De um lado saque do FGTS, de outro, o preços dos remédios

Brasileiros gastam boa parte de sua renda com remédios e imprevistos relativos à saúde
sexta-feira, 03 de março de 2017
por Ana Borges
De um lado saque do FGTS, de outro, o preços dos remédios
A partir de abril, trabalhadores e aposentados, ativos e inativos, crianças e adultos, todo mundo vai gastar mais na farmácia. Pelas contas da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) os preços devem subir, em média, 3,4%. O percentual de reajuste oficial será divulgado no dia 31 de março pelo Ministério da Saúde, responsável por autorizar o aumento, liberado para ser praticado no início de abril. O percentual ainda depende de confirmação das estimativas para a inflação do mês de fevereiro, cujo índice ainda não foi divulgado oficialmente.

Medicamentos devem ter aumento de 3,4% a partir de abril
Segundo a Interfarma, a expectativa para a alta de preços dos remédios “é a média de três tipos de reajustes possíveis, a partir de três classes de medicamentos avaliadas pelo governo: remédios produzidos num mercado concentrado, produtos feitos em ambiente de média concorrência e aqueles com alta competição. O aumento dos preços deve ficar entre 1,63% e 5% nesses três faixas de produto, o que daria uma média de 3,4%”.

O presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma, que reúne os representantes da indústria farmacêutica), Nelson Mussolini, lembra que, apesar de terem tido um reajuste de 12,5% em 2016, os preços dos remédios ainda não foram recompostos, já que, nos últimos 10 anos, o aumento ficou abaixo ou foi igual à inflação. Dados do Sindusfarma mostram que, entre 2007 e 2016, o reajuste dos medicamentos autorizado pelo governo foi de 61,20%. No mesmo período, a inflação ficou em 79,28%.

Para o consumidor, esse dado pouco importa. Abaixo ou acima da inflação, o que conta para ele é que o salário ou aposentadoria, ou benefício, ou seja lá qual for a origem de sua renda, nenhuma delas aumentou nesse patamar.

Importante saber: enquanto no Brasil os impostos representam 33,9% do preço dos medicamentos, na França o percentual é de 2,1% e em outros países como EUA e Colômbia é zero. “A carga tributária sobre os remédios no Brasil é pornográfica”, reclamou Mussolini, em 2014, chamando atenção de autoridades e população pela contundência da afirmação.

O bolso furado do brasileiro

A mesma coisa pensa o professor aposentado Luiz Antônio Corrêa Brito, de 66 anos, ao saber da frase do presidente da Sindusfarma. Ele toma sete comprimidos por dia: dois ao acordar, dois antes do almoço, um (1) depois do almoço e mais dois antes de dormir. Todos de uso contínuo. Luiz é hipertenso, fez tireoidectomia, controla o colesterol e a retenção de urina para prevenir AVC ou enfarto. Ele faz parte da multidão de brasileiros que gasta boa parte de sua renda com remédios e sabe quanto paga de impostos.

“Por causa dos impostos, os preços dobram. Acho que vai chegar o dia em que não vou conseguir comprar todos os remédios que preciso. Já teve mês que eu ‘economizei’ comprimidos tomando dia sim outro não. Difícil aceitar uma coisa dessas diante de tanta corrupção, de toda a roubalheira que está vindo à tona e se alastrou pelo país. Procuro nem me aprofundar muito nessas notícias para não ficar mais doente ainda”, comentou, rindo de si mesmo.   

Beneficiária do INSS, Cirlene Rosa Matheus Cardoso, 58 anos, desembolsa em média 30% de sua renda em remédios. Diabética, tem problemas de coluna, convive com fortes dores e faz fisioterapia. Ela diz que tem sorte de conseguir uma parte dos medicamentos pelo sistema Farmácia Popular. Mesmo assim o reajuste vai apertar o seu orçamento.

“É sempre a mesma coisa, a gente nunca tem sossego. Meus dois filhos descobriram que têm um saldo razoável do FGTS, por exemplo. Isso daria um aliviada nas contas da família, mas aí vem essa alta e dá uma rasteira na gente. Nunca conseguimos planejar nada, é um susto atrás do outro, sempre tem aumento, quando não é uma coisa é outra. É um morde e assopra que não tem fim. Rezo pra não ter imprevistos, porque aí a gente fica mais apertado ainda”, revelou Cirlene.

Já os problemas do porteiro José Arlindo Ouverney, de 42 anos, são de natureza “nervosa”, e sobrepeso. “Tomo ansiolítico, sou nervoso, tenho problema pra dormir, dizem que sou mal humorado. Aí, o médico me recomenda uma dieta à base de frutas, verduras e hortaliças, carnes brancas e produtos com muita fibra, e eu tenho uma vontade danada de rir. Com os preços desse tipo de produtos, que custam os olhos da cara, como vou fazer? Isso é papo pra gente rica. Pobre não pode se dar a esse luxo não, meu bolso ‘tá sempre furado, vive vazio”, conta o moço, entre revoltado e debochado.

ALTAS

2007 - 1,49%
2008 - 3,18%
2009 - 5,90%
2010 - 4,60%
2011 - 4,69%
2012 - 2,81%
2013 - 4,59%
2014 - 3,52%
2015 - 6,00%
2016 - 12,50%
Acumulado: 61,20%
(Fonte: Sindusfarma)

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