No próximo domingo, 08 de março, praças espalhadas por diversos países receberão milhares de pessoas para celebrar o hoje já consagrado Dia Internacional da Mulher. O Ser Mulher junto com outras entidades civis feministas, sindicatos, movimentos sociais e setores do governo estarão reunidos em Nova Friburgo não apenas para comemorar as legítimas conquistas das mulheres, mas também para debater e reivindicar acerca de questões cruciais para que as mulheres e também os homens de nossa cidade possam viver num mundo mais justo e com igualdade de gênero.
A análise da situação atual da mulher é deveras complexa. Ao mesmo tempo em que não podemos negar os avanços alcançados, expressos na liberdade nos campos do exercício da sexualidade e na expansão da atuação no mundo público, pesquisas apontam que as mulheres seguem ganhando muitíssimo menos que os homens, as mulheres negras ganham metade do que ganham as mulheres brancas, as mulheres rurais reivindicam a garantia de sua condição de trabalhadoras e dos direitos sociais adquiridos, as mulheres sofrem assédio sexual e moral nos locais de trabalho, as mulheres continuam sendo as responsáveis pelo trabalho doméstico e o cuidado com filhos e familiares adoentados e idosos, os índices da violência de gênero (incluindo a doméstica, o tráfico sexual e a exploração da prostituição) são assustadores, a mortalidade materna continua em níveis alarmantes, a mulher foi coisificada pelos meios de comunicação vendendo, de carros e bebidas alcoólicas, a sabonetes, e estamos longe de descriminalizar o aborto. E ainda, os direitos sexuais das mulheres lésbicas estão longe de serem respeitados como direitos humanos. Todas essas frentes de luta estão na pauta das agendas feministas há muito tempo.
Desde seu nascimento o movimento feminista não quer apenas mudar a vida das mulheres, pois acredita que o modelo subjacente às injustiças de classe, de gênero, étnicas e raciais deve ser combatido. No início do século passado, o movimento nasceu junto às reivindicações de operárias têxteis por melhores condições de trabalho e por um mundo socialista. O modelo de governo político e econômico deveria ser deposto para que as profundas mudanças ocorressem. Na segunda onda do feminismo (pós-anos 60 e o surgimento da pílula anticoncepcional), com o boom econômico dos países capitalistas e as ditaduras comunistas (com as quais as feministas haviam se aliado no início revolucionário) sendo questionadas quanto à atenção dada pelos “camaradas” ao quesito igualdade nas relações entre homens e mulheres, há um afastamento do foco da revolução feminista em relação à luta por uma alteração radical do modelo de governo capitalista. A luta se transfere rumo a um abalo sísmico das posições ocupadas pelas mulheres nos mundos público e privado. O mundo familiar é politizado, as mulheres visibilizam e denunciam as relações de poder desiguais em casa e na rua através de manifestações que se tornaram conhecidas, como, por exemplo, a queima de soutiens em praça pública. Elas também questionam mais uma vez o modelo capitalista colocando em xeque o patriarcado branco e eurocêntrico. Elas se multiplicaram por vários campos de ação e teorização do processo revolucionário feminista, tornando o fruto de suas lutas, ao olhar de muitos pensadores, a maior transformação social do século XX.
A Organização das Nações Unidas declarou 1975 como o início da década da mulher, consagrando e estimulando mais ainda todas as facetas e instâncias do movimento de mulheres. Paulatinamente o movimento tornou-se um hibrido, ao se institucionalizar através do surgimento de inúmeros centros universitários de estudos sobre temas específicos da mulher assim como o surgimento das primeiras organizações não governamentais voltadas para a assistência, apoio e luta pelos direitos das mulheres nas áreas de violência, direitos sexuais e reprodutivos, e trabalho.
No Brasil gostaríamos de lembrar do Plano de Políticas para as Mulheres, fruto de um esforço de elaboração coletiva de movimentos, organizações civis e Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (Governo Federal), que visa num só documento elencar os direitos, as necessidades e as ações específicas com que os governos devem comprometer-se a fim de garantir a cidadania plena das mulheres. O Dia Internacional da Mulher é uma ótima data para reafirmarmos compromissos e atualizarmos agendas de lutas.
Neste 08 de março renovamos os votos de força, coragem, sonho e alegria que, reunidos, vêm embalando e propulsionando mulheres de todo o mundo na luta por direitos e dignidade. É também um ótimo dia para irmos para a praça comemorar, refletir e reivindicar!
Equipe Ser Mulher – Centro de Estudos e Ação da Mulher Urbana e Rural
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