Dalva Ventura
Noventa por cento da população mundial algum dia na vida terá uma crise de coluna. A estatística impressiona, mas é só olhar em torno. Todo mundo sente, já sentiu ou tem algum amigo ou parente que sofre de artrose, hérnia de disco, escoliose, dor do nervo ciático ou, simplesmente, lombalgia, a famosa dor nas costas.
Responsável por muitas faltas ao trabalho e limitações no cotidiano de tantas pessoas, as doenças degenerativas da coluna são um tormento para quem sofre deste mal. Quem está com uma crise de coluna não consegue produzir, assim como não consegue se divertir, não consegue fazer nada ou quase nada. E, o pior é que a doença ainda é tida como incurável pelos especialistas.
Mas, e então? A medicina ainda não conseguiu desenvolver um tratamento capaz de curar de uma vez por todas este mal? Estamos próximos disso? Até quando teremos de nos contentar com tratamentos paliativos que apenas controlam as crises, mas não curam a doença? Qual o papel das cirurgias minimamente invasivas neste processo? Estas e outras questões foram respondidas pelo neurocirurgião Armando Lemos, que esteve à frente da última Reunião de Apoio Terapêutico (Ratera) do Hospital São Lucas, na quinta-feira, 27.
Dirigida a um público leigo, formado em sua maioria,por pacientes operados pelo Serviço de Cirurgia Cardíaca do HSL, a palestra despertou um enorme interesse dos presentes. Além de explicar, de forma bem didática, a constituição Armando Lemos deteve-se na coluna vertebral e suas funções, Armando Lemos abordou, principalmente, as chamadas doenças degenerativas da coluna cervical e a lombar, que são as mais comuns e limitantes.
Novidades no tratamento das dores de coluna
A primeira questão colocada foi a causa dos problemas que acometem tanta gente? A genética, não resta dúvida, é a principal culpada, mas não é a única, garantiu o médico. Quem costuma carregar muito peso, tem uma tendência maior a apresentar problemas na coluna. Da mesma forma, ter uma postura ruim, como andar, dormir ou sentar de forma errada, tudo isso também contribui para o surgimento de dores na coluna. O fumo também tem uma relação direta com a degeneração dos discos e dos ligamentos.
Infelizmente, garantiu o médico, as doenças na coluna não têm cura. Não têm cura, ressaltou, mas têm tratamento. O melhor ainda é que a medicina aponta para uma série de novidades neste sentido. Segundo Armando Lemos, 80% das doenças degenerativas de coluna são tratadas clinicamente, com medicamentos. Utilizam-se, basicamente, analgésicos e antiinflamatórios, especialmente a cortisona. Os relaxantes musculares também ajudam a melhorar as crises de dor e são muito prescritos. Há casos em que se faz necessário aplicar injeções diretamente nos locais inflamados, com o objetivo de aliviar a dor e a dormência.
Em determinadas situações, os especialistas prescrevem antidepressivos que atuam aumentando o limiar de dor do paciente. ”Já se comprovou que quem sofre de dor crônica tem um baixo limiar de dor e os antidepressivos atuam também neste aspecto”, afirmou Armando Lemos. Em casos extremos (e por um tempo limitado), os médicos prescrevem até opiáceos, como a morfina, para aliviar a dor do paciente. .
As novidades em termos de tratamento clínico são os neuroinibidores – principalmente os relacionados com o complexo B – que restauram a função do nervo. Os neuroprotetores e os neuroliberadores também têm uma ação direta sobre o nervo e a medula, ajudando a melhorar a dor.
Além dos medicamentos, a fisioterapia tem um papel muito importante no tratamento, minimizando o processo inflamatório e aliviando a dor. Quanto ao repouso só é indicado na fase aguda da dor. Assim que a pessoa melhorar, deve voltar a se movimentar, a praticar uma atividade física, a caminhar. “O repouso é muito relativo e muito mais relacionado à diminuição da carga sobre a coluna, como evitar pegar peso, deitar torto, ou fazer esforço físico exagerado”, explica o médico.
No entanto, em 20% dos problemas de coluna o tratamento é cirúrgico. As cirurgias minimamente invasivas, tão em moda hoje em dia, são chamadas endoscópicas ou percutâneas, pessoas vêm sendo operadas da coluna com agulhas. Segundo Armando, estas cirurgias têm um resultado muito bom e representam um avanço. No entanto, suas indicações são muito restritas e, por enquanto, aplicados só em pacientes jovens que sofrem de doenças apenas num determinado ponto da coluna. Estas cirurgias minimamente invasivas não são muito comuns, sendo aplicadas em apenas 1% dos doentes.
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