Demolição de casas na Vilage será em março, diz secretário de Obras

Impasse na Justiça atrasa contenção de encostas no bairro
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016
por Karine Knust
(Foto: Henrique Pinheiro)
(Foto: Henrique Pinheiro)

Cinco anos se passaram e as marcas da maior tragédia climática permanecem em Nova Friburgo. Por mais que se torne repetitivo falar de tudo o que aconteceu naquela noite de 12 de janeiro de 2011, quem viveu aqueles momentos de drama, mesmo que quisesse, não consegue esquecer o episódio, já que as ruínas ainda insistem em evidenciar o terror vivido há cinco anos.

No bairro Vilage, por exemplo, tudo continua o mesmo. Em fevereiro do ano passado, a Defesa Civil divulgou — após uma reunião entre o órgão, moradores e representantes do poder legislativo — que cerca de 20 casas deveriam ser demolidas. Em março do mesmo ano, nossa equipe visitou o local para conversar com a comunidade e verificar se algo já teria sido feito. No entanto, os imóveis permaneciam deteriorados.

Um ano depois desta visita, no início desta semana, o A VOZ DA SERRA voltou à Vilage e se deparou com as mesmas reclamações ouvidas em 2015. De lá para cá, apenas uma coisa aconteceu: a vegetação, que já tomava conta dos imóveis, cresceu, dificultando ainda mais o acesso às casas em ruínas e contribuindo para proliferação de insetos e roedores.

“Nesse período de chuvas é comum recebermos visitas de técnicos. Eles vêm aqui, nos colocam terror falando que a Vilage é uma bomba-relógio, que é só questão de tempo para que algo aconteça, e depois vão embora. Enquanto isso, nenhuma providência é tomada de fato. O valão não foi feito, o muro de contenção também não, e as casas que precisam ser demolidas, menos ainda. Quando procuramos a prefeitura, fica um verdadeiro jogo de empurra”, conta o serralheiro Luiz Carlos Barata, de 46 anos, morador da Rua Zair Pires Pirazza.

Outra reclamação que permanece é em relação ao abandono de um imóvel onde, até 2011, estava instalada a Creche João Batista Faria. “Essa creche está abandonada e servindo de garagem. Até os móveis destruídos pelo barro ainda estão lá dentro”, diz o aposentado Rousevelt Peixoto de Melo, de 58 anos, que ainda apresenta outra questão que tem gerado muitas incertezas: “Ficamos em dúvida em relação à segurança dos imóveis, alguns engenheiros nos falam que ainda existem muitos perigos e outros falam que não. Na época, minha casa foi interditada, mas o IPTU começou a chegar e os serviços de água e luz foram reestabelecidos, então, para mim, isso significa que ela foi liberada, né?”, questiona o aposentado.

Cansado de esperar por uma solução, o pedreiro Adison Braga, de 61 anos, resolveu colocar a mão na massa: “Fizemos um muro de contenção por conta própria. Todo ano os técnicos aparecem por aqui para olhar a região, mas nada acontece. Enquanto isso, existem casas em cima das nossas que estão tombadas. Uma delas, inclusive, tem cinco carros estacionados que estão pesando o terreno. Isso é um perigo. Já reclamamos com a prefeitura e até agora nada foi feito também. Quando chove nós saímos daqui, mas este é o nosso bairro, vivemos aqui há mais de 50 anos. Não queremos que tudo acabe”, desabafa o morador.

O impasse

No início de 2013, o Ministério Público do Rio de Janeiro entrou com ação civil pública exigindo que o governo do estado e a prefeitura de Nova Friburgo executassem obras de contenção de encosta nas Ruas Coronel Sarmento, Zair Pires Pirazzo e General Andrade Neves. O órgão deu prazo de até seis meses para que isso fosse feito, mas, em 2014, os governos recorreram, devido a um impasse em relação a quem seria responsável pelas obras no bairro. O juiz solicitou documentos suplementares aos altos para decidir o que será feito. O processo ainda corre na Justiça.

Já sobre a demolição das casas condenadas pela Defesa Civil, a secretaria municipal de Obras informou que a referida demanda já consta no cronograma. “Entramos em um acordo com a procuradoria e nos comprometemos a demolir os imóveis. A intervenção deve começar no fim de março, aproveitando o início da estiagem e o fim das obras nas galerias da cidade”, afirmou o secretário de obras, Alexandre Cruz.

A bomba-relógio

O morro que compõe a parte alta do bairro Vilage já passou por diversos deslizamentos de menor porte antes de sofrer os impactos da tragédia de 2011. Para o secretário de Defesa Civil, coronel João Paulo Mori, essa realidade mostra a fragilidade do local em que muitos ainda moram.

“A demolição de casas só pode acontecer após serem efetuadas as indenizações por parte do governo, sejam elas através de dinheiro ou com a doação de apartamentos. No entanto, existem muitas pessoas que optam por não sair de suas moradias. O trabalho da Defesa Civil é identificar riscos e alertar a população. Se o morador preferir permanecer no local, o que podemos fazer é orientá-lo no que diz respeito a como ele deve agir em casos de chuva”, explica o secretário.

“No caso da Vilage, muitas famílias que moram na parte mais alta do bairro se recusam a sair de suas casas mesmo sabendo da fragilidade daquela encosta. Muitos estudos que já foram feitos naquela área constataram a instabilidade do local, ou seja, o morro pode ceder amanhã ou daqui a 20 anos. Nós não podemos precisar, mas aquele espaço é sim uma bomba-relógio”, afirma Mori.

Questionado sobre a possível incoerência nas informações passadas aos moradores, o secretário conclui: “Nossos engenheiros sabem o quanto aquele local é perigoso. O que vale é o que está no laudo e acho pouco provável que alguém que saiba da situação das encostas tenha liberado um documento favorável a permanência do morador sem que haja pelo menos uma contenção de encosta”.

  • (Foto: Henrique Pinheiro)

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