João Carlos Leal, Pousada Canteiros
“Eu, João Carlos Leal, 58, jornalista, minha mulher, Elaine Souza, 51, bancária, e meu filho Lucas, 18, aluno do Cefet de Nova Friburgo, nos mudamos para São Pedro da Serra no fim de 2003. Demos a "sorte" de perder nossos empregos quase ao mesmo tempo. O que tornou mais fácil decidir içar âncora, vender tudo e tentar a sorte em São Pedro - e realizar o sonho de uma vida mais tranquila no interior.
Alugamos uma casa durante o primeiro ano na vila e, enquanto procurávamos um lugar ideal para montar uma pequena pousadinha que pudéssemos cuidar sem necessidade de empregados, eu comecei a editar um jornal comunitário (o Correio da Serra, que circulou em Lumiar e São Pedro, entre 2003 e 2011) e junto com Elaine, montamos uma papelaria. Em junho de 2005, inauguramos a Pousada Canteiros. Bem a tempo de atender a procura pela Tradicional Festa de São Pedro.
Hoje, quase 16 anos depois de nos mudarmos, não temos nenhum arrependimento. A vida na vila é uma delícia e o turismo continua sendo um excelente negócio para essa parte de Nova Friburgo. Não é coisa para ficar rico. Mas essa também nunca foi a nossa proposta. Queríamos um lugar bom para criar nosso filho, que chegou aqui com dois anos, e conseguir nos manter com conforto.
A festa
Quando chegamos a São Pedro, a Festa - assim mesmo, com letra maiúscula - era considerado o maior evento comunitário do gênero no interior do Estado do Rio. Tinha festa maior, claro. Mas organizada por prefeituras, com verbas públicas e patrocínios graúdos. A Tradicional Festa de São Pedro, que completa 154 anos no próximo dia 29, nunca teve nada disso. Ainda assim, a procura por ela era tão grande que lotava todas as pousadas de São Pedro, as de Lumiar e ainda se influenciava a taxa de ocupação de hotéis em Mury.
O valor da diária durante a festa era o mais alto de todo o ano, superando as diárias cobradas no Réveillon, Carnaval e Páscoa. E não eram apenas as pousadas que ganhavam com a festa. Vários moradores alugavam quartos, ou as vezes as próprias casas, para ganhar em três dias (sexta a domingo) o que não recebiam em dois meses.
Mas as crescentes exigências e taxas (Bombeiros, Ecad, Energisa e secretarias municipais) foram tornando inviável continuar fazendo a festa por puro amor, na base de voluntários, que precisavam largar seus trabalhos e negócios para obter as licenças e, depois, ainda passar as noites da festa em claro, cuidando para que os frequentadores não causassem muitos danos à vila.
A comissão de fiéis da capela, que sempre esteve à frente do evento, não aguentou e, em 2008, desistiu e passou o ‘abacaxi’ para a Associação de Moradores e Amigos de São Pedro da Serra, Amasps. A diretoria da Amasps ficou com a responsabilidade durante seis anos, até que percebeu que era tanto trabalho, tanta burocracia, tanto custo e tão pouco apoio do poder público que passava quase meio ano voltada para um único evento ao invés de cuidar dos problemas da comunidade (saúde, segurança, transporte etc.). E a festa foi devolvida à igreja.
A comissão da capela aceitou a responsabilidade, mas para fazer as coisas em moldes diferentes. Quis ‘pisar no freio’ como se falou na época. Reduzir o número de barracas, proibir a venda de bebidas alcóolicas e excluir shows que tivessem músicas de duplo sentido, apelativas etc. E foi cortando aqui e ali, até que no ano passado, o evento ficou limitado ao entorno da histórica capelinha de São Pedro (a mais antiga de Nova Friburgo e região).
Este ano, para que não se repetisse a edição minguada de 2018, outra associação da vila, a Associação do Comércio e da Indústria de São Pedro da Serra, Acisps, pediu autorização à Amasps e ao padre da paróquia local (que tem base em Lumiar) para negociar uma maneira de "terceirizar" a festa.
A Acisps defende a ideia de que nenhuma das entidades locais têm condições de enfrentar o nível de burocracia para liberar uma festa, nem de cuidar da produção propriamente dita. E que era preciso passar esse trabalho para uma empresa de eventos que topasse realizar o festejo dentro de parâmetros que garantissem segurança, saúde e limpeza da vila antes, durante e depois da festa. A empresa convidada, a Teia de Eventos, topou e está fazendo uma primeira experiência. Torcemos para dar certo.”
Gilberto e Cristiane Machado, antiquário Garimpo do Tempo
“Os antiquários sempre foram uma paixão. Buscar uma peça aqui, outra ali, cheias de histórias, nos encantava. Por sua vez, São Pedro da Serra, há poucos quilômetros de Friburgo, é um lugar que sempre frequentamos muito e que nos dava a sensação de voltarmos no tempo, com seus moradores tranquilos, a natureza belíssima e a eterna percepção de que aqui o tempo passa mais devagar. Então, eu e Cristiane tivemos a ideia de unir estas duas paixões. Foi assim que o Garimpo do Tempo chegou a São Pedro, devagarinho, tranquilamente, assim como é a vida aqui.
Conhecendo os moradores um a um, recebendo-os com muita atenção e carinho, fomos também conquistando a visita de pessoas de fora da cidade, que aos fins de semana, vêm em busca dessa paz que só aqui tem. Fomos ficando e, por conta de tantas peças lindas e tantas histórias, que precisavam de mais espaço, mudamos de loja para abrigá-las.
