Alda de Oliveira*
Houve um tempo em que cuidávamos das crianças, dos idosos, mantínhamos o fogo aceso, curávamos os doentes, ensinávamos o que sabíamos para as mais novas, varríamos o chão, coletávamos frutos, folhas e raízes para as refeições e ervas para os males de todos e aguardávamos a chegada dos homens. Os homens caçavam. Nosso lugar era a caverna.
Muitos anos se passaram. Muitos. Continuamos fazendo praticamente as mesmas coisas com uma certa modernização nas nossas casas de tijolo e cimento. Os homens foram para os campos plantar e criar animais, para as fábricas, para os escritórios, para a política e para a guerra.
E assim, de século em século, chegamos ao início do século XX. Nós continuamos fazendo muitas coisas, saímos de casa, fomos para as fábricas, trabalhávamos até 16 horas por dia e começamos a nos organizar. Para conseguir entrar nas escolas, para votar. Os homens continuaram ganhando as eleições e dirigindo o mundo.
Em 1910, durante o 2º Congresso Internacional de Mulheres Socialistas em Copenhague, a alemã Clara Zetkin propôs que fosse designado um dia para a luta dos direitos das mulheres, sobretudo ao direito a voto.
Em 1917, no dia 23 de fevereiro (8 de março no calendário gregoriano) as mulheres de Petrogrado, transformadas em chefes de família durante a guerra, saíram às ruas, em protesto pela escassez e alto preço dos alimentos. Um dia depois eram 190 mil mulheres gritando por justiça. Devido a esse fato, em 1921 foi proposto que 8 de março se tornasse o Dia Internacional da Mulher, que foi oficializado pela ONU em 1975.
A tragédia americana, em 25 de março de 1911, quando um incêndio matou 123 mulheres e 13 homens na Triangle Shirtwaist Company, ocasionado quando um trabalhador acendeu um cigarro perto de um monte de tecidos e as portas das escadas de incêndio estavam fechadas para evitar que os funcionários e funcionárias saíssem mais cedo, contribuiu para a melhoria das condições de trabalho. Mas isso aconteceu um ano depois da proposta das mulheres russas de se ter um dia para a luta das mulheres.
Hoje temos esse dia e mais 364, neste ano, por ser bissexto, temos 365 dias a mais para lutar pelos direitos das mulheres.
As mulheres sempre cuidaram de toda a família. Quando conseguiram sair das quatro paredes da casa familiar, foram cuidar de ensinar e formaram a imensa classe do professorado, foram cuidar da saúde das crianças e encheram as salas de pediatria.
Atualmente estão em quase todos os lugares, em todas as profissões: do futebol à Presidência da República. Estão cuidando de si mesma, das crianças, da nação brasileira e dos homens.
Vamos tentar de todas as formas possíveis capacitar os homens para cuidarem mais de sua saúde, cuidar mais da casa, das crianças, dos idosos e pensar e cuidar mais da vida acabando com a guerra.
E nós, vamos nos capacitar mais em política e ocupar mais espaços nas Câmaras, nas Assembleias, no Congresso, no executivo do município, do estado e da nação.
Temos um Centro de Referência da Mulher, de excelência, temos uma Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher e temos um Conselho Municipal dos Direitos da Mulher. Temos mulheres em algumas secretarias do município. Mas ainda é pouco.
Há 21 cadeiras em algum lugar, perto de nós. As mulheres precisam ocupá-las. Para o bem de todos e de todas. Junto com os homens.
O Dia é internacional, as lutas são diárias. Lugar de mulher é também na política.
*Engª Agrônoma, membro do Conselho Municipal dos Direitos ds Mulher.
aldah.olive@bol.com.br
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