Sempre não haverá local pra hospedá-LO. Principalmente num certo distrito de Nova Friburgo. Porque
chove...chove...chove chora natureza, chora mundo. Chora tudo!
Junto com você no domingo vinte e cinco de dezembro de 2011 virão esperanças alegres, criançada colorida, barulho de energia borbulhante.
Aqui não! Aqui não! Não temos interesse, só prejuízo, diziam.
E o menino amor aguarda um canto para vir à luz.
“Aqui não, aqui não!
De repente música se ouve ao longo: precisa; a repicar; sanfona, “sopro”, violino, pandeiro. Zabumba, triângulo, sacodem o cortejo, eis o auto de Natal.
À procura do menino que haveria de chegar.
Onde se encontram Maria e José?
Cadê a estrela, hoje não brilha?
E os três reis, se perderam?
Surpreendentemente artesãos arregaçam suas mangas, catam bambus em feixes, palmas, cipós, embiras... e constroem num gramado pequena e indefectível cabana forrada de esteiras, pelegos e pó de serra.
E antes da chuva, desde um cortejo rua abaixo. A cantar e rodar ao som da voz, da cor, das cordas a única via calçada do sétimo distrito.
Logo atrás o Bumba Meu Boi, rodopia.
Cirandas rodam de mãos dadas.
Maria de dez anos; pura e malvestida barriga de grávida, José silencioso, pastorinhas divertidas de vermelho vivo, três reizinhos de seis anos, ligadíssimos, batem às portas fechadas; cantam magias, recorrem aos truques e nada do menino, tudo no auto de Natal. Um teatro gratuito pra população perplexa, gratificada.
Enfim Maria e seu filho no palco improvisado surgem.
Ah, essas crianças vivem.
À filosofia da experiência. São elas mesmas: livres em comum união na sua comunidade esquecida.
Riquíssima em potencial.
Bucólico, nostálgico e nobre.
E ainda sem luz sem teto, o menino distrito aguarda providências do poder público.
No entanto, visitando-o, sentirão um bem-estar singular, imponderável e inesquecível.
Maria Cecília de Castro Pinto
Artista Plástica
Reside e mantém Ateliê em São Pedro da Serra
Preside “A Teia” Associação Teias da Serra de mulheres artesãs
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