Poucos sabem usar palavrões e expressões vulgares com tanta pertinência, e poucos sabem falar mal dos outros de maneira tão engraçada. Bukoswski é considerado por muitos um “fanfarrão” da literatura, devido a sua escrita simples e, em muitos momentos, escatológica — e seu pouco apreço por escritores como Shakespeare e Tostói.
Aqueles que consideram sua obra como sendo literatura de segunda categoria, porém, precisam conhecer seus poemas — e livros em prosa como “Misto-Quente”. O título original da obra é Ham on Rye; e entre os tradutores brasileiros já é consenso considerar “Pão com Mortadela” sua melhor tradução. Isto é muito importante, pois o livro trata justamente da infância e juventude de um pobre Chinaski — o alterego de Bukowski presente em diversas histórias de sua autoria. Misto-Quente é um “romance de formação”.
E é também um romance sério e muito triste (o que não quer dizer que não há nele diversas partes engraçadas; com o tipo de humor característico do autor), cuja história se passa nos anos 30 — período da grande depressão americana. Henry Chinaski, uma criança imigrante alemã (assim como Bukowski) luta contra a pobreza, a violência sem sentido do pai, a passividade da mãe, o bullying na escola, o rosto infestado de espinhas e a ausência de namoradas. Mais tarde, tenta arrumar trabalho e se firmar na vida. Só consegue empregos medíocres.
Este pode até parecer um tema clichê (existem muitos livros e filmes assim), mas o que faz este livro ser tão bom é a maestria da escrita de Bukowski (forma), e a profundidade, autenticidade e a sinceridade comovente das situações que ele descreve (conteúdo).
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