Duas Pedras: a longa espera pela canalização e limpeza do Córrego dos Mosquitos

quinta-feira, 22 de novembro de 2012
por Jornal A Voz da Serra
Duas Pedras: a longa espera pela canalização e limpeza do Córrego dos Mosquitos
Duas Pedras: a longa espera pela canalização e limpeza do Córrego dos Mosquitos

Henrique Amorim
Os muitos estragos causados pela tragédia das chuvas de 2011 trouxeram à tona um grave e antigo problema enfrentado pelos moradores do bairro Duas Pedras: a má sintonia entre diversas construções e o leito do Córrego dos Mosquitos, que corta grande parte do bairro e em vários trechos margeia imóveis e quintais e em outros é parcialmente canalizado correndo por baixo de outras diversas construções. Com a megaenxurrada de 12 de janeiro do ano passado, o assoreamento foi inevitável, assim como a cheia do córrego e a destruição de várias casas, algumas delas atingidas também pelos deslizamentos de encostas. O resultado não poderia ser outro: com os poucos investimentos públicos na reconstrução do município, o cenário de pós-guerra ainda toma conta de Duas Pedras. 
No bairro, principalmente ao longo das margens do córrego, que em dias secos se transforma em filetes de água corrente, várias casas já foram demolidas e tantas outras permanecem interditadas. Os moradores, obviamente, ficam apreensivos a cada chuva mais forte, pois nos trechos onde o leito do Córrego dos Mosquitos corre em galerias com manilhas de concreto quase não se vê mais a abertura das manilhas tamanha a quantidade de terra e entulho trazidos por enxurradas, como se observa junto a uma ponte da Rua Padre Vicente Próspero, cuja cabeceira foi quebrada pela força das águas que desembocam na via vindas das encostas da RJ-130 (Nova Friburgo-Teresópolis).
Nos trechos em que o córrego margeia os fundos de casas na Rua São Pedro, as tubulações de esgotos estão mergulhadas na lama do assoreamento do leito e facilmente entopem quando chove forte e há correnteza no local. “Para resolver esse eterno drama aqui só se mudarem o leito do Córrego dos Mosquitos, fazendo ele passar todo por dentro de galerias ao longo da Rua São Pedro. Só assim vai evitar a invasão das águas nas casas pelos ralos e vasos sanitários sempre que o leito sobe. O córrego não tem culpa. As casas foram construídas em cima dele. Outra solução é demolir todas as casas que passam por cima do córrego, mas aí será que todos os moradores serão indenizados?”, observa Paulo Theodoro de Alencar. 
Na Rua Deolinda da Silva, a moradora Adélia Melandra da Silva Lima fica apavorada a cada chuva forte. Na tragédia de 2011 ela ficou presa aos escombros de sua própria casa violentamente atingida pela avalanche de lama e pedras que deslizou da encosta atrás do Hospital São Lucas. Hoje, ela mora numa quitinete perto dali paga com Aluguel Social, mas só vai ao imóvel para dormir. Durante o dia ela fica na casa do filho e ali acompanhou de perto a construção de uma galeria com manilhas de concreto com um metro de largura e mais um metro de altura para captação de todo o volume de água vindo das enormes montanhas que dão nome ao bairro. 
A obra acabou não sendo finalizada após manifesto dos moradores que temiam o despejo de um volume muito maior de água no Córrego dos Mosquitos e o governo do estado optou, então, pelo desvio da captação das águas da encosta para as margens da rodovia RJ-130 junto à pista de sentido a Nova Friburgo. Em dias de chuva forte, como a galeria despeja todo o volume de água na margem da estrada, a enxurrada toma conta do asfalto dificultando até mesmo a circulação de veículos. Mesmo em dias secos, a água escorre sobre as pistas da rodovia próximo à esquina com as ruas João Belório e Padre Vicente Próspero.     
“O desejo de todos os moradores era que uma nova galeria fosse adaptada a que já está pronta e se estende desde a encosta até a calçada em frente ao Hospital São Lucas levando toda a água da enxurrada até o Rio Bengalas, mas até hoje o governo do estado não prosseguiu a obra”, lamentou Adélia que, mesmo diante a tantos problemas ali, admite não ter vontade de deixar o bairro Duas Pedras. “São 53 anos aqui. É uma vida. Vou consertar o que der e vamos levando a vida assim mesmo”, justifica a moradora, que não se assusta ao se deparar toda vez que chega à janela com escombros de casas interditadas ao redor.   
O engenheiro-chefe do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Rio de Janeiro (DER-RJ), Marcelo Góes Telles de Brito, informou que as obras de captação das águas das encostas na RJ-130 estão a cargo da Secretaria de Reconstrução Serrana que avalia projetos técnicos para viabilização das construções. Em outra encosta à margem da Rua São Pedro contenções com cortinas de concreto já estão sendo erguidas por empreiteiras contratadas pelo governo do estado.

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