A Semana Santa, que teve início com o Domingo de Ramos — último dia 29 de março — e termina neste Domingo de Páscoa, 5, é tida para a Igreja Católica como a semana mais importante do ano, na qual é relembrado o calvário, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. As passagens bíblicas são lembradas nos rituais católicos através uma série de atividades e celebrações, como via sacra, procissões, celebração da santa ceia e adoração da cruz.
Mas para outras religiões, a Páscoa tem também um significado importante e é motivo também de celebrações especiais. A VOZ DA SERRA ouviu membros de algumas dessas denominações sobre qual o real sentido da Páscoa para eles. Confira.
JUDAÍSMO
Fany Zissu
Para os judeus, a Páscoa (Pessach, "Passagem” em hebraico) representa a fuga do povo judeu da escravidão egípcia, atravessando o deserto em direção à sua terra. Saiba como os judeus a celebram no relato de Fany Zissu, empresária e presidente da Associação Judaica de Nova Friburgo.
"A nossa Páscoa e a católica são muito semelhantes. O calendário judaico é lunar, por isso, as festas coincidem com o dia de mudança da Lua. Por acaso, neste ano a Páscoa judaica e a católica vão coincidir no mesmo dia. No judaísmo, a Páscoa dura oito dias. A gente sempre comemora na véspera com um jantar, o Seder, ao aparecer a primeira estrela no céu. O primeiro dia de Páscoa, portanto, é o sábado. As festas judaicas sempre acontecem em torno de uma mesa, onde a gente reúne a família toda. É uma tradição repassar a história de geração em geração. A nossa tradição é oral. Nós reunimos a família e contamos a história da libertação do povo do Egito, da escravidão para a liberdade, e do que Moisés fez por nós. A tradução da palavra Seder significa ordem, porque tudo no jantar tem uma ordem certa para acontecer. Tudo tem simbolismo. O prato da Páscoa, com escritas em hebraico, ordena um pouco de tudo o que vai acontecer.
Nesse jantar, tem que ter uma erva adocicada, como uma alface, por exemplo; uma erva amarga; um ovo, que representa renovação. A gente molha o ovo na água salgada para lembrar das lágrimas que o povo judeu derramou; um osso forte de boi para lembrar o braço forte de Deus, que nos tirou do Egito; tem que ter uma massa marrom, que nós fazemos com nozes e maçã para lembrar o barro das pirâmides do Egito; tem que ter também uma comida forte, que arde. Tudo isso simboliza o renascimento, uma nova esperança, uma nova fase, mas sempre lembrando o passado.
Durante o jantar, o chefe da casa lê o texto Agadá de Pessach, que descreve a história da libertação do povo de Israel do Egito conforme é descrito no Livro do Êxodo. Nós fazemos preces e comemos os alimentos ordenadamente, seguindo a história. É um jantar longo e tranquilo.
Nesses oito dias, não comemos pão, porque quando os judeus fugiram das mãos de Faraó, eles levaram massa de pão sem fermentar. Então, o que se come nesses oito dias é um biscoito não fermentado que se chama pão ázimo. Para manter as crianças acordadas, o dono da casa esconde um pedaço desse biscoito, também conhecido como matzá, e, em determinado momento, as crianças procuram pela casa. A gente tem a preocupação que as crianças participem. O objetivo é manter a interatividade, manter as crianças acordadas para ouvirem a história. Ninguém é liberado da mesa. Todo mundo tem que participar de todas as fases do jantar.
Em Israel, não é feriado e as pessoas têm algumas horas a menos para trabalhar. Na diáspora, os judeus mantêm a tradição na alimentação. Nesses oito dias não se come e não se bebe nada fermentado. Nós podemos comer carne, leite e demais alimentos. Eliminamos, nesses dias, apenas as massas por causa do fermento. A rotina de vida e de trabalho é mesma dos outros dias. O bonito da tradição é mantê-la. É contar, é saber por quê. Se você perguntar para toda criança judia, ela saberá por que ela esta comendo o pão ázimo, por exemplo. O importante é manter a tradição e contar a história. E repetí-la ano após ano.
