Lançado no ano passado, “Guerra” (War) relata o dia a dia de combatentes americanos no Afeganistão sob o olhar do jornalista Sebastian Junger, que conviveu com um dos batalhões—a Companhia Battle—por 15 meses.
Junger também realizou, ao lado de Tim Hetherington, o documentário Restrepo—nome de um soldado carismático da mesma companhia, morto em batalha—utilizando boa parte das filmagens para escrever “Guerra”. O premiado repórter já havia publicado outros livros—“The Perfect Storm” e “Death in Belmont”, ambos com sucesso de público e crítica—e embora conhecesse o Afeganistão de outra oportunidade, neste livro seu objeto é a experiência dos soldados em combate—ou seja, não é a guerra do Afeganistão como um todo, nem a geopolítica, tampouco as ideologias que estão em questão, mas sim o cotidiano de jovens americanos que foram parar naquele país distante sem saber ao certo o que iriam encontrar pela frente, pois a Companhia Battle é um batalhão de frente que atua nos lugares mais críticos do Afeganistão—vilarejos e vales inóspitos controlados pelos talibãs—encontrando situações desumanas, ameaçadoras e estressantes.
“Guerra” aborda o medo dos soldados, e a coragem de enfrentá-lo; o sofrimento físico e emocional e sua superação em prol do grupo; as situações reais de batalha em mínimos detalhes, as estratégias e táticas, fazendo com que o leitor tenha uma boa visão desta guerra atual—não a partir dos escritórios de comando, mas a partir de onde ela ocorre efetivamente: fogo intenso, sujeira, calor, roupas rasgadas, fome, sono, adrenalina.
O livro mostra um tipo de guerra bem diferente daquela que imaginamos como sendo uma “guerra pós-moderna”—o mito de que ela seria fácil (para quem tem a superioridade econômica e tecnológica), asséptica, controlada à distância por botões.
“Para cada vantagem tecnológica dos americanos, os talibãs parecem desenvolver um equivalente, ou uma contramedida. Helicópteros Apache dispõem de sistema termal de geração de imagens que revela o calor de um corpo numa encosta, por isso os talibãs somem de vista protegendo-se sob um manto numa pedra quente. Os americanos utilizam pequenos aviões operados por controle remoto para localizar o inimigo, mas os talibãs conseguem o mesmo resultado observando um bando de corvos que voam em torno dos soldados americanos à procura de restos de comida. Os americanos têm um poder de fogo praticamente ilimitado, por isso os talibãs destacam apenas um homem para atacar uma base de apoio de fogos. Se ele morrer, não faz diferença, porque de qualquer maneira terá tido êxito em emperrar a máquina por mais um dia.”
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