“No momento em que conseguimos interagir com a natureza, nos transformamos em uma pessoa melhor"
Entre a profissão e o lazer, muitos mitos circulam por aqueles que empunham o anzol e as redes. Apesar de Nova Friburgo não ter saída para o mar e seus rios não serem tão procurados para a pesca, a cidade está repleta de pescadores. É uma atividade das mais antigas e que a cada geração se renova.
“Eu comecei a pescar por conta do meu pai. É uma atividade em que a família tem influência, praticamente uma atividade que passa de pai para filho. Há 50 anos a pescaria não era realizada de forma consciente, como acontece hoje. Antigamente se matava muito peixe. Hoje os pescadores esportivos, e eu sou um deles, têm mais consciência”, explica Cleres de Oliveira Freitas, o Clerinho (foto), dono da loja de automóveis Gaguinho’s.
De acordo com Clerinho, o gosto pela atividade está no sangue, e isso é determinante para adquirir uma consciência ambiental. “Tenho a pesca como um hobby, pesco por diversão. Os pescadores esportivos soltam o peixe logo após a captura. Temos uma licença paga anualmente para poder realizar essa atividade. Tudo é organizado e pensado para não agredir a natureza, justamente porque temos o prazer de frequentar esse ambiente e não queremos agredi-lo e nem prejudicá-lo”, conta Clerinho.
Segundo ele, interagir com a natureza é uma das principais motivações do hobby. “No momento em que conseguimos interagir com a natureza, nos transformamos em uma pessoa melhor. A pessoa que geralmente é mais estressada e passa a ter um hobby como esse fica mais leve. No caso da pesca, a pessoa ainda ganha ainda mais consciência. A gente não suja o lugar para onde vai e nós ajudamos a preservar a vida naquele ambiente. Nada impede que o pescador esportivo traga um peixe para consumo. A lei federal permite que o pescador carregue até 15 quilos do pescado. Existem leis estaduais em que o limite é maior”, comenta o pescador.
Questionado sobre histórias marcantes, ele conta um sonho de consumo que está difícil de se concretizar. “Nessas décadas de pesca, foram muitas histórias marcantes. No geral elas são daqueles dias de glória em que às vezes pegamos centenas de peixes. Mas uma vez fui para Mato Grosso, fiquei alguns dias por lá e não consegui pescar nada. E isso no Mto Grosso é quase impossível, mas mesmo assim aconteceu. Mas talvez o que mais me marcou até hoje foi a minha tentativa de pescar um peixe muito comum no Norte do país, mas nunca consegui, que é o tambaqui. Eu fui a Rondônia umas seis vezes só para poder pescá-lo, mas nunca consegui. É um peixe que chega a pesar até 50kg”.
Nem só de glórias vive um pescador. Esse o caso de Vilmar Lima Sangy (foto), proprietário da loja Clube da Pesca Nova Friburgo. Pescador há mais de 30 anos, desde a tradicional vara de bambu à moderna carretilha de hoje em dia, o friburguense já pescou no Pantanal e em diversas cidades do estado. “Meu maior peixe foi um pirarucu de 52kg. É um peixe de água doce e levou uma hora para eu conseguir trazê-lo até a margem do lago onde foi capturado”.
Mas foi em Cabo Frio que uma verdadeira aventura aconteceu com ele. Preso em uma ilha com oito pessoas, com pouca comida e pouca água, Vilmar conta como foi um dos maiores desafios que a pesca o levou a superar. “Fui pescar em Cabo Frio com mais oito pessoas e ficamos presos em uma Ilha. Estava programado para pescarmos na Ilha do Breu e dormir uma noite lá. Durante a madrugada, o tempo mudou e o mar ficou agitado, com muitas ondas fortes e enormes. De manhã a situação não melhorou e o barco que iria nos pegar não conseguia se aproximar da ilha. Tivemos que dormir mais uma noite lá e, durante todo o tempo, tivemos que nos preocupar em fazer racionamento de água e comida. Acabamos comendo todo o peixe que pescamos. Na manhã do terceiro dia, o mar estava mais calmo e conseguimos voltar em segurança”.
Clerinho
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