“Agora havia oito velas na mesa; depois do primeiro bruxulear, as chamas subiram eretas, trazendo luminosidade para toda a extensão da mesa. No meio havia uma fruteira púrpura e amarela. O que fizeram com ela?, perguntou-se a Sra. Ramsay, pois o arranjo preparado por Rose com uvas e peras, conchas róseas raiadas e bananas, a fez pensar num troféu arrebanhado no fundo do mar, no banquete de Netuno, no cacho de folhas de parreira que cai do ombro de Baco (num certo quadro), entre peles de leopardo e tochas tremeluzindo, vermelhas e douradas... Trazida à luz assim de repente, ela parecia adquirir enorme tamanho e profundidade — como um mundo no qual se podia pegar do cajado e subir as montanhas, e descer os vales, e, para seu prazer (pois isso criava uma afinidade entre eles), viu que Augustus também regalava os olhos na mesma fruteira, mergulhava nela, arrancava uma flor aqui, uma borla mais adiante, e fazia-os retornar, depois de banqueteá-los, à sua colmeia. Este era seu modo de olhar, diferente do dela. Mas o fato de olharem juntos unia-os.
Agora todas as velas estavam acesas e sua luz aproximava os rostos de ambos os lados da mesa. E estes agora compunham agora mais um grupo ao redor da mesa do que quando estavam à luz do crepúsculo. Pois a noite estava agora encerrada do lado de fora das vidraças, o que, longe de dar uma visão precisa do mundo exterior, encrespava-o tão estranhamente, que ali, dentro da sala, parecia haver ordem e terra firme; no exterior havia apenas um reflexo em que tudo tremulava e desvanecia fluidamente.
Imediatamente todos passaram por uma brusca mudança, como se isso houvesse de fato acontecido e todos tivessem consciência de comporem um grupo numa caverna, numa ilha; o de defenderem a mesma causa contra a fluidez do exterior.
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