“Este não é o primeiro acidente com os ônibus em menos de um ano. O que estão esperando? Uma tragédia maior? Não podemos deixar morrer uma criança”, disse Adriana Pereira da Silva Figueiredo, mãe da estudante Jhenifer, de 11 anos. A menina era uma das crianças que estavam no ônibus escolar que bateu no final da tarde da última sexta-feira, 17, e deixou cinco feridos.
Revoltados com a demora na construção do novo prédio da Escola Municipal Juscelino Kubitschek e as condições do transporte escolar consideradas precárias, dezenas de pais e alunos se reuniram na manhã desta segunda-feira, 20, em frente à escola, na Rua Leonino Dutra, em Varginha, para impedir que os alunos fossem transportados para o antigo Colégio Cêfel, no Paissandu, onde a Escola JK funciona desde agosto de 2015 quando o prédio antigo foi desativado.
Durante o protesto, entre gritos de ordem, os manifestantes pediam pela construção imediata da escola. “Queremos um colégio novo. Já faz quase um ano que só estamos ouvindo promessas. Queremos um lugar decente para nossos filhos estudarem”, disse Lilian Fernanda da Silva, mãe de um estudante.
O transporte diário dos alunos da JK para o antigo Cêfel vem sendo realizado pela empresa Caminhos Dourados, contratada pela prefeitura. “Este não é o primeiro acidente no trajeto. Os estudantes e o próprio motorista disseram que o ônibus já teria saído daqui com a embreagem solta e não tinha cinto de segurança nos bancos.Todos dizem que os ônibus costumam correr muito”, acrescentou Lilian. Para Charles Alvez, taxista, e pai de dois alunos de 4 e 8 anos, da JK, a situação é grave. “Esses ônibus não são de transporte de crianças. Eles fazem turismo. Falta segurança”, afirmou.
Dilene do Espírito Santo, mãe do aluno Daniel, de 16 anos, disse que também ficou muito nervosa. Só fiquei sabendo porque duas colegas dele me avisaram, mas não souberam comunicar se o Daniel estava ou não bem. Fiquei desesperada, pois meu filho é especial, ele não sabe ler ou andar sozinho; tem síndrome de Down”, disse ela, acrescentando que ninguém da escola entrou em contato com ela. “Graças a Deus o meu filho não se machucou gravemente. Apenas está reclamando de dores no braço”, acrescentou.
Joyce, de 12 anos, também estava no veículo que bateu. “Eu estava distraída mexendo no celular quando escutei um barulho alto. Bati a minha perna muito forte contra o banco. Quando levantei, vi muita gente chorando. Uma das minhas amigas estava agarrada no ferro. Estou muito assustada e não quero ter que pegar esse ônibus outra vez”, disse ela ontem de manhã.
O representante da empresa responsável pelo transporte das crianças esteva no local mas não quis conversar com a equipe de reportagem. Um dos motoristas, que preferiu não se identificar, explicou que os pais não liberaram a passagem dos ônibus. “Queremos fazer o nosso trabalho. Viemos para fazer o transporte, mas se as crianças não vão estudar, não temos nada a fazer aqui”, exclamou.
Questionado ainda sobre o estado dos veículos e o acidente da última sexta-feira, o motorista afirmou que não tinha nada a falar sobre o estado dos ônibus. “Isso é a empresa que tem que explicar. O mesmo acontece com o acidente. Ainda não tive com o motorista, não sei o que aconteceu”, afirmou.
Ainda no local, uma das mães de aluno, a costureira Vera Lúcia Jandre André, conversou por telefone com o prefeito Rogério Cabral. Entre as exigências, ela solicitou a presença dele ou outra autoridade e afirmou que os alunos não farão mais o trajeto e que querem um local provisório, no próprio bairro, para que as crianças possam estudar até a escola ficar pronta.
Mais tarde, confusão com uso até de spray de pimenta
Procurada pela equipe de A VOZ DA SERRA, a Secretaria municipal de Educação explicou que ainda não sabia as causas do acidente. “Estamos aguardando o resultado da perícia. Ninguém se feriu gravemente, não houve internação hospitalar, cirurgia ou internação em UTI. As cinco crianças atendidas foram liberadas pouco tempo após o acidente”, informou através de nota.
Questionada sobre as medidas a serem tomadas e o pedido da volta das aulas no próprio bairro, a secretaria informou ainda que caso os pais conheçam algum imóvel em Varginha para aluguel ou desapropriação, a prefeitura está aberta a sugestões.
Durante a tarde, na tentativa de impedir que os ônibus saíssem, manifestantes sentaram no meio da rua. Houve tumulto e, conforme um vídeo divulgado em redes sociais, a polícia reagiu com força e até utilizou spray de pimenta para desmobilizar os manifestantes.
O comandante do 11º BPM, coronel Carlos Eduardo Hespanha, explicou que uma mulher deitou na pista para impedir a passagem da condução. “Falei com o comandante da operação e ele afirmou que pediu a saída dos manifestantes da rua. Foi preciso utilizar a força para a retirada de uma mulher. Houve um pouco de confusão, mas após a saída dela, a situação ficou mais calma”, afirmou ele.
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