Desocupado há oito anos, o belo e imponente casarão da Vila Amélia, na Rua Teresópolis, ainda não teve seu destino definido. O prédio, que abrigou durante décadas a 151ª Delegacia de Polícia de Nova Friburgo, pertence a Associação Friburguense de Amigos e Pais do Educando (Afape), que aguarda por um comprador ou locatário para o imóvel.
De acordo com o presidente da Afape, Jorge Wilson Vieira, o prédio não tem utilidade para a instituição. “Estamos precisando de verba para continuar oferecendo serviços de qualidade para a população. O casarão não tem nenhuma serventia para a Afape e está lá, parado, fechado. Queremos vendê-lo ou alugá-lo”, disse ele explicando que o prédio, junto ao terreno, está avaliado em R$ 1,4 milhão.
Ainda segundo Jorge, ele já foi procurado por alguns empresários da cidade para vender a propriedade, no entanto, por conta das especificações, ou seja, a proibição de demolir o casarão (imóvel tem valor histórico), e o mau estado de conservação, em todos os casos houve desistência. “É muito difícil encontrar alguém disposto a comprar a área para reformar o casarão. Já recebi ofertas de compradores para a construção de prédios no terreno e estabelecimentos comerciais. Nenhuma proposta inclui, até agora, a manutenção do casarão”, falou.
O prédio da antiga chácara tem mais de 100 anos e em 2012 foi interditado pela Defesa Civil, também por conta do mau estado. “Fizemos um pedido de liberação temporária para a prefeitura para realizar obras no local. O prazo de seis meses, entretanto, expirou”, disse Jorge. Ainda segundo ele, foi feito um orçamento para a recuperação das portas, janelas e do piso do segundo andar. “Chegamos ao valor de cerca de R$ 200 mil”, pontuou ele, destacando que, em 50 anos, apenas uma reforma, que inclui a recuperação do telhado e forro do segundo piso, foi realizada.
De mãos atadas
O presidente da Afape conta que em 2012 protocolou na prefeitura um pedido de autorização para demolir o casarão. Isso porque, na época, recebeu uma proposta que previa a construção do Parque Residencial Vila Amélia. “É uma área grande, são 2.800 metros quadrados. Uma construtora faria prédios ali e a Afape seria beneficiada com dez apartamentos, uma renda fixa à entidade assistencial que poderia alugá-los ou até mesmo vendê-los e aplicar o dinheiro recebido no mercado financeiro. Mas, por conta do imóvel ter sido objeto de um tombamento provisório por parte da prefeitura municipal, não pudemos levar adiante esse projeto”, contou ele.
“Agora, estamos de mãos atadas: não temos verba para reformá-lo e não podemos utilizá-lo ou alugá-lo por conta da proibição da prefeitura. Ao mesmo tempo, estamos em busca de um comprador ou locatário para o imóvel, que aceite fazer os reparos emergenciais. Estamos abertos a qualquer proposta”, destacou Jorge. Ele já ofereceu o imóvel à órgãos públicos e empresas, até mesmo de graça, em troca apenas da garantia de manutenção do prédio hoje infestado por cupins, escorpiões e roedores, mas não houve interessados.
Dificuldades financeiras
A Afape funciona com dificuldades, pois depende praticamente dos R$ 35 mil mensais de repasses do governo que nem sempre são creditados em dia. Para manter o funcionamento e a folha de pagamento da equipe de profissionais, a instituição depende da caridade de voluntários e apoiadores.
Antes de ser condenado pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli para servir como delegacia e carceragem, o casarão rendia à Afape R$ 7 mil mensais de aluguel mas, segundo a instituição, há dívidas antigas do governo estadual que ultrapassam R$ 50 mil. A Secretaria estadual de Segurança Pública devolveu o casarão à Afape em setembro de 2013 quando a 151ªDP passou a ser Delegacia Legal e funcionar em uma sede própria na Avenida Presidente Costa e Silva, na Vila Nova.
Preocupação de moradores
Enquanto o destino do casarão não é definido, moradores e comerciantes da Vila Amélia estão preocupados com o abandono do local. “Eu estou muito angustiada com a situação desse imóvel. Minha mãe mora aqui há 35 anos e já faz tempo que o casarão está assim: largado, abandonado. Já vi ratos passando por aqui e acredito que possa haver focos de dengue na propriedade. Além disso, tem gente que invade esse espaço para usar drogas”, disse a auxiliar de serviços, Joyce da Costa Cordeiro, de 46 anos.
A entrada para o casarão foi cercada por tapumes de alumínio. Mas, de fora é possível observar a vegetação já crescida e alguns galões espalhados, além das janelas e portas do prédio abertas. “Há muitas poças ali dentro. Acredito que onde funcionava a carceragem possa haver focos de mosquito e até outros insetos e animais. Vários amigos e frequentadores do meu bar tiveram dengue. Alguém precisa fazer alguma coisa. Eu às vezes limpo alguns canos que ficam aqui próximo a rua. Mas, até por estar fechado, não posso fazer mais que isso”, disse o comerciante Wanderson Cunha Salles, 42 anos, que além de destacar o perigo da situação em que se encontra o terreno, acredita no potencial da construção histórica: “O casarão é um prédio lindo. Poderia ser reformado e virar uma biblioteca pública, por exemplo”, sugere.
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