Discopédia - Até mais, Cream; bem-vindo, Jack Bruce

Lançado no mesmo ano em que sua banda, o Cream, se dissolvia, Songs For A Tailor marca o início da carreira solo de Jack Bruce. Ainda que apareça discretamente, como em "Never Tell Your Mother She’s Out Of Tune” e "The Clearout”, o rock não é o foco deste álbum. Songs For A Tailor aparece mais como um disco que caminha entre o jazz e o blues — influências primordiais no som e na formação de Jack Bruce — que um disco propriamente de rock. A música "Boston Ball Game 1967”, por exemplo, tem a base de um blues bastante tradicional, porém, a participação dos sopros lembra o som das big bands de jazz. 

Apesar de tudo, o disco é bastante misto. Outros estilos aparecem, como o folk ("He The Richmond”), o rock progressivo ("To Isengard”), que ainda começava a caminhar, e o soul, com "The Ministry Of Bag”. Multi-instrumentista, Jack mostra suas habilidades em marcantes acordes dedilhados no piano de "Theme For An Imaginary Western”, no violão folk em "To Isengard” e no órgão em "The Clearout”. O lado baixista de Jack aparece bastante na já citada "Never Tell Your Mother She’s Out Of Tune”, que conta com o beatle George Harrison na guitarra, e também em "Tickets To Water Falls”, que tem uma linha de baixo contagiante.

Parceiro de Jack desde os tempos do Cream, Pete Brown escreveu as letras de clássicos do power trio como "White Room”, e "Sunshine Of Your Love”. Em Songs for a Tailor, o poeta e compositor assina todas as faixas, sendo as letras mais notáveis a psicodélica "Rope Ladder To The Moon”, a poética "Weird Of Hermiston” e, o maior destaque do álbum, "Theme For A Imaginary Western”, tão boa em letra quanto na parte instrumental, sem contar a interpretação de Jack Bruce, botando muito sentimento na canção através de sua voz. A música fora gravada no mesmo ano pelo Mountain, banda do produtor de Songs For A Tailor e também baixista Felix Pappalardi.

Embora tenha sido o primeiro disco de Bruce a chegar às prateleiras, Songs For A Tailor foi o segundo trabalho solo gravado pelo cantor. Antes, ainda em 1969, Bruce havia gravado Things We Like, que só seria lançado em 1970. Com repertório instrumental, o álbum é uma obra-prima, um brilhante registro de jazz, com Jack Bruce levando suas habilidades ao máximo, tocando contrabaixo acústico.