IGREJA LUTERANA
Pastor Adélcio Kronbauer
"A Páscoa cristã celebra muitos aspectos da vida, porém, o fundamento é a Ressurreição. Na Páscoa cristã é inaugurada uma nova forma de se crer em relação à finitude do ser humano no mundo. A partir da Ressurreição de Cristo passamos a acreditar que também os demais seres humanos serão ressuscitados para uma eternidade de paz e justiça. É em torno do evento da ressurreição de cristo e a partir dele que se entende o âmago da espiritualidade cristã. A Páscoa é o evento fundador do cristianismo.
Na Páscoa cristã, como já havia ocorrido na Páscoa judaica, da qual herdamos muitos aspectos importantes de fé, Deus se manifesta de uma forma especial e definitiva em favor da vida. Deus liberta o ser humano — e creio que toda a criação — de forças contra as quais sozinhos somos incapazes, especialmente no que diz respeito ao morrer. Deus se manifesta libertador e constrói um caminho de salvação, redenção e reconciliação. A partir da Páscoa confiamos em Deus, que não há lugares onde Ele não nos acompanha, inclusive na morte, de onde nos levará para a eternidade através da ressurreição.
A espiritualidade baseada na ressurreição — fundada na Páscoa — faz brotar nas pessoas uma profunda esperança que as leva a não esmorecer ao longo da vida diante dos desafios. Leva as pessoas a quererem testemunhar através de uma postura ética que pode produzir sinais de paz e justiça já aqui e agora, um espelho do reino definitivo esperado para o futuro. Tudo em forma de gratidão e louvor pela ação de Deus em nosso favor através da vida, paixão, morte e Ressurreição de Cristo. E quando chegar o dia de se despedir, ou seja, de se deixar de viver no mundo, a confiança de que também nesta hora não se estará sozinho haverá trazer tranquilidade e serenidade.
A Páscoa é o cerne da fé cristã, sem ela não haveria cristianismo. A Páscoa é ressurreição. Nos move e dá forças para viver. Nos tranquiliza para deixar de viver quando as forças vitais já se esvaírem. A Páscoa nos ensina a solidariedade, não assistencialista apenas, mas a que transforma morte em vida. O luteranismo aqui em Nova Friburgo segue o calendário litúrgico cristão. A cada tempo litúrgico é celebrado o assunto concernente, mas isto ocorre nos cultos já regulares da igreja aos domingos.
Na semana da paixão há um encontro na Sexta-Feira Santa. Os cultos são organizados a partir da liturgia padrão da igreja, dentro da qual há ampla margem, de criatividade de como conduzir cada elemento. Isto pode variar muito de uma comunidade para a outra, pois há liberdade de cada comunidade se organizar quanto a sua programação”.
IGREJA CEIFA
Pastor Sérgio Paim
"Creio que a Páscoa tem o mesmo sentido para qualquer linha de cristianismo. A palavra Páscoa vem do hebraico "pesach” e do grego "pascha”, que significam "passagem”. Podem ter diversos significados tais como: passagem da morte para a vida — passagem das trevas para a luz — passagem da escravidão para a liberdade”.
A Páscoa foi instituída no Antigo Testamento, por ocasião da saída do povo de Israel da escravidão imposta pelos egípcios (Êxodo 12). Foi na noite que antecedeu a saída do povo de Israel, rumo à terra prometida, que a Páscoa foi comemorada pela primeira vez. A celebração deveria ser feita em uma refeição com carne assada, pães sem fermento e ervas amargas. E tinha como objetivo lembrar do tempo que haviam amargado a escravidão em terra estrangeira, bem como comemorar o dia da libertação.
Já no Novo Testamento, o apóstolo Paulo, escrevendo à igreja em Corinto, esclareceu que "Cristo é nossa Páscoa” (I Coríntios 5:7). O que ele estava ensinando é que a Páscoa foi estabelecida na antiguidade de forma profética. Assim, da mesma forma que os hebreus saíram do Egito para uma vida de liberdade na terra prometida, em Cristo poderemos sair da escravidão imposta pelo presente tempo, para vivermos a libertação que, na cruz, ele pagou o preço por nosso resgate. E por meio da ressurreição decretou nossa libertação para uma nova vida.
