Dois séculos, e não apenas 200 anos

No contexto dos “bicentenários” de Nova Friburgo, um tema que ainda promete atravessar o tempo
terça-feira, 14 de agosto de 2018
por Girlan Guilland
Em 1981, no segundo encontro suíço-brasileiro, a inauguração, em Estavayer, do monumento da Viagem dos Imigrantes em 1819
Em 1981, no segundo encontro suíço-brasileiro, a inauguração, em Estavayer, do monumento da Viagem dos Imigrantes em 1819

Na histórica edição de 16 de maio último de A VOZ DA SERRA, celebrando o bicentenário do decreto do Rei Dom João VI autorizando a pioneira imigração suíça ao Brasil e a fundação da colônia (depois Vila), antecedendo a cidade de hoje, havíamos lançado a pergunta: “Quantos 200 anos Nova Friburgo tem?”

O tema continua merecendo atenções. Ainda mais neste agosto comemorativo do Dia Nacional da Suíça (01/08), quando também o próprio prefeito friburguense, Renato Bravo, esteve na Europa a convite do Conselho de Estado do Canton de Fribourg cumprindo agenda em missão oficial, reforçando os laços que há mais de quatro décadas resgataram a ligação histórica com aquele país dos Alpes.

Assim é que os próximos 11 meses ainda nos remetem a outra celebração bicentenária, que terá seu ápice no dia 04 de julho de 2019. Transpondo o tempo, vamos à vila portuária de Estavayer-le-Lac, rememorando o que terá sido aquela “gloriosa jornada de domingo“, em 1819, quando a primeira leva dos cerca de mil colonos partiram da sua velha Helvécia em busca da Nova Terra Prometida.

Sim, a Suíça, seu governo, as autoridades e o povo preparam uma comemoração especial para marcar a saída de parte de sua gente, naquela que foi a ‘Viagem sem volta’, uma aventura pelo Atlântico, há quase dois séculos, a serem completados no ano que vem.

É comum, por isso, a confusão. Logo, a primeira reação é questionar: mas como Nova Friburgo completou seu bicentenário nesse 2018 e, no ano que vem, os suíços estarão comemorando outros 200 anos?

É preciso rememorar: em 16 de maio comemoramos o ato de Dom João autorizando a imigração, ao fundar, na então Fazenda do Morro Queimado, a colônia, que nem existia, mas acabara de ser concebida apenas no papel. As casas dos futuros moradores ainda seriam construídas, enquanto a viagem também ainda seria organizada.

Importante lembrar que, exatamente nesses dias em que vivemos o pós-bicentenário (16/5), quando assistimos ainda a comemoração do Dia Nacional da Suíça, há 199 anos dez cantões daquele País europeu viviam a expectativa de um grande feito, como está fartamente registrado em publicações sobre o tema, valendo recordar.

‘O encontro em Estavayer-le-Lac’

Como nos conta o historiador Martin Nicoulin, em seu livro ‘A Gênese de Nova Friburgo’: “No fim do mês de junho e início de julho, reina grande animação em muitas vilas e povoados helvéticos”. Acrescentando: “Os emigrantes preparam a grande viagem”.

Ainda sobre 04 de julho especificamente, o mesmo historiador detalha as primeiras horas daquele dia: “De manhã cedo, às cinco e meia, os colonos dirigem-se à igreja paroquial. O bispo começa a cerimônia religiosa com um sermão. Dirige aos emigrantes palavras de esperança. Sublinha que lá longe encontrão uma verdadeira pátria. Aconselha os futuros brasileiros a praticarem as virtudes da caridade cristã e a mostrarem-se ativos e trabalhadores para serem bem sucedidos em Nova Friburgo”.

Outro historiador, o médico Henrique Bom, em seu ‘Imigrantes - A saga do primeiro movimento migratório organizado rumo ao Brasil às portas da Independência’ também assinala com propriedade: “Um primeiro contingente, composto de 1.088 imigrantes, originários majoritariamente de Vaud, Valais, Genève, Neuchatel e da própria Fribourg, chega a Estavayer em sucessivas levas, entre 2 e 3 de julho de 1819, agrupando-se pelas ruelas do povoado, conforme as regiões de origem”.

Enriquecendo ainda a historiografia friburguense, acrescenta: (...) na manhã de 04 do mesmo mês, após cerimônia religiosa, e cercado por grande multidão - cronistas da época falam em seis mil espectadores, entre curiosos e parentes - um primeiro grupo parte rumo ao desconhecido em atmosfera festiva e burlesca, na qual não faltam, porém, o patético adeus de familiares que se despedem, em sua maioria, para sempre”.

Imaginemos em nossos dias, o que terá sido aquele momento e, ainda, os dias e os mais de seis meses que se seguiriam na monumental epopéia da travessia do Atlântico. Indiscutivelmente, merece toda a celebração e reverência, além da recordação, entre tantos feitos compondo o belo enredo da formação de Nova Friburgo.

Assim, 2019 também terá um bicentenário, igualmente 2020 e ainda o aparentemente distante ano de 2024, daqui a seis anos. Teremos outros dois grandes motivos e momentos para celebrar a especial e rica trajetória histórica friburguense, sobre os quais escreveremos posteriormente.

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TAGS: 200 anos
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