E assim caminha o Garimpo, recebendo a todos, sentando para um dedo de prosa e sentindo a vida passar da melhor maneira possível, vivendo o lugar e as pessoas.”
Paulo Toscano, Cuba Café
“Prefeito, tudo bem? Prazer em conhecê-lo! Meu nome é Paulo Toscano, sou repórter fotográfico. Me permite fazer algumas fotos do senhor aqui na Festa de São Pedro?
- Por que não! Claro! Respondeu muito simpático o então prefeito de Nova Friburgo.
O senhor gosta dessa festa? Fiz mais uma pergunta.
- Paulo, participo da Festa de São Pedro, religiosamente, há mais de 45 anos! Adoro essa festa!
O dirigente público respondeu, dessa vez, me permitindo a aproximação que desejava por ser jornalista de imagem.
“Prefeito, gostaria de fazer um breve ensaio fotográfico. Preciso que o senhor vista vários desses chapéus que estão à venda nessa barraca ao lado. Topa?
- Claro, pegue os chapéus, que farei com o maior prazer.”
O diálogo em meio ao frenesi de pessoas que lotavam aquela festa de São Pedro, de 2010, foi entre o fotojornalista Paulo Toscano e o então prefeito de Nova Friburgo, Heródoto Bento de Mello. O prefeito vestiu nada menos do que dez chapéus, posando sempre com um sorriso tímido, mas extremamente positivo para a imagem, que ilustrou a página do saopedrodaserra.blogspot.com, mídia criada pelo jornalista carioca que trata de temas variados dos distritos de Nova Friburgo.
“Publiquei seis imagens que abriram as primeiras informações sobre a famosa festa de São Pedro, distrito de Nova Friburgo, lugar onde passei a morar em novembro de 2009”, revela Toscano.
Depois de trabalhar para os jornais A Tribuna, de Niterói, O Globo, Folha de São Paulo e O Dia, de onde saiu em 2002, iniciou, em 2003, a carreira de docência na Universidade Gama Filho, após concluir a pós-graduação em Fotografia Como Instrumento de Pesquisa Nas Ciências Sociais, pela Candido Mendes, ao mesmo tempo em que atuava com fotojornalista em assessoria de imprensa, função que exerce até hoje. Em seguida, lecionou na Unesa, Uerj e na Ucam, campus Nova Friburgo.
Pai de Paulo Guilherme, 25, músico, e João Pedro Toscano, 21, letrista, formados pela Unirio, o jornalista decidiu largar tudo no Rio para continuar próximo aos dois filhos, que em 2007, com 14 e 11 anos, acompanharam a mãe, que decidira sair da Tijuca para morar em São Pedro da Serra.
“Receoso com a possibilidade de me entediar, vivendo na “roça”, como definem meus amigos, resolvi criar um blog em que pudesse exercer a minha profissão e, dessa forma, me sociabilizar mais rápido com os nativos. Com isso fui fazendo amizades muito rápido e conhecendo os pormenores de uma vila muito simpática e agradável de viver. A festa de São Pedro me encantou pela possibilidade de perceber uma sociedade católica, com sua fé e tradições religiosas”.
Em 2013, Paulo Toscano decidiu conhecer Cuba, despertado pela presença no Brasil da socióloga e blogueira cubana Yoani Sánchez, uma crítica do socialismo cubano. A viagem, organizada por um amigo, permitiu que o jornalista deixasse o trabalho e fosse direto para o aeroporto e, na volta, deixasse o aeroporto e fosse direto para o trabalho.
“Foram 15 dias que me dediquei a conversar e fotografar cubanos em seus cotidianos, que resultaram numa bela exposição fotográfica intitulada “Dores Calderon, uma Rainha do Socialismo”, e, também, na fundação do Cuba Café & Fotográfica, cafeteria com fotografia, em São Pedro da Serra”.
Rodrigo Melo de Assis, presidente da Associação Comercial e Industrial de São Pedro da Serra (Acisps)
“Em 2019 a Associação Comercial e Industrial de São Pedro da Serra, Acisps, decidiu estar à frente da realização de um evento de rua que complementasse a tradicional Festa de São Pedro, que nos últimos anos tem acontecido de forma reduzida e atualmente restrita aos arredores da paróquia, por conta das dificuldades para a organização de um evento com o porte e a história desse evento que atrai turistas e visitantes de todo o estado.
Depois de conversas com as associações locais e a igreja católica, que decidiram não realizar a parte do evento que historicamente se estende ao longo da rua principal, entendemos e decidimos, em votação, que realizaríamos o Arraiá de São Pedro da Serra, para atender a expectativa dos visitantes e manter viva a tradição de festas juninas na nossa região.
O nome ‘Arraiá de São Pedro da Serra’ foi escolhido para atender um pedido da paróquia local de que o nome “Festa de São Pedro” não fosse usada, para não confundir o que é o evento organizado pela igreja com a festa social. Para melhorar a experiência e garantir a segurança de quem vem para a festa, fizemos a opção de terceirizar a organização da mesma, tendo como parceira a empresa Teia de Eventos, com larga experiência em grandes eventos.
A festa é realizada entre 28 e 30 de junho, na quadra de esportes e ao longo da rua principal, com muita música, comidas típicas e o clima familiar da nossa vila. (Proprietário da Pousada dos Anjos)
Deixe o seu comentário