Decoro parlamentar na corda-bamba

Proximidade das eleições municipais e antigas rixas políticas prejudicam o ambiente da Câmara friburguense
sábado, 30 de abril de 2016
por Ivan Correia
Os ânimos vêm se acirrando na Câmara dos Vereadores de Nova Friburgo (Foto: Ivan Correia)
Os ânimos vêm se acirrando na Câmara dos Vereadores de Nova Friburgo (Foto: Ivan Correia)

O cotidiano da casa legislativa friburguense vem flertando com uma dinâmica no mínimo constrangedora, se não perigosa. Colegas de Casa há anos, o dia a dia dos parlamentares permite alguma descontração. A última sessão teve exemplos disso. Renato Abi-Ramia, ao se dirigir para a tribuna e defender um requerimento de informações, ouviu de seu colega Nami Nassif: “Vai lá, vovô, senta a mamona!”. Abi-Ramia, por sua vez, no passado, já brincou com Nami, dizendo certa vez: “A despeito das críticas que tenho ao prefeito Rogério Cabral, posso atestar sua sanidade mental. A do vereador Nami, não”. Ricardo Figueira também foi alvo de brincadeiras na sessão de quinta-feira. Ainda que aparentasse algum constrangimento, manteve a esportiva e respondeu com pleno decoro.

Equilíbrio delicado

O que parece causar certa frustração àqueles que compõem a chamada “assistência” (assessores, imprensa e espectadores das sessões da Câmara) são os excessos. Nesse contexto, há uma disparidade entre a atitude da Presidência e um humor que acaba cruzando a fronteira do politicamente correto e invadindo a seara do respeito às diferenças.

Sem levar em consideração o mérito de suas posições políticas, o presidente Marcio Damazio tem seu trabalho reconhecido, pelo menos do ponto de vista procedimental, até mesmo por alguns membros da oposição. Antes mesmo da implementação do Painel Eletrônico na Câmara, que mudou drasticamente a rotina dos vereadores, Damazio já enfrentava dificuldades para administrar os egos de seus colegas, bem como suas contendas políticas. Seja limitando deliberações feitas em momento inoportuno, “questões de ordem” mal utilizadas, vereadores se agredindo verbalmente ou até mesmo a lida com o público, Damazio vem consolidando sua reputação.

Durante uma votação na última sessão, o presidente chegou a cortar a fala de seu aliado Marcelo Verly, ex-líder de governo da Câmara, por razões de tempo. Na mesma votação, teve um entrevero sério com Zezinho do Caminhão. O vereador reclamou que Damazio tentou impor limite de tempo para os vereadores depois que alguns já haviam se pronunciado sem o mesmo limite.

Apesar do mérito regimental de sua colocação, Zezinho escalou: “Se cortar meu microfone, vou até o seu para terminar minha fala!". Damazio foi firme e cortou o microfone do vereador, passando a palavra para Joelson do Pote. Para consternação e preocupação dos presentes, Zezinho se levantou exaltado e se dirigiu para o lado de Damazio, que manteve a compostura e conseguiu apaziguar os ânimos.

Outro exemplo claro de conduta saudável aconteceu no dia 31 de março deste ano. Aniversário do golpe de 1964, manifestantes contrários ao impeachment da presidente Dilma Rousseff escolheram a data para ocupar a Câmara e realizar um protesto. Damazio parou a sessão, conversou com as lideranças e concedeu um tempo para que falassem em tribuna. Ao final, se dirigiu aos manifestantes, saudando a democracia e o respeito às diferentes opiniões, agradecendo a presença do grupo. Foi aplaudido.

Ironia amarga e "Partido do Anticristo"

Ainda assim, a sessão do último dia 28 de abril assistiu a episódios que consternaram muitos dos presentes. Cigano, vereador que se filiou recentemente ao Psol, se dirigia a uma sala em anexo para se encontrar com colegas de partido. O objetivo era deliberar com sua bancada uma emenda a anteprojeto em análise no plenário.

A caminho, ouviu uma insinuação de Nami Nassif: “O Psol vai lá ligar para o Jean Wyllys e perguntar o que é que faz”. Para espanto de membros da assistência, respondeu em amarga ironia, brincando a respeito da possibilidade da emenda “passar”, ou seja, ser aprovada em Plenário: “Psol? É só passar a mão na cabeça que entra...”, arrancando gargalhadas fartas de alguns colegas.

Quando da votação da emenda, após ser agredido verbalmente na fala de Zezinho do Caminhão, o mesmo Nami começou a desqualificar politicamente as bandeiras defendidas pelo Psol, partido de Zezinho, quando disparou: “O Psol é o partido do Anticristo!".

Antes mesmo do final da sessão, algumas pessoas procuraram o representante do jornal e reclamaram da conduta dos vereadores, chegando a questionar o próprio Nami pessoalmente. O Psol, por sua vez, considera entrar com uma representação no Conselho de Ética da Câmara direcionada a Nami, por sua qualificação do partido.

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