Dia Mundial do Palhaço: As trapalhadas de Abelhito

Personagem criado por Léo Abelha alia truques consagrados com música
sábado, 15 de dezembro de 2018
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)

De dia professor, de noite músico e a qualquer hora, palhaço. Essa é a jornada tripla de Léo Abelha, um dos artistas friburguenses mais carismáticos, que há 15 anos diverte adultos e crianças. Ser palhaço é um desafio e Léo Abelha, que dá vida ao Abelhito, explica em uma entrevista, no Dia Mundial do Palhaço, 10 de dezembro, como fazer para arrancar risadas de um público cada vez mais exigente.

Ficou difícil saber quando era Léo Abelha ou quando era Abelhito que respondia as perguntas. E no estúdio de A VOZ DA SERRA, um picadeiro improvisado, o personagem ganhou vida. Aliando música, truques e palhaçadas, Léo conversou com nossa equipe e a entrevista pode ser conferida, a seguir:

AVS: Há quanto tempo você trabalha como palhaço?

Abelhito: Eu comecei mais ou menos em 2003, quando me convidaram para fazer um palhaço músico em uma montagem no Theatro Dona Eugênia. Peguei gosto e a partir daí fiz uma oficina com o Luiz Carlos Vasconcelos, que se transforma no Palhaço Chuchu. Ele veio a Friburgo, ficou uma semana e muitos outros profissionais da cidade também participaram. Foram várias vivências, com dinâmicas voltadas para o lado cênico do palhaço. Eu comecei a curtir esse viés e fui criando números, pensando em novos espetáculos, vendo a possibilidade do palhaço músico, de brincar com instrumento. Desde então, lá se vão 15 anos e não sei quando eu vou parar.

Quanto tempo demora para se maquiar?

Minha maquiagem dura aó por volta de três horas, ou mais...

Pausa na entrevista para as curiosidades de bastidores. Léo começa a se maquiar, e entre uma pincelada e outra, conversa comigo. Já eram umas cinco horas da tarde e ao ouvir isso, a expressão de desespero do repórter que vos escreve deve ter sido tão flagrante, que o Abelhito se apressou em esclarecer: “Brincadeira, dura apenas cinco minutos”, me tranquilizou o agora professor, em vias de incorporar o personagem brincalhão, ao ver o meu jeito desolado.

De onde surgiu o nome para compor o personagem?

O “Abelha” é apelido desde a época de músico e aproveitei para transformar no Palhaço Abelhito. No universo do Palhaço existem muitos profissionais com nomes comuns como “Pipoca”, “Picolé”, “Paçoca”, então eu pensei em criar um nome que fugisse desse senso comum e me identificasse. Não conheço nenhum outro palhaço com o mesmo nome que o meu.

Ser palhaço, atualmente, é complicado?

A arte circense já teve mais estímulo, e os tipos de entretenimento mudaram. Hoje em dia tem mais opções na TV, a internet é um campo vasto de entretenimento... Poucas pessoas vão ao circo, ou procuram esse tipo de lazer. Quando o Gilberto Gil entrou como Ministro da Cultura lançaram alguns editais de fomento ao circo, mas hoje em dia não tem mais.

Qual é a linha que você segue?

Eu não sigo uma linha “tradicional” como os palhaços mais conhecidos. Eu penso em trabalhar o lado mais humano e faço isso sem usar muita maquiagem. Uso a minha careca a meu favor. Esse tipo de detalhe, traz mais o público pra você. Menos é mais.

Como é trabalhar com criança?

A gente tenta fazer palhaçada não só pra criança, mas para adulto, também. Quem estiver a fim de rir, quem estiver a fim de entrar em uma lógica um pouco diferente do que está aí, é pra essas pessoas que a gente se apresenta. Essa lógica mostra um cara que erra e assume que errou, que caiu, tropeçou, deixou um negócio cair e seguiu em frente. O mundo exige que você seja correto, que não falhe, que seja um exemplo, não deixe furo e não pode cair. O palhaço mostra que de uma queda você pode se levantar e ganhar aplauso. É não ter vergonha das suas falhas, dos seus defeitos. O palhaço pode tirar o riso com isso. Fazer o publico te amar do jeito que você é, “todo errado”. O adulto se identifica com isso, também.

Há improviso nas apresentações?

As vezes você ensaia pra caramba e chega na hora acontece um erro. O legal é saber aproveitar o erro e ir no improviso. Às vezes no meio do show alguém tosse, alguém ri, alguém solta um pum ou ri engraçado, você tem que aproveitar esse momento e tirar algo dali.

Você costuma ir a lugares ditos “não convencionais”?

Nós (palhaços) fomos muito ao Raul Sertã fazer visitas para quem estava por lá. Felizmente, na ala da pediatria não tinha muita criança, mas elas adoraram a nossa visita. Curiosamente, onde ficamos mais tempo não foi com as crianças e sim com os adultos, no setor de ortopedia. E a gente queria isso mesmo, quebrar essa lógica de que o palhaço está num circo, num teatro. Um hospital também é palco. Existe o Palhaços Sem Fronteiras, que vão em zonas de conflito.

Como você dribla as diferentes nuances de humor, comuns a qualquer pessoa, mas que na sua profissão, principalmente na hora de uma apresentação, o bom humor tem que imperar?

Problemas todos nós temos, mas quando eu entro no personagem não tem como, é natural. Além disso, quando eu me preparo na véspera de uma apresentação o humor já vai se voltando para o personagem.

Alguma apresentação marcante que você lembra e considera especial?

Foi a primeira vez que me apresentei, sozinho, no Festival de Inverno do Sesc. A apresentação estava ocorrendo bem tranquila e eu já estava finalizando. Na parte final tinha uma criança comigo, no palco, participando de um número em que eu chorava e acionava uma mangueira que espirrava água. Nesse momento, a água foi bem na roupa dessa criança e ela começou a armar o choro. Eu fiquei pensando como iria fazer pra sair dessa situação. Então, abri os braços, dei um sorriso, ele veio e me deu um abraço. Aí o público começou a aplaudir e deu tudo certo.

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