Não conheço nenhum escritor que não seja perdidamente apaixonado pela leitura. Além disso, é lendo que se aprende a escrever.
Experimente encostar um autor na parede com a seguinte questão: – “Se você, de repente, fosse proibido de ler ou de escrever, o que escolheria?”. Posso sem dúvida alguma antecipar para vocês a resposta da esmagadora maioria dos entrevistados: – “Continuar lendo”.
A escritora Nuria Anat, em seu belo ensaio Letra Ferida trouxe à baila esse jogo, afirmando ainda que ele desnuda almas, pois entrega de bandeja os escritores que optam por preferirem a escrita: “São pessoas que cultivam mais o seu próprio personagem do que a verdade”.
Não se pode mesmo viver sem leitura. Ser impedido de escrever, para quem tem a literatura por ofício e, conseqüentemente, paixão, significa sofrimento sem fim, porém, a proibição da leitura significa para nós, escritores, a própria morte. (O escritor Ray Bradbury, em Farenheit 451 – grau de combustão do papel – narra com muita arte o caos em que se transforma uma determinada e fictícia terra onde os leitores são perseguidos e os livros queimados em praça pública.
De fato, não há vida em um mundo desprovido de livros. Em alguns países da África, onde predomina a oralidade, diz-se que “quando morre um velho é uma biblioteca que se queima”.
Ler faz bem à saúde, adverte o coração, e é capaz de adiar até a própria morte, pois leitor que se preza não morre antes de acabar o livro que está lendo.
Em um seminário de literatura, a escritora argentina Graciela Cabal confirmou com muito bom humor o que já havia segredado meu muito saudoso amigo, o poeta paraibano de Patos, Tarcísio César:
- “Leitura sempre adia a morte. Se ela chega de mansinho e vê você lendo, curiosa que é, estica o olho, como a gente faz no ônibus ou no metrô, e aí se distrai, se envolve, se emociona, se surpreende e assim acaba por esquecer o que viera fazer por ali.
Nesse caso, ao invés de termos uma “morte anunciada”, teremos sempre uma morte prorrogada até o ponto final.
Assim, fica aqui um conselho: tenha sempre pelo menos um livro à mão – o mais grosso possível.
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