Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial é celebrado em Nova Friburgo

quarta-feira, 21 de março de 2012
por Jornal A Voz da Serra

Presidente do Centro Cultural Afro-Brasileiro Ysun-Okê fala da importância da data e afirma que ainda há reflexos de desigualdade e exploração

Leonardo Lima

Última nação da América a abolir o regime de escravidão, o Brasil teve a força de trabalho de escravos africanos durante três séculos. Entre 1550 e 1850—data oficial do fim do tráfico de negros—cerca de 3,6 milhões de pessoas oriundas do continente africano chegaram ao país. Atualmente se comemora em 20 de novembro o Dia da Consciência Negra, mas o que muitos ainda não sabem é a importância do dia 21 de março para a comunidade afrodescendente, quando se celebra o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial. “Foi nessa data que lutamos para a legalização das cotas, ganhamos o nosso plano nacional de promoção da igualdade racial e conquistamos o nosso estatuto”, explica a presidente do Centro Cultural Afro-Brasileiro Ysun-Okê/NF, Ilma Santos.

Também em 21 de março, no ano de 1960, na cidade de Joanesburgo, na África do Sul, 20 mil negros protestavam contra a lei do passe, que os obrigava a portar cartões de identificação além de especificar os locais onde eles poderiam circular. O que era uma manifestação pacífica, entretanto, se tornou um verdadeiro cenário de guerra. O exército sul-africano atirou sobre a multidão e o saldo de tal violência foi de 69 mortos e 186 feridos, no episódio que ficou conhecido como o Massacre de Shaperville. Nesta mesma data, houve ainda a independência de dois países africanos: Etiópia, em 1975, e Namíbia, em 1990.

De acordo com Ilma, apesar de todos os movimentos de conscientização, ainda é possível ver os reflexos dessa história de desigualdade e exploração. “Alguns indicadores sociais revelam desigualdades em todas as dimensões e áreas geográficas do país. Apontam, também, para uma situação marcada pela pobreza, sobretudo para a população de pretos e pardos”, afirma. Para ela, exemplos não faltam para retratar a pouca inserção do negro em diversas áreas. “Temos que reconhecer que já avançamos, mas temos que avançar ainda mais. Em Nova Friburgo mesmo ainda vemos uma tímida visibilidade do negro como aluno das escolas particulares ou cursando universidades. Empresários de grande porte e até onde a porta de entrada é o concurso público, os negros não estão nos cargos de chefia ou ocupando os primeiros e segundos escalões do poder”, diz.

E para mudar esse cenário, a presidente do Ysun-Okê exalta a importância de datas como o 21 de março. “Se nos perguntarem se havia a necessidade disso ainda hoje no Brasil, respondo muito a vontade que, em um país que não contempla a todos e os direitos são iguais apenas na Constituição Federal, precisamos sim de ações como essa. Nós, negros, temos um atraso provocado pelo governo em relação às outras etnias de 300 anos”, aponta. O Ysun-Okê completará no próximo dia 20 de setembro 25 anos de luta e resistência em Nova Friburgo. Entre as ações do centro cultural estão o Primeiro Encontro Lítero-Cultural, realizado na quadra da Imperatriz de Olaria; e diversas edições da Beleza Negra Masculina, Feminina e Infanto-Juvenil.

O grupo conta ainda com assento nos conselhos municipais de saúde, direito da mulher, segurança alimentar e nutricional, meio ambiente, e integra a Associação das Colônias Colonizadoras de Nova Friburgo, como integrante Pan-Africana, além ser fundador da Rádio Comunidade de Nova Friburgo. “Com estas participações em conselhos conquistamos no plano municipal de saúde a inclusão do Programa Nacional de Promoção da Saúde da População Negra. Ainda lutamos com o Legislativo e Executivo municipal para a criação do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial e também pela criação de um órgão para que possamos desenvolver em Nova Friburgo a aplicação da Lei 10639/03, onde desenvolveremos ações afirmativas e políticas públicas voltadas para equidade, igualdade e acima de tudo justiça racial”, revela Ilma, consciente de que a luta não pode parar.

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