Henrique Amorim
Alguns portadores de diabetes podem achar estranho ter seus pés examinados nas consultas médicas de rotina. O procedimento adotado ultimamente por muitos endocrinologistas visa evitar sérias complicações no quadro clínico dos pacientes da doença crônica que segundo o Ministério da Saúde afeta 6,2% da população fluminense. Além do tratamento que requer o uso contínuo de medicamentos, adoção de hábitos saudáveis e uma dieta balanceada evitando-se a ingestão de açúcares, a inspeção dos pés em busca de manchas ocasionadas por lesões dos vasos sanguíneos é mais uma das rotinas a que os diabéticos devem se submeter regularmente para evitar problemas desagradáveis no futuro.
Os médicos explicam que a taxa de glicose (açúcar sanguínea descontrolada ou muito alta—o normal em jejum é até 100 mgl) pode comprometer, com o tempo, a circulação do sangue que começa a chegar às extremidades do corpo com mais dificuldade. Os nervos dos pés acabam sendo destruídos e os vasos são lesionados. Com isso, além da irrigação sanguínea deficiente, as células de defesa enfrentam muitos obstáculos para chegar aos pés. Como esses membros são mais vulneráveis a feridas, principalmente se o paciente tiver o hábito de andar descalço ou com calçados inapropriados, qualquer ferimento pode se tornar uma úlcera com grande dificuldade de cicatrização.
Por isso, outra preocupação recente dos endocrinologistas tem sido estimular os diabéticos a utilizarem palmilhas e calçados especiais que ajudam a evitar atritos e são mais confortáveis. Os calçados devem ser fechados, macios e confortáveis, ter solados rígidos que ofereçam firmeza ao caminhar. Os principais sintomas da má circulação sanguínea nos pés são os formigamentos, perda da sensibilidade, queimação e fraqueza nas pernas, dormências e a sensação de agulhadas. Esses sintomas geralmente são mais acentuados à noite. Membros da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular alertam que quando a infecção atinge todo o pé, a solução médica é a amputação do membro. Só no município do Rio de Janeiro, por exemplo, são realizadas mais de mil amputações de pernas e coxas em pacientes diabéticos, segundo a instituição. O pior é que cerca de 25% dos amputados deles não resistem às cirurgias e morrem.
Outro alerta dos médicos para manter os pés dos diabéticos livres de vulnerabilidades é quanto a importância do uso de um alicate apropriado ou tesoura de ponta arredondada para os cortes de unhas que devem ser feitos sempre em forma de quadrado com as laterais levemente arredondadas. É importante preservar as cutículas e recomenda-se o uso de meias sem costura e com tecido de algodão ou lã. Tecidos sintéticos, como o nylon, devem ser evitados. Os pés precisam ser sempre hidratados, mas deve-se evitar o uso de cremes entre os dedos e ao redor das unhas.
Os diabéticos devem ter ainda atenção especial a higienização dos pés. A limpeza requer o uso de água morna, nunca muito quente. Para a secagem recomenda-se o uso de toalhas macias sem esfregar muito. Outra dica dos endocrinologistas é que os pés sejam observados regularmente (pelo menos duas ou três vezes por semana) em local arejado e bem iluminado, de preferência frente a um espelho, verificando-se a existência de frieiras, cortes, calos, rachaduras, feridas ou alterações de cor. O ideal é não cortar calos nem usar abrasivos.
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