“Tocamos e cantamos o samba tradicional. Não tem espaço para pagode mauricinho”
“Somos basicamente um grupo amador. As idades variam entre 30 e 57 anos. Amantes do samba, samba verdadeiro, de raiz. Tocamos e cantamos o samba tradicional. Não tem espaço para pagode mauricinho”, define Ricardo Costa, o Rico, um dos vocalistas e fundadores da roda.
Além de Rico, por mais de 20 anos professor na Doroteia e funcionário concursado da Câmara, tem ainda Ademir Corguinha, ex-aluno de Rico, que toca cavaquinho e canta. Tem Juliano Filho, outro professor de História, que garante o ritmo com o tantã. Mais três ex-alunos, também professores de História, na percussão: Alex Fonte (pandeiro, surdo e tamborim), Pedro Monnerat e Nathalia Mozer (chocalhos). Outro professor dos tempos de FFSD, só que de Física, Christian Ramos, emérito pianista, toca tamborim. Juntaram-se ainda Rodrigo Garcia, funcionário do TRE e professor da Estácio, homem do surdinho e do tamborim. Rafael Dantas (pandeiro e surdo); e Rocyr Abbud, mestre da cuíca, do reco-reco e da frigideira. Volta e meia aparecem o advogado Carlos André Pedrazzi no cavaco e os músicos profissionais Ana Regina (voz) e Roberto Wagner Dutra (violão), além do advogado Felipe Prati, também pandeirista, hoje morando em Juiz de Fora.
O grupo nasceu de brincadeira na faculdade, com Rico, Juliano, Christian, Charles (hoje professor de Matemática) e Iedo Ângelo, que virou professor de História, mas morreu em 2014. “Foi uma perda irreparável. Ele praticamente foi o mentor do grupo. O nome foi ideia dele”.
E por que esse nome, Rico?
“Porque, como cantava Raul Seixas, quem não tem colírio usa óculos escuros. E usávamos óculos escuros por causa da nossa timidez. No meu caso, para esconder um pouco a necessidade que eu tenho de ler as letras dos sambas. Apesar de já ter decorado quase todos, a presença das letras dá confiança. É uma muleta”.
Eles começaram a tocar numa viagem que a turma fez a Ouro Preto (foto). Nunca mais pararam. Na volta, passaram a tocar nos intervalos da faculdade, em churrascos, aniversários...
No repertório dos Desafetos, vários sambas não podem faltar. Afinal, eles tocam quase sempre umas cinco horas seguidas, com poucos intervalos. Mas alguns clássicos estão sempre presentes: “Filosofia” e “Com que roupa”, de Noel Rosa; “Malandro”, de Jorge Aragão; sambas da Portela: “Estrela de Madureira”, “Foi um rio que passou em minha vida”, “Porta Aberta”, “Coração em Desalinho”. “Ex-amor” de Martinho da Vila; “Conselho”, de Almir Guineto. Os sambas consagrados pelo Zeca Pagodinho, como “Vai vadiar”, “Só pra contrariar”, “Vivo isolado do mundo”, “Deixa a vida me levar”. Mas tem dois que não podem faltar nunca: “Nem ouro nem prata”, do Ruy Mauriti, e “Eu quero botar meu bloco na rua”, de Sérgio Sampaio.
Quais os projetos do grupo?
“Não temos projetos. Queremos continuar nos divertindo tocando e cantando samba. É uma terapia. É também um grito de resistência, em meio a uma conjuntura política tão ruim para todos os trabalhadores no Brasil. Aproveitamos também para fazer nossos protestos durante os sambas. E, como em todos os anos, faremos a abertura do carnaval de Friburgo, na sexta-feira, em frente ao Bar América”.
Rico
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