Marcos Antônio Martins está trabalhando em meio aos escombros de imóveis que, há mais de uma semana, são demolidos em uma curva na Avenida Governador Roberto Silveira, em frente ao posto de combustíveis Raça, no bairro Duas Pedras. O eletricista de carros, de 53 anos, anda angustiado porque, desde agosto do ano passado, ainda não recebeu a indenização pelo imóvel onde funciona a sua oficina, às margens do canteiro de obras de canalização do Rio Bengalas.
“O movimento de clientes na minha oficina caiu mais de 40% quando os prédios ao lado começaram a ser desapropriados. Agora, com as demolições, eu praticamente não tenho clientes. Qual motorista virá em busca dos meus serviços com a minha oficina nestas condições?”, reclama o eletricista, que há 25 anos trabalha no local conhecido como curva do J.J.
“As demolições ao lado estão afetando a estrutura da minha oficina, que corre o risco de desabar. Imagina se uma parede cai sobre o carro de um cliente ou sobre nossas cabeças? O governo deveria ter pago todos nós antes de começar a demolir os imóveis. Eu só posso sair daqui depois que for indenizado. Preciso trabalhar para sustentar minha família e pegar as contas”, disse.
No mês passado, o secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, esteve na cidade para entregar 50 cheques a 24 donos de propriedades no local, um valor total próximo a R$ 4,2 milhões, como indenização pelas desapropriações previstas no projeto de canalização do rio no trecho do distrito de Conselheiro Paulino.
“Estivemos em Brasília e conseguimos a liberação para dar continuidade a esse trabalho”, explicou André Corrêa, na ocasião. “Depositamos hoje (6 de setembro) cerca de R$ 5 milhões na conta do consórcio responsável para que fosse possível recuperar o ritmo de obras, e ainda hoje faremos a indenização, pois havia esse impeditivo físico para que as obras avançassem. Agora, com esses pagamentos, a gente resolve 95% dos problemas”, previu Corrêa.
Marcos Antônio e outros dois proprietários de imóveis nas margens do Bengalas em Duas Pedras, porém, não receberam os cheques do governo. Um deles, inclusive, morreu antes mesmo disso. Na última semana, o borracheiro Eleandro Carvalho Gil, também conhecido como “Perninha”, se desequilibrou ao tentar retirar entulho da laje de um dos prédios, caiu e morreu no local.
Em fevereiro deste ano, ele foi entrevistado por A VOZ DA SERRA e contou que não queria sair da casa onde também funcionava sua borracharia. “Não teve jeito. A pessoa que negociou comigo me pressionou tanto que eu assinei o papel. Vou receber metade de quanto vale meu imóvel. Já que eles querem me tirar daqui, deveriam me colocar em um lugar onde eu possa trabalhar. Onde vou encontrar um ponto comercial bom como esse?”, lamentou o borracheiro, de 38 anos.
As montanhas de entulhos que se formaram com as demolições dos prédios, nas últimas semanas, são aos poucos retiradas do local. A Prefeitura de Nova Friburgo assumiu o compromisso de estocar esses detritos, que podem no futuro ser utilizados como base para o asfaltamento de estradas vicinais, ou para reparos na estação das chuvas. Na curva onde os imóveis estão sendo desapropriados, deve ser construída uma grande área de lazer para os moradores. O projeto, porém, não foi divulgado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea).
Em nota, o órgão informou que há 11 processos de indenização em tramitação para pagamento no setor financeiro, no montante de cerca de R$ 1.100 milhão. “Dentre os beneficiários que aguardam a indenização, encontra-se o comércio de Marcos Antônio Martins, que negociou seu imóvel, em 2015, no valor R$ 93.600 mil. Entretanto, somente agora ele demonstrou interesse em receber a quantia anteriormente negociada e deverá ser indenizado nos próximos dias”, esclarece o texto.
O Inea ainda explicou que a indenização de outros 15 imóveis continua em processo de negociação visando à conclusão da obra no Rio Bengalas. “Ainda restam seis moradores aguardando pela moradia. Cabe ressaltar que as demolições dos imóveis ocorrem após o devido pagamento de indenização, conforme prevê o decreto estadual 43.415/2012“, diz a nota do órgão. (A nota do Inea foi acrescentada na reportagem no dia 13 de outubro de 2016.)
Maior obra na cidade
As obras de canalização do Rio Bengalas começaram em março de 2013 e seriam entregues em abril deste ano, segundo o cronograma do projeto que é tocado pela EIT Engenharia e a Ferreira Guedes, empresas que integram o consórcio Rio Bengalas. O atraso ocorreu, de acordo com o Inea, devido à demora no pagamento das indenizações pelo governo do estado às famílias que vivem às margens do rio.
De lá pra cá, as empresas executaram serviços de aumento da calha do rio, dragagem e desassoreamento para ampliar o escoamento das águas e acabar com as históricas inundações no principal eixo rodoviário de Nova Friburgo.
O consórcio também construiu grandes muros de concreto para garantir a estabilidade das margens do rio. Calçadas adaptadas para portadores de necessidades especiais também foram construídas e grades de proteção foram instaladas em alguns trechos do rio.
Segundo a Secretaria estadual do Ambiente, desde o início das obras, 463 imóveis, em Nova Friburgo, foram indenizados a um custo de R$ 31.915 milhões. Destas casas, 111 estão localizadas às margens do Rio Bengalas, no distrito de Conselheiro Paulino, e 352 no bairro Córrego Dantas.
No início deste ano, representantes do executivo municipal estiveram em Brasília onde conseguiram a liberação de R$ 55 milhões para que as obras no parque fluvial sejam concluídas. No total, os governos estadual e federal estão investindo R$ 195 milhões no projeto. A previsão de conclusão da obra, agora, é em julho de 2017.
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