O último fim de semana foi vitorioso para o Brasil no UFC. Depois de acumular perdas de hegemonia em série e ver cair o até então último campeão (Rafael dos Anjos, na última sexta-feira, 8), o país voltou ao topo em duas categorias. Amanda Nunes fez história ao vencer Miesha Tate e se tornar a primeira mulher brasileira a conquistar o cinturão da principal organização de lutas do planeta.
Além dela, um dos mais famosos atletas do esporte nacional voltou a brilhar: José Aldo venceu o americano Frankie Edgar por decisão unânime (49-46, 49-46, 48-47) e voltou a conquistar o título interino dos pesos-penas. Mas engana-se quem pensa que todos os brasileiros vibraram da mesma forma com o triunfo.
Para um mestre friburguense a vitória de Aldo teve gosto amargo, enquanto a derrota de Rafael dos Anjos lhe rendeu uma boa dose de felicidade. Há três anos, Anderson França trabalha o muay thai com Frankie Edgar e vive a rotina do lutador quando os desafios pelo UFC se aproximam. Recentemente, também passou a integrar a equipe de Alvarez.
“Sou brasileiro, e com certeza também torço demais para o Aldo e para Rafael dos Anjos, de quem nós ganhamos o cinturão (França também participou da preparação do americano Eddie Alvarez). Sou fã desses atletas e sempre irei torcer e vibrar por eles quando a luta não for contra nossa equipe. Fui muito bem recebido aqui, me sinto em casa. Eles viraram a minha família, e por isso farei de tudo por eles sempre”, pontua.
Para ajudar na preparação para o duelo do último domingo, Anderson está há dois meses nos Estados Unidos. E os resultados, apesar da derrota, aparecem e são elogiados. Depois deste último combate, por exemplo, a evolução do desempenho de Edgar na trocação e os bons golpes aplicados contra um especialista nesse quesito ganharam destaque na mídia internacional.
“O Frankie vem melhorando a cada dia, é um atleta excepcional e fácil de trabalhar. Realizo o mesmo trabalho que faço com Edson e Marlon. Nós treinamos sempre de duas a três vezes por semana, e fazemos um treino apenas de chutes. Com certeza ele merecia ser campeão, pela sua história e dedicação”, disse.
Ao analisar o duelo com Aldo, Anderson França destaca que a postura de José Aldo surpreendeu toda a equipe e dificultou a execução do planejamento de Edgar. O mestre de Nova Friburgo, inclusive, avalia os benefícios de uma hipotética troca de categoria para o americano.
“O Aldo é um dos melhores atletas brasileiros que vi lutar. Ele é bom em todas as partes, defende muito bem as quedas, então sabíamos que ia ser difícil derrubá-lo. Acho que o Frankie seguiu o planejado, caçou o tempo inteiro. O Aldo esperou muito, não veio para a briga, e isso atrapalhou. Os chutes do Aldo são fortes, então teríamos que pressionar para dificultar os chutes. Frankie deu o máximo, pois queria muito vencer. Sinceramente achei que o Aldo iria aceitar mais a trocação, mas recuou o tempo inteiro para jogar no contragolpe. O Edgar pesa 70 quilos normalmente, e nossa equipe toda acha que o ideal seria ele lutar de 135 lb (até 61 quilos). Ele perde muito pouco peso para lutar”, avalia Anderson França.
Ainda assim, mesmo com o resultado negativo, Frankie Edgar fez história ao final do combate: tornou-se o primeiro lutador da história da organização a passar mais de seis dentro do octógono.
Edson, Marlon e mudança para os Estados Unidos
Depois de Alvarez e Edgar, o foco passa a ser a dupla friburguense Edson Barboza e Marlon Moraes, alunos de França desde a infância. Ambos possuem lutas marcadas para este mês, e a preparação já está na reta final. “Júnior (Edson) e Marlon estão ótimos, muito bem preparados. Neste mês, quatro atletas nossos lutam: Eddie Álvares, Frankie Edgar, Edson Barboza e Marlon Moraes. Por isso, os treinos estão ótimos, muito pesados. Cada um segue a sua estratégia para a luta, e acredito que vamos conquistar mais duas vitórias para Nova Friburgo. Nesse nível só existem lutas difíceis, mas Edson e Marlon são os melhores do mundo e estão preparados para essas guerras”, aposta França.
Anderson França de Carvalho, 43 anos, começou a lutar aos sete anos. Desde a primeira arte marcial praticada, o taekwondo, o interesse pela luta cresceu e se consolidou através do kickboxing. Mas foi no muay thai que começou a trilhar o caminho do sucesso. Em 1996 ganhou a primeira oportunidade para dar aula na Academia Brasil Fight Center. Credenciado pelo título de melhor atleta do país, o lutador pôde repassar aos alunos todo o conhecimento durante quatro anos. Começava ali a trajetória que o levou ao mundo do UFC.
O reconhecimento ao trabalho com atletas de ponta na organização, inclusive, deve provocar uma mudança de vida para Anderson França. Literalmente. O mestre friburguense, que mora em Nova Friburgo e viaja apenas alguns meses antes das lutas, recebe propostas frequentemente e já ensaia uma mudança definitiva para os Estados Unidos.
“Sempre surge alguma coisa, mas tenho que analisar com calma. Amo minha cidade, que é Nova Friburgo, meus alunos no Brasil, tenho minha vida estabilizada. Mas meu trabalho vem crescendo bastante aqui, e estou tendo que vir para cá quase toda hora. É muito difícil ficar longe da minha esposa e dos meus filhos, que sempre apoiaram os meus sonhos. Minha família é a minha vida. Pretendo sim trazê-los comigo para os Estados Unidos, e retornar ao Brasil apenas para participar de seminários, exames e ver meus alunos. Tenho uma equipe formada, que com certeza iria dar continuidade ao meu trabalho”, comenta França.
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