Eloir Perdigão
O Rio Bengalas atingiu seu ponto máximo de poluição há algum tempo atrás ao ponto de algumas pessoas o considerarem um rio morto. Até que a concessionária Águas de Nova Friburgo deu início à implantação dos interceptores de esgoto para tratamento. O trabalho começou por Olaria e agora já contempla o centro da cidade, até Duas Pedras. E os resultados já são percebidos. É comum pessoas comentarem que vislumbram o rio limpo. E o Rio Bengalas limpo nos remete a uma época um pouco distante, em que até passeios de barcos foram possíveis, sem poluição ao redor.
Uma das testemunhas dessa época é o empresário José Aucar, que participou de um daqueles passeios de barco pelo Rio Bengalas, lá pelos idos da década de 1960. Ele conta que foi durante um dos festejos de aniversário da cidade, que duravam todo o mês de maio, até que posteriormente os prefeitos não deram mais tanta importância a essas comemorações.
OS PASSEIOS DE BARCO – A ideia surgiu a partir de uma conversa entre José Aucar, Teté Bertão e outros amigos, entre os quais o próprio prefeito de então, Feliciano Costa. E foi Teté quem sugeriu fazer algo diferente. E quase em tom de piada, “Uma festa em Veneza”, represando o Rio Bengalas e promovendo passeios de barco. E acabou virando realidade.
O rio foi realmente represado próximo ao Colégio Modelo (Ponte do Suspiro) e houve um apelo para quem pudesse ceder os barcos. Um dos amigos, Zé Tcheco, já falecido, fez um barco do tipo pantanal, com motor atrás, que também foi uma atração. E como Aucar queria participar também, conseguiu um barco emprestado e foi um dos baluartes dos festejos de maio daquele ano.
Aucar admite que não chegou a ser uma coisa espetacular, até porque não haviam tantos barcos. Mas foi muito interessante. Quem chegou com seu barco fez o passeio pelo rio e foi juntando gente para ver. Segundo Aucar, o remanso do rio se estendeu até a delegacia, onde hoje está o Edifício Itália.
FALTAM AS FLORES - O prefeito Feliciano costa chegou a duvidar dessa festa diferente, que durou cerca de 15 dias. Ainda não havia as antigas muretas às margens do Rio Bengalas, que só foram construídas posteriormente; não haviam grades e quase nenhuma poluição. Somente flores, predominando as hortênsias. “Friburgo era muito feliz, não havia nada que se pudesse botar algum defeito”, atesta Aucar.
Essa “festa em Veneza” foi feita uma única vez. E Aucar atribui a sua descontinuidade, bem como os festejos de maio, aos prefeitos que se seguiram, com seus secretários, que não fizeram mais festa. “Os festejos de maio foram diminuindo, depois veio festa da cerveja e não foi mais a mesma atração”, lamenta.
O Rio Bengalas, por sua vez, teve as margens cercadas, depois recebeu os paredões, veio a poluição e só restou a lembrança: “Era muito gostoso mesmo. Foi só essa vez, numa época que ainda se podia represar o Rio Bengalas para a gente poder passear”, destaca Aucar.
Para o empresário, o Bengalas hoje parece estar em recuperação, mas não tem certeza de que o tratamento que recebe seja o correto. Aucar questiona a falta de coleta das saídas de bueiros. Mas acredita que, com um trabalho de cultivo de flores, ele volte a ficar bonito. “Se plantar flores ali nas margens vai dar para fotografar novamente”.
Aucar lembra que Nova Friburgo chegou a ser conhecida como “A Cidade dos Cravos”, enquanto hoje não se acha nenhum cravo pela cidade ou qualquer outra flor. Toda a produção é vendida para fora. Em sua opinião isto torna a cidade mais triste. E afirma, que se for desfiado a fazer algo para enfeitar a cidade, vai fazer algo parecido com o que foi feito na Praça Marcílio Dias, no Paissandu. “Veja que coisa bonita aqueles jardins. Entretanto, a Praça Getúlio Vargas, que decepção. Quando está ventando, então, como na semana passada, todo mundo saiu, com medo de cair alguma coisa na cabeça”.
José Aucar deixa uma pergunta no ar: “Nós temos tanta plantação de flores, será que esses homens que lidam com flores não colaborariam com a praça, enfeitá-la, melhorar os jardins?”, salientando que isso chega a revoltá-lo. E deixa o tema “florir a cidade” como proposta para o novo prefeito. E desde já se compromete a ajudar nesse sentido, “sem um tostão da Prefeitura”. E complementa: “É o que está faltando. Friburgo está muito feia. Se olha para cima é essa fiação, esse amontoado de fios, isso enfeia muito Friburgo. Temos que florir Friburgo e o Rio Bengalas também, que é um rio de tradição, com muita história para contar”.
Deixe o seu comentário