Leonardo Lima
Em 1979 Antônio Nicodemos da Costa era só mais um nordestino que desembarcava em São Paulo na busca de uma vida melhor. Aos 19 anos o jovem deixou a pequena Solânea, no interior da Paraíba (a cerca de 130 quilômetros da capital João Pessoa) e foi tentar a sorte na maior cidade do país. “Fui para São Paulo com o objetivo de trabalhar em obras. Meu sonho era construir um daqueles prédios gigantes”, conta. Na capital paulista, Antônio encontrou seus irmãos, que também tinham feito o mesmo trajeto. “Eles trabalhavam num restaurante e conseguiram um emprego para mim lá. Como não tinha nenhum serviço fixo, comecei a trabalhar com eles”, explica.
E foi justamente naquele restaurante que Antônio aprendeu a profissão que exerce até hoje. “Era uma churrascaria e pizzaria ao mesmo tempo, ou seja, a gente fazia de tudo. Acabei me tornando churrasqueiro e pizzaiolo, é claro”, diz. Foi naquele restaurante também que ganhou o apelido pelo qual até hoje é chamado. “Não lembro o motivo, mas começaram a me chamar de Passarinho e pegou. Engraçado que quando cheguei a Nova Friburgo ninguém me chamava assim, até um dia que um colega me ligou de São Paulo e pediu para falar com o Passarinho. Aí já viu, virei Passarinho aqui também”, diverte-se.
A respeito de sua vinda para o interior do Rio de Janeiro, Passarinho explica que o convite foi feito por Severino, seu então gerente. “Ele era amigo do Fernando, que morava aqui em Nova Friburgo e estava para inaugurar uma pizzaria no estilo das que existem em São Paulo. Como ele não tinha conseguido nenhum pizzaiolo que lhe agradasse, pediu ao Severino para indicar alguém de confiança”, relembra. Após uma negociação, ambas as partes se entenderam e, em 1984, Passarinho chegava à cidade para trabalhar na Pizzaria Papillon.
Uma parceria que existe há 26 anos
Perguntado a respeito do que representa Passarinho para a pizzaria, o proprietário da Papillon, Marcelo Canto Crescêncio, não pensa duas vezes: “O Passarinho é a Papillon, o nosso braço direito. Ele é a alegria da casa com o seu bom humor, suas brincadeiras. Não temos como substituí-lo”, orgulha-se.
O reconhecimento ao pizzaiolo não vem apenas de seus colegas de trabalho. Ele mesmo revela que constantemente é parado na rua pelas pessoas. “Sempre tem alguém que passa por mim e cumprimenta. Criança, adulto, motorista, motociclista, gente a pé, nos ônibus. Tem cliente que vinha aqui quando criança e hoje traz seus filhos para comerem aqui”, afirma.
Sobre o motivo para tamanho carisma, Passarinho aponta uma brincadeira em especial, que cativa principalmente os mais novos. “Quando estou fazendo pizzas e vem uma criança ver como é o preparo, sempre dou um pirulito e um pedacinho de massa para ela brincar. Os pais contam que em casa elas sempre pedem para voltar aqui”, diz.
Há tanto tempo atuando na cidade, Passarinho garante que nunca teve receio de passar aos outros os segredos de suas pizzas. “Nunca tive medo de ensinar ninguém. Nesse tempo todo já passou muita gente por aqui e vários continuam trabalhando como pizzaiolos”, conta. Recentemente, Passarinho voltou a sua terra natal, onde viveu por quase dois anos e meio. Segundo ele, foi uma das quatro vezes que retornou à cidade desde que a deixou pela primeira vez. “Lá é muito difícil viver, trabalha-se mais na agricultura. Só dá para trabalhar mesmo como pizzaiolo na capital”, acredita.
Mesmo fazendo tantas delícias há décadas, Passarinho ainda tem prazer em saboreá-las. “Como pizza praticamente todos os dias. Só não tenho sabor preferido, gosto de todos os sabores”, admite.
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