Estou indignado! Aquelas indignações que vêm, torturam e passam. E como escrever, pra mim, é o melhor remédio para desabafar, sobrou para vocês aturarem minha revolta. Aí vai:
No último final de semana, peguei um ônibus aqui no Rio para ir à praia. Na ocasião, uma linha que faz ligação entre o bairro do Flamengo e Ipanema. Já na segunda parada, três turistas alemães subiram. Eu estava sentado no meio do carro, quando os gigantes entraram, bêbados, e seguiram direto para o fundo, a fim de sentarem nos últimos bancos. Por último, notei a presença de uma criança negra e bem humilde, de no máximo 13 anos de idade. Ela passou por mim com um semblante triste, de quem estava aterrorizada. Logo em seguida entendi: ela estava de mãos dadas com um dos turistas, e seu sofrimento era notório. Do lado de fora do ônibus, a mãe, que entregava sua filha para três pedófilos, falava pela janela com o rapaz que prendia e segurava sua filha: “Se ela chorar muito, liga para o telefone que anotei”. Os três estavam muito à vontade, e não tardou para começar um festival de beijos na boca, pelo qual os três beijavam a criança como se trocassem de mãos o controle de um videogame. No meio do caminho, um deles andou e falou algo com o trocador, que apertou a mão do gringo e disparou: “OK, ENTENDI”. Mais à frente, a condução parou em um local onde todos os passageiros estranharam. Não havia nenhum ponto, apenas um bar na calçada. Um deles então desceu, e todos os passageiros ficaram esperando. O quê? O alemão pedófilo voltar com três latinhas de cerveja, uma garrafa de Vodka Absolute e uma Coca-Cola para o trocador, que lhe agradeceu sorridente e ainda disse pra mim: “Gente boa o cara, não é?”. Foi então que eu respondi: “Gente boa? Quer dizer que eu fiquei dois minutos parado esperando o gringo comprar bebidas pra estuprar a criança?”. E ele respondeu: “Ah rapaz, aquela lá atrás com ele é uma futura garota de programa, não tem pra onde fugir, aqui é assim mesmo, começam cedo, a mãe dela, inclusive, sabe de tudo”. Indignado, eu retruquei: “Se você estivesse na Alemanha, e pedisse para o trocador de um transporte público parar fora do ponto pra você comprar cerveja, o que você acha que ele responderia?”. E ele, irônico, respondeu: “O que ele ia dizer eu não sei, mas eu, com certeza, não ia dar um ‘refri’ pra ele de brinde. Deu pra ver que o gringo, além de ter pedido um favor, se preocupa com o meu trabalho”. Logo vi que o diálogo era inútil. Levantei e sentei-me mais atrás, a fim de arrumar alguma confusão com aquela situação. Posicionei-me no banco lateral do fundo do ônibus, bem ao lado de onde eles estavam sentados. E, para minha surpresa, o alemão me ofereceu uma latinha de cerveja enquanto a outra mão permanecia nas partes íntimas da criança. Não aguentei: peguei a latinha e joguei pela janela. A confusão começou! Um deles começou a me xingar, enquanto os outros dois perceberam rápido o que se passava e soltaram a criança, que pulou pela janela do ônibus na primeira oportunidade. Ao levar o empurrão de um deles, erroneamente revidei com um belo soco em seu grande nariz, que começou a sangrar. Revoltado, ele gritava comigo algo parecido com “kdlgjsdkljas”. Eu não entendi nada, além do bafo de cerveja misturado com cheiro de sangue. Entendi menos ainda quando o próprio motorista e trocador pararam o ônibus e me entregaram para um policial, que pediu que eu descesse e o acompanhasse junto aos gringos até uma delegacia, depois do trocador ter dito que eu estava arrumando tumulto. Chegando lá, os três registraram queixas de agressão da minha parte e o delegado me perguntou: “É um caso de ‘Cenôfobia’?”. Demoramos a chegar num consenso até eu descobrir que ela queria dizer Xenofobia. Ao me explicar então com o delegado, após duas horas explicando o que aconteceu, o mesmo ficou do meu lado e eu fui liberado. Ao sair da delegacia, o que acertei em cheio o nariz gritou novamente: “Jvhsadsfkjassdjfha”. Sem mais nada a fazer, respondi gritando em alto e bom português: “Aqui no Brasil é festa o ano inteiro, mas não é carnaval”.
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