Desperdício de alimentos: a trajetória da comida até o lixo

segunda-feira, 03 de novembro de 2014
por Dayane Emrich
Desperdício de alimentos: a trajetória da comida até o lixo
Desperdício de alimentos: a trajetória da comida até o lixo

Antes de chegar à mesa dos brasileiros, os alimentos passam por um longo processo desde o plantio, passando pela colheita, manipulação, transporte, industrialização e distribuição, até o mercado, para o carrinho de compras. Nesse trajeto, parte do que consumimos é desperdiçado e, não bastasse isso, muitas vezes durante o preparo das refeições ou mesmo já no prato o desperdício continua. 

Segundo informações divulgadas pela Embrapa no dia 15 de agosto, 6% das perdas de alimentos ocorrem na fase de processamento, 28% durante a produção, 22% durante o processo de manuseio e armazenamento, 17% na etapa de distribuição e 28% ocorrem pelo consumidor. 

Para se ter ideia do quão grande é o problema, cerca de um quarto a um terço dos alimentos produzidos para o consumo humano são desperdiçados. Isto equivale a aproximadamente 1,3 bilhões de toneladas de alimentos por ano, incluindo 30% dos cereais, entre 40 e 50% das raízes, frutas, hortaliças e sementes oleaginosas, 20% da carne e produtos lácteos e 35% dos pescados. O que, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), seria suficiente para alimentar dois bilhões de pessoas. 

Em Nova Friburgo, a feira da Vila Amélia é a principal porta de entrada de frutas, hortaliças e cereais ao centro da cidade. Com uma variedade grande, é possível encontrar dezenas de opções de frutas como maçã, pera, banana, melancia, morango, coco, mamão, uva, entre tantas outras. Da mesma forma, é difícil não achar o tempero, legume ou verdura desejado. A CoopFeira é um verdadeiro ‘tem de tudo’ e atrai cerca de cinco mil clientes todos os sábados e mil e quinhentas pessoas por dia, de segunda a sexta. Vale destacar ainda que, além de Nova Friburgo e Região Serrana, a feira também atende clientes do Norte e Noroeste fluminense. 

A boa notícia, no entanto, é que, apesar de receber muitos alimentos, o desperdício na feira é relativamente baixo. Segundo o gerente, Cláudio Neves de Barros, os produtos que chegam lá são vendidos rapidamente e o pouco que não é aproveitado é destinado à alimentação de animais. "Às vezes o alimento amassa no caminhão. Ninguém compra uma fruta aparentemente feia, por mais que ela ainda esteja perfeita para o consumo”, disse ele.

Cláudio contou também que, atualmente, a feira faz doações para o Lar Abrigo Amor a Jesus (Laje), para a Associação Cordeiro de Deus e para a Catedral São João Batista. "Doamos, aproximadamente, uns 300 kg toda segunda e toda sexta-feira. Algumas coisas não podem ser doadas, pois começam a azedar”, explicou ele.

Já o feirante José Jorge Heringer — que vende seus produtos na Vila Amélia há mais de 20 anos — afirma que, por semana, o mercado recebe mais de 500 toneladas de alimento (entre frutas, hortaliças, legumes e cereais) e que, deste total, cerca de 3% — acredita ele — tem como destino o lixo. "Banana, aipim, hortaliças como couve-flor, alface e alguns temperos são os que mais estragam”, disse ele, explicando que o verão é a pior época, pois "os alimentos se decompõem mais rápido. Por outro lado, nessa estação se consomem mais frutas e hortaliças, através dos sucos e saladas”. 

Sobras dos restaurantes vão para os porcos

Na tentativa de realizar um levantamento médio da quantidade de alimentos desperdiçados todos os dias em Nova Friburgo, A VOZ DA SERRA entrou em contato com alguns dos principais restaurantes da cidade; contudo, a maioria dos estabelecimentos não soube precisar a quantia. Alguns afirmaram que cerca de 20 a 40 kg são perdidos, sendo que, dos estabelecimentos consultados, um declarou que, diariamente, 200 kg de alimentos são desperdiçados. Todos os restaurantes ouvidos contaram que fazem doação do que sobra para criadores de porcos. 

Conforme afirma o nutricionista Renato Sippli de Moraes, para evitar que grandes quantidades de comida tenham como destino o lixo, é preciso tomar algumas medidas que valem para o consumidor final e para os empresários. Ele dá as seguintes dicas: consumir rapidamente frutas, legumes e verduras, ou comprá-los em menores quantidades já que são perecíveis. É importante também aproveitar as folhas, os talos, as cascas e sementes dos vegetais, além de conservá-los na geladeira, preferencialmente inteiros, para evitar o envelhecimento precoce do alimento. Outro conselho é evitar a compra de mês, já que geladeira lotada acumula produtos fora da validade.

Boa ideia e grande iniciativa

Para reduzir o desperdício de alimentos, algumas empresas vêm desenvolvendo campanhas para conscientizar seus funcionários a mudarem seus hábitos. Nutricionista de uma dessas empresas, Renato Sippli dá como exemplo a campanha Prato Limpo: "A ideia é mostrar a importância de colocar no prato somente aquilo que se vai comer, o que é uma forma de evitar o desperdício”, conta ele. "Para estimular ainda mais os funcionários a criarem esse hábito, fazemos sorteios de brindes todo mês. No final de cada almoço, na área de devolução dos pratos, aqueles que devolvem o mesmo sem sobras de alimentos ganham um ticket. Quem juntar pelo menos quinze tickets por mês ganha o direito de participar do sorteio. O resultado está sendo bem satisfatório”, diz ele.

Diferença entre perda e desperdício

De acordo com a FAO, a perda de alimentos ocorre entre as fases da colheita até o do transporte para o comércio varejista. Tal situação ocorre mais facilmente, portanto, em países em desenvolvimento, que enfrentam defasagem tecnológica, mão de obra especializada e falta de investimento em infraestrutura.

Pelos dados da organização, o Brasil está entre os dez países que mais perdem alimentos, um total de 35% da produção agrícola. A situação é bem grave quando se compara com outros países. Entre os norte-americanos e europeus, o desperdício gira em torno de 95 kg e 115 kg ao ano. Já no Sudeste Asiático e na África, o número está entre 6 e 11 kg/ano. Os brasileiros, por ano, se desfazem de 40 a 50 kg de alimentos, o que se somado às perdas, chega-se aos preocupantes 131,5 kg/ano. 

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