Dois olhares responsáveis sobre a vida

Idosos, sim. E em movimentação constante, também
segunda-feira, 03 de outubro de 2016
por Ana Blue
Renata Motroni: “Eu voto porque é o meu dever como cidadã” (Foto: Arquivo pessoal)
Renata Motroni: “Eu voto porque é o meu dever como cidadã” (Foto: Arquivo pessoal)

O dia 1º de outubro é o dia de conscientização sobre as necessidades dos idosos. Antes comemorado no dia 27 de setembro, a mudança de data se deu depois que o ex-presidente Lula sancionou o Estatuto do Idoso, em 1º de outubro de 2003, documento responsável por instituir uma política nacional que prevê, entre outros aspectos, direitos e deveres relativos a esta parcela da população, bem como as punições previstas a quem não respeitar a lei. O texto entende que a chamada terceira idade começa no 60º ano de vida e todos os cidadãos que chegam a essa faixa etária passam a ser protegidos legalmente pelo documento, mas, observando atentamente o que fomos um dia, e o que somos hoje, resta saber: quem é o idoso brasileiro, fora o que analisamos oficialmente, dentro de parâmetros cronológicos? 

O sociólogo Maurício Siaines visitou a redação de AVS no dia em que estava fazendo aniversário. Parabéns pra cá, muitas felicidades pra lá, depois dos cumprimentos e tapinhas nas costas, tem sempre aquele sujeito mais curioso que pergunta logo o número da nova idade. Ao que Maurício responde: “Tô fazendo 68, com o sonho de ainda jogar no Flamengo. Dá tempo?”. Pronto, caiu como uma luva ouvir esse desejo, logo no dia em que era preciso falar justamente sobre esses tais novos idosos.

Foi-se o tempo em que a gente dizia que qualquer coisa antiga era da época de “mil novecentos e vovozinha andando de bicicleta”, porque as vovós estão mais bicicleteiras do que nunca. Aliás, a cada dez pessoas que você vir circulando por aí, ao menos uma é idosa — e em algumas cidades brasileiras esse número é até maior. Até pouco tempo, a imagem que trazíamos na memória relativa aos que passaram dos 60 anos era de uma fragilidade exagerada, cheia de neuras de quem, jovem, ainda não aprendeu a lidar com o tempo. Mas hoje, mesmo considerando os aspectos biológicos, fisiológicos e demográficos da população idosa brasileira, uma coisa é certa: eles fazem parte da fatia mais resistente da espécie, que já foi capaz de suportar e superar todos os desafios impostos até ali, ao longo de mais de 60 anos de vida. E ainda se mantêm ativos — e cada vez mais ativos  e mais conectados a cada década que passa, mesmo com o avanço da idade. Já não se faz mais velhinhos como antigamente.

O idoso de hoje pratica esporte, faz amigos no Face, instala Tinder. Está familiarizado com a tecnologia: tem e-books de todos os temas e fome de aplicativos. Vira youtuber, vira blogueiro, aprende a tocar sanfona. Volta a estudar, inclusive, como é o caso de Claudio Carvalho, de 65 anos. Engenheiro químico, foi depois dos 60 anos de idade que ele voltou à sala da faculdade. “Como o mercado de trabalho para a minha área em Nova Friburgo é muito restrito, quase zero, eu iniciei o curso de licenciatura em química pelo Cederj, pra poder dar aulas no ensino médio.” E por causa de uma entrevista para fazer parte do quadro de docentes de uma universidade, Claudio decidiu ir além: iniciou o mestrado em ciência e tecnologia dos materiais no IPRJ/Uerj.

Fazer parte, participar: o idoso e o voto

Nas vésperas de mais uma eleição municipal, vale o adendo: o dever cívico do voto frequentemente fala mais alto que a determinação do Código Eleitoral brasileiro, que tornou o voto facultativo para indivíduos com menos de 18 anos de idade e mais de 70. Em Nova Friburgo, dos 34857 eleitores idosos, 16399 têm mais de 70 anos, ou seja, a rigor, estariam desobrigados da ida às urnas neste domingo, 2.

Um deles é pedadoga e inspetora educacional aposentada Renata Motroni, 70 anos. Perguntada sobre o que a moverá às urnas no domingo, ela não titubeou: “Eu vou porque é o meu dever enquanto cidadã — e dever não tem idade. Idade não tem a ver com o olhar político de cada um. Não é a minha idade cronológica que tem que definir minhas capacidades de decisão, de escolha, de observância do quadro atual da nossa cidade”, diz, acrescentando que “enquanto se está vivo, a gente tem obrigação com o planeta. Votar é um exercício de cidadania tão intrínseco quanto dar bom dia às pessoas. É nato”, conclui.

Uma coisa é certa: a experiência e as demandas desta parcela da população devem ser bem observadas pelos agentes da administração pública. 

Para finalizar, um último recado, né: os parabéns ao Siaines, com votos de muitas felicidades e a promessa de estar na arquibancada na sua estreia no Flamengo!   

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