Leonardo Lima
“Sou um dinossauro”. Assim se define o guitarrista, compositor, arranjador e produtor musical Luiz Carlos Siqueira, 62 anos. Quem acompanhou os primeiros passos do rock nacional, no início da década de 60, certamente se lembra do The Angels, ou ainda do The Youngsters, duas das mais famosas bandas das quais ele participou. Carioca de origem e criado no tradicional bairro de Copacabana, Luiz Carlos cresceu ao som da bossa nova e de astros internacionais como Ray Charles e Chuck Berry. E foi justamente através deles que surgiu o interesse pela música. Aprendeu a tocar violão e na adolescência passou a se apresentar em festinhas da zona sul da cidade, junto com mais dois amigos. “Certa vez me falaram que uma banda estava precisando de um guitarrista. Me ofereci e com apenas 15 anos já tocava profissionalmente”, conta.
A tal banda era a The Angels, umas das precursoras do rock e da surf music no Brasil, sendo o primeiro grupo destes estilos musicais no Rio de Janeiro. “Representamos a verdadeira história do rock nacional. Abrimos o mercado para as outras bandas. Alguns instrumentos comuns hoje não eram tão populares na época. Lançamos, por exemplo, o teclado e o contrabaixo na música brasileira”, diz Luiz Carlos.
O sucesso repentino e o The Youngsters
Em 1962, após o primeiro disco lançado, o sucesso não demorou a vir. Interpretando canções em inglês ou instrumentais, logo surgiram convites para gravar com diversos artistas. A banda chegou a ter um programa na antiga TV Continental, o Encontro com os Anjos, que ia ao ar três vezes por semana. Três anos depois, ao trocar de gravadora, o nome também mudou. Surgiu o The Youngsters. “Gravamos com diversos cantores da Jovem Guarda. O disco É proibido fumar, do Roberto Carlos, por exemplo, foi todo produzido com a gente. Sucessos conhecidos até hoje, como Ternura, da Wanderléia, e Erva venenosa, do Golden Boys, também fomos nós que fizemos toda a parte instrumental”, relata Luiz Carlos.
Entre outros feitos estão a inauguração da casa de shows Canecão, em 68, a apresentação ao lado de nomes mundialmente consagrados, como Johnny Rivers, Frank Sinatra, Johnny Mathis e outros. Além disso, o grupo fez a música de abertura da novela Véu de Noiva, considerada o marco inicial das trilhas brasileiras. Já em Pigmaleão participou ao lado de Roberto e Erasmo Carlos no tema do personagem Kiko.
A dificuldade, no entanto, estava fora do plano musical. A maior barreira se encontrava no regime ditatorial que vigorava no Brasil naquele período. “Quase fui expulso do país. Fomos muito censurados. A famosa canção francesa Je t`aime, por exemplo, foi proibida pois consideravam que era de forte conotação sexual. Ou seja, passavam a ideia de que matar e torturar podia, já amar era proibido. Fizemos uma versão desta música para que pudesse ser tocada nas rádios”, recorda Luiz Carlos.
Após 34 discos gravados, levando em conta a nomenclatura anterior, em 1970 o The Youngsters chegou ao fim. Autor da música Quero um baby seu, sucesso na voz de Caetano Veloso, Luiz Carlos conta que cada um quis seguir com projetos independentes. Ele, por exemplo, foi fazer carreira nos EUA. Antes, porém, ainda participou do festival de Guarapari, com a banda Era.
Em Nova Friburgo, os novos projetos
De volta ao Brasil, Luiz Carlos trabalhou como produtor em selos menores, embarcou no jazz, na música clássica e chegou a ter empreendimentos em outros ramos. Morou em diversos lugares, como Natal, Recife, Florianópolis, Santos e São Paulo. No entanto, garante que sempre teve o desejo de viver numa cidade em especial. “Nova Friburgo sempre fez parte da minha vida. Não conheço outra cidade com a qualidade de vida que tem aqui. Sempre quis me mudar para cá, no entanto, alguns empecilhos me impediram de fazer isso antes. Além de possuir muitas belezas naturais, a população é extremamente carinhosa e afetiva”, opina.
Sempre ligado à música, mesmo que por hobbie, numa apresentação do baixista Edson Lobo em Nova Friburgo, Luiz Carlos conheceu a pianista e professora de musical Walma Turque. Com ela surgiu seu mais novo projeto, que mistura traços de jazz, new age e música clássica. “A nossa ideia é rodar o mundo com as nossas apresentações, estamos muito motivados. Ainda estamos em processo de produção das músicas, que serão inéditas, com influências de diversos estilos e letras existenciais sobre a humanidade”, adianta.
Quem quiser saber um pouco mais sobre a carreira de Luiz Carlos Siqueira pode acessar alguns dos milhares de sites espalhados pela internet que abordam o rock nacional e a Jovem Guarda. Procurando via Google, por exemplo, é bastante comum encontrar detalhes e curiosidades das duas bandas, além da discografia completa. É possível também entrar em contato direto com o músico pelo e-mail lcarlos02@gmail.com.
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