Neste final de semana, além do Dia da Consciência Negra, que se comemorou nacionalmente no dia 20, sexta-feira, acontece, no sábado, em Nova Friburgo, a parada gay, mais exatamente, a Parada do Orgulho GLBT.
Os dois acontecimentos propõem a discussão de práticas discriminatórias que têm feito parte de nossa história.
Nossa população negra se instalou no país pela escravidão a que estava submetida e dela sofre consequências: compõe quase 70% dos mais pobres, segundo os mais respeitáveis órgãos de pesquisas.
Houve resistência à escravidão e a mais notável foi o Quilombo dos Palmares, em Alagoas. Há referências a sua existência já em 1580.
Foi também nesse ano que aconteceu a União Ibérica (1580-1640), em decorrência da morte do rei de Portugal, dom Sebastião, que levou o rei da Espanha a tornar-se também rei de Portugal e, consequentemente tornou o Brasil domínio espanhol. Também foi nessa época que aconteceram as invasões holandesas no Nordeste. Primeiro na Bahia (1624-1625), depois em Pernambuco (1630 -1654).
Zumbi, o mais importante líder do Quilombo dos Palmares, nasceu em Alagoas, em 1655, e morreu na defesa do quilombo, em 1695.
Acredita-se que o Quilombo dos Palmares tenha chegado a ter em torno de 20 mil habitantes, por volta de 1670. Mas não foi somente lá que essa forma de resistência à escravidão aconteceu. Aqui mesmo, em Nova Friburgo, historiadores apontam diversos acontecimentos de luta ou tentativa de fuga da situação de opressão. Há uma localidade ao longo da estrada Serramar, que liga Nova Friburgo ao litoral, conhecida como Quilombo e tudo indica que o nome não seja casual.
A situação desfavorecida dos negros correspondeu ao enriquecimento dos senhores e montou-se, a partir disto, a ordem social que evoluiu para o que temos agora. Se a discriminação no Brasil não assumiu a forma de segregação, como aconteceu nos Estados Unidos, ela não é mais branda. O acesso da população negra aos resultados da economia que acumulou recursos com o trabalho dos antigos escravos é muito mais difícil, uma evidência que não necessita de números para ser comprovada.
A crença de uma parte da população na inferioridade de outra – seja esta de caráter moral, intelectual, econômico ou cultural – é o início do processo de discriminação, que pode levar a fobias e atos violentos. Um dos processos mais tragicamente notáveis foi o desenvolvimento do nazismo, na Alemanha, depois da Primeira Guerra Mundial, que, entre outras coisas, tornou comum a crença de que a população judaica deveria ser extirpada. O “problema judaico”, como diziam, precisava de uma “solução final”. E esta foi a morte de 6 milhões de pzessoas em campos de concentração, fato que há hoje quem tente – sintomaticamente – negar, contra todas as evidências e provas. Não é à toa o uso aqui de um advérbio derivado do substantivo “sintoma”.
A discriminação exacerba-se, tornando-se fobia socialmente compartilhada por uma população em determinada situação social e histórica. A psiquiatria define fobia como um pânico que se desencadeia em situações específicas. É algo irracional e ilógico. É um mal, que quando se torna coletivo precisa ser discutido pela sociedade.
A discriminação de pessoas de orientação sexual diferente daquela considerada normal, ou correta, é um tipo de fobia coletiva. Às vezes, questões que envolvem sexualidade assumem ares de fobia coletiva que se manifesta violentamente, como aconteceu recentemente em São Paulo, contra o vestido curto de Geisy Arruda, em um ambiente universitário. Esse caso foi mais gritante – em todos os sentidos – que outros, mas há aquelas inclinações coletivas a rejeitar parcelas de humanidade, talvez eleitas como bodes expiatórios, que amadurecem mais lenta e silenciosamente, e a homofobia é uma delas.
A construção de uma ordem social fundada na democracia exige a superação das intolerâncias calcadas em fobias. Aprender a tolerância é um passo inicial, mas é pequeno. A tolerância é uma espécie de intolerância passiva. É preciso que se desenvolva a solidariedade, baseada na compreensão do diferente.
(*) Jornalista, mestre em sociologia mauriciosiaines@gmail.com
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