Por isso nós, cristãos, comemoramos a Páscoa no dia da ressurreição de Cristo. Algumas igrejas cristãs comemoram a data da forma tradicional, com coelhos e ovos de chocolate. Associa-se a figura do coelho à fertilidade e vida, visto que este animal procria-se com extrema velocidade. É bom lembrar que este tipo de comemoração não possui qualquer vínculo com ensinamentos bíblicos.
Outros cristãos apenas celebram cultos temáticos no dia da Páscoa. Nesta ocasião, prega-se um sermão voltado para a ressurreição de Cristo e canta-se louvores sobre a Páscoa. Há, ainda, os que não observam a data como uma ocasião especial, considerando que a ressurreição de Cristo, assim como a libertação proveniente dela, deve ser comemorada diariamente.”
CATOLICISMO
Papa Francisco
O Papa Francisco falou, durante a celebração do Domingo de Ramos, último dia 29 de março, sobre a Paixão de Jesus Cristo, relembrada pelos católicos nesta Semana Santa. Disse o papa durante a homilia proclamada na Praça São Pedro, no Vaticano:
"No centro desta celebração, que se apresenta tão festiva, está a palavra que ouvimos no hino da Carta aos Filipenses: ‘Humilhou-Se a Si mesmo’ (2, 8). A humilhação de Jesus. Esta palavra desvenda-nos o estilo de Deus e, consequentemente, o que deve ser do cristão: a humildade. Um estilo que nunca deixará de nos surpreender e pôr em crise: não chegamos jamais a habituar-nos a um Deus humilde!
"Humilhar-se é, antes de mais nada, o estilo de Deus: Deus humilha-Se para caminhar com o seu povo, para suportar as suas infidelidades. Isto é evidente, quando se lê a história do Êxodo: que humilhação para o Senhor ouvir todas aquelas murmurações, aquelas queixas! Embora dirigidas contra Moisés, no fundo eram lançadas contra ele, o pai deles, que os fizera sair da condição de escravatura e os guiava pelo caminho através do deserto até à terra da liberdade.
"Nesta semana, a Semana Santa, que nos leva à Páscoa, caminharemos por esta estrada da humilhação de Jesus. E só assim será "santa” também para nós. Ouviremos o desprezo dos chefes do seu povo e as suas intrigas para o fazerem cair. Assistiremos à traição de Judas, um dos doze, que o venderá por trinta denários. Veremos ser preso o Senhor e levado como um malfeitor; abandonado pelos discípulos; conduzido perante o Sinédrio, condenado à morte, flagelado e ultrajado. Ouviremos que Pedro, a "rocha” dos discípulos, O negará três vezes. Ouviremos os gritos da multidão, incitada pelos chefes, que pede Barrabás livre e Ele crucificado. Vê-lo-emos escarnecido pelos soldados, coberto com um manto de púrpura, coroado de espinhos. E depois, ao longo da via dolorosa e junto da cruz, ouviremos os insultos do povo e dos chefes, que zombam pelo fato Dele ser rei e filho de Deus.
"Este é o caminho de Deus, o caminho da humildade. É a estrada de Jesus; não há outra. E não existe humildade sem humilhação. Percorrendo até ao fim esta estrada, o Filho de Deus assumiu a ‘forma de servo’ (cf. Flp 2, 7). Com efeito, a humildade quer dizer também serviço, significa dar espaço a Deus despojando-se de si mesmo, ‘esvaziando-se’, como diz a Escritura (v. 7). Este esvaziar-se é a maior humilhação.
"Há outro caminho, contrário ao caminho de Cristo: o mundanismo. O mundanismo oferece-nos o caminho da vaidade, do orgulho, do sucesso... É o outro caminho. O maligno propô-lo também a Jesus, durante os 40 dias no deserto. Mas Jesus rejeitou-o sem hesitação. E, com ele, só com a sua graça, com a sua ajuda, também nós podemos vencer esta tentação da vaidade, do mundanismo, não só nas grandes ocasiões, mas também nas circunstâncias ordinárias da vida.
"Nisto, serve-nos de ajuda e conforto o exemplo de tantos homens e mulheres que cada dia, no silêncio e escondidos, renunciam a si mesmos para servir os outros: um familiar doente, um idoso sozinho, uma pessoa deficiente, um sem-abrigo... Pensamos também na humilhação das pessoas que, pela sua conduta fiel ao Evangelho, são discriminadas e pagam na própria pele. E pensamos ainda nos nossos irmãos e irmãs perseguidos porque são cristãos, os mártires de hoje (e são tantos): não renegam Jesus e suportam, com dignidade, insultos e ultrajes. Seguem-No pelo seu caminho. Verdadeiramente, podemos falar duma "nuvem de testemunhas” (cf. Heb 12, 1): os mártires de hoje.
Durante esta Semana, emboquemos também nós decididamente esta estrada da humildade, com tanto amor por ele, o nosso Senhor e Salvador. Será o amor a guiar-nos e a dar-nos força. E, onde Ele estiver, estaremos também nós (cf. Jo 12, 26). Fonte: Diocese de Nova Friburgo.
ESPIRITISMO
Elço da Silva
Nas linhas gerais do espiritismo, as instituições não celebram a Páscoa, nem mesmo fazem programações específicas a fim de contextualizar a data. É o que contou o vice-presidente da Instituição Lar Abrigo Amor a Jesus, Elço da Silva:
"Nós do espiritismo não celebramos a Páscoa de forma específica, mas respeitamos as manifestações de religiosidade de diversas igrejas, como também não proibimos que nossos adeptos comemorem como acham que devem comemorar. Somos livres pensadores. Acreditamos que as comemorações da Páscoa sejam todos os dias, já que procuramos fazer o bem e praticar a caridade e o amor ao próximo dia a dia, buscando assim uma evolução espiritual. Quando você pratica o bem, sendo sempre positivo, irá atrair coisas positivas para a sua vida, essa é uma conquista diária, não somente na Semana Santa devemos praticar o "perdão”. Também acreditamos que um dia seremos espíritos evoluídos, e rumo ao universo.
No Cristianismo comemora-se a ressurreição do Cristo, onde os adeptos procuram fazer o jejum, mas no nosso entendimento guardamos esse jejum de uma forma diária em pensamento, como disse Jesus: "Não é o que entra na boca do homem que contamina, e sim o que sai”, buscamos assim uma transformação moral do homem em comunhão com o filho de Deus. Aceitamos Jesus como guia e modelo. Nós não o vemos como um salvador, mas sim como um grande espírito que foi enviado à Terra para nos ensinar a palavra de Deus, indicando uma direção para a humanidade.
O nosso espírito é livre, acreditamos que ao morrer não iremos ficar presos em algum lugar, seja nos céus ou no inferno; nosso espírito viajará por todo o universo e se encontrará presente em todos os pontos dele, sendo de fato um espírito desprendido. Acreditamos também que Deus nos deu a misericórdia de sermos eternos, então nenhuma das ovelhas que o Pai confiou a Jesus se perderá, e em algum ponto do universo, em que estaremos vagando, encontraremos um código de ética e moral que é o evangelho de Deus e nesse ponto é que procuramos evoluir em busca da eternidade, pois assim nos tornaremos espíritos puros.
Como eu disse antes, em geral, não há uma comemoração especial, mas como existe esse símbolo para a humanidade e estamos sempre à procura de uma evolução, ofereceremos para todos os abrigados do Laje um almoço especial com muitas guloseimas e refrigerante neste domingo de Páscoa, além da distribuição de ovos de chocolate, que já é uma tradição, e traz alegria para todos que participam, e é isso que buscamos praticar no nosso cotidiano — trazer a paz, a alegria, exercendo a caridade, o amor e a união, como nos foi ensinado por Jesus”.
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