiro andar da Câmara Municipal. Naquela época, técnicos já advertiam quanto à má qualidade do ar e os riscos à saúde de funcionários e de usuários daquela única biblioteca da cidade. Hoje as coisas são piores.

AVALIAÇÕES concluíram que aquele espaço deveria receber atenção especial, prevenindo os riscos para a saúde humana e a salvaguarda do acervo dos mais de 35 mil livros e periódicos lá existentes. Pois bem: até o momento, nada foi feito para eliminar os fungos que assolam os livros e climatizar aquela repartição. Os riscos ainda persistem, provavelmente agora em maior grau de periculosidade e insalubridade.

A PREOCUPAÇÃO dos que amam os livros e aquela instituição sexagenária é visível e é compartilhada por milhares de frequentadores acerca das condições estruturais da biblioteca. Ela passa, ainda hoje, por momentos de dificuldades para a manutenção de seu importante acervo colocando em risco o patrimônio guardado ao longo dos anos e objeto de permanente consulta por parte de leitores em geral.

FUNGOS e umidade ambiental invadem impiedosamente os seus livros, privando as gerações de parte fundamental de sua formação educacional, hoje à mercê das substâncias que afetam a celulose do papel e diversos outros materiais presentes em todas as bibliotecas. De acordo com estudiosos, o clima do Brasil agrava o problema, pois o calor e a umidade favorecem a o desenvolvimento de fungos. E o inverno também é impiedoso.

TAMBÉM HÁ ANOS, medida preventiva foi tomada com o fechamento temporário das instalações do Pró-Memória, anexo à Usina Cultural da Energisa, enquanto aguardavam uma solução para o grave problema dos fungos em suas instalações, o que quer dizer falta de verba para a manutenção de toda a história de Nova Friburgo lá existente. Paralelamente, protegia-se a saúde dos funcionários e usuários, até que o ambiente de trabalho voltasse a se tornar seguro para continuar a desempenhar suas atividades. 

O PATRIMÔNIO CULTURAL de Nova Friburgo é um bem que não pode ficar sem o apoio das autoridades do município, do estado e do governo federal. É dever do Estado e de todos os cidadãos que precisam ter acesso aos livros. Além disso, devido à sua abrangência educacional, tornou-se referência para diversos municípios realizarem trabalho semelhante. Tais virtudes, por conseguinte, não podem prescindir de uma infraestrutura compatível com o material que conserva, em recursos humanos e bens materiais.

O ESFORÇO do governo municipal em criar a primeira Secretaria Municipal de Leitura do país, na época do ex-prefeito Heródoto, não foi adiante e nem suficiente para "zerar” o déficit cultural do município com a formação de seus cidadãos. Por uma série de razões, a cultura é o "patinho feio” da administração.  É preciso, portanto, reverter esta imagem negativa, oferecendo estrutura adequada para que todos tenham acesso aos livros, num ambiente devidamente protegido e saudável.

O ESFORÇO não deve se restringir apenas ao combate aos fungos existentes. Deve vir acompanhado de uma reformulação do seu acervo com a aquisição de livros de literatura e não simplesmente com livros didáticos, que nem sempre são atualizados; bibliotecas estudantis devem ser instaladas nas próprias escolas, próximas ao seu público especifico.

OUTROS dados também preocupam e afetam diretamente a todos, dentre os quais o preço dos livros no Brasil. Além disso, muitos brasileiros são analfabetos funcionais e simplesmente não querem ler. Apenas um adulto alfabetizado em cada três lê livros. O brasileiro médio lê 1,8 livro não acadêmico por ano — menos da metade do que se lê nos EUA ou na Europa. Em uma pesquisa recente sobre hábitos de leitura, estamos no final da fila dentre os 50 países emergentes. Um desonroso 47 lugar.  

PARA NÃO carregarmos o título de cidade "não leitora”, o governo tem pela frente uma tarefa desafiadora e, ao mesmo tempo, gratificante. O governo federal pode efetivamente ajudar através do Plano Nacional de Livros e Leitura, bem como o governo estadual, através de diversos órgãos. Porém, a mudança só será possível com a soberana decisão do cidadão friburguense, leitor ainda ausente, e que será o maior beneficiário da medida. A mudança, pois, corretamente, começa com o livro na sala de aula.


CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade