Este é o terceiro volume de “Em Busca do Tempo Perdido”.
Desta vez, Proust deixa o lirismo um pouco de lado para focar sua narrativa no cotidiano dos salons parisienses.
É um ambiente cruel.
Mas o livro tem momentos engraçados.
“ — Ora, Basin, bem sabe a quem a minha tia se refere!—exclamou a duquesa com indignação. —Ele é irmão daquela enorme herbívora que você teve a estranha ideia de mandar visitar-me no outro dia. Ela demorou uma hora, eu pensei que ia ficar louca. Mas comecei imaginando que ela é que era louca, ao ver entrar em minha casa uma pessoa desconhecida e que parecia uma vaca.
—Escute, Oriane, ela me perguntou qual era o teu dia de recepção; eu não podia fazer-lhe uma grosseria... E depois, tu exageras, ela não parece uma vaca—acrescentou com ar queixoso, não sem lançar um olhar risonho à assistência.
Sabia que a verve de sua esposa tinha necessidade de ser estimulada pela contradição, a contradição do bom senso que protesta, por exemplo, que não se pode tomar uma mulher por uma vaca (era assim que a senhora de Guermantes, insistindo sobre uma imagem, chegava muitas vezes a produzir os seus ditos mais espirituosos). E o duque, sem que o parecesse, se apresentava ingenuamente para auxiliá-la a executar sua habilidade, como num vagão, o inconfesso parceiro que executa um truque de cartas.
—Reconheço que ela não parece uma vaca, pois parece várias—exclamou a sra. de Guermantes. —Juro que estava bastante embaraçada ao ver aquele rebanho de vacas que entrava de chapéu em minha sala e me perguntava como eu ia passando. Por um lado eu tinha vontade de responder-lhe: “Mas, rebanho de vacas, tu não pode ter relações comigo porque és um rebanho de vacas”, e, por outro lado, procurando na memória, acabei por acreditar que a sua Cambremer era a infanta Dorotéia, que tinha dito que viria uma vez e que é também bastante bovina, de modo que estive a ponto de dizer Vossa Alteza real e falar em terceira pessoa a um rebanho de vacas.